Sérgio Cabral: 'Rodrigo Bacellar é um forte pré-candidato a governador'
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Gabriel Torres e Mário Sérgio Junior 22/03/2025 07:33 - Atualizado em 22/03/2025 07:33
Sérgio Cabral Filho
Sérgio Cabral Filho / Reprodução
“Rodrigo Bacellar de fato é um forte pré-candidato a governador”. A afirmação é do ex-governador do Rio por duas vezes e ex-senador, Sérgio Cabral Filho (MDB), que foi o entrevistado do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, dessa sexta-feira (20). Cabral analisou o tabuleiro político do Estado para 2026 e a ascensão o presidente da Assembleia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (Alerj), o deputado campista Rodrigo Bacellar, para ele forte pré-candidato à sucessão de Cláudio Castro. Além disso, abordou o crescimento político do prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, que considera estar trilhando caminho próprio. Por fim, falou sobre o período em que esteve preso. Sobre o assunto, ele destacou que “a prisão é um sofrimento. Só não é pior que a morte”.
Forte pré-candidato — “Vejo e ouço das pessoas que me visitam, que trocam ideias, que o Rodrigo de fato é um forte pré-candidato a governador. Claro que o Eduardo Paes tem um histórico de vitórias na capital, tem um histórico de duas derrotas no Estado, uma em 2006 contra mim, em que ele teve 3% dos votos em primeiro turno e também 18% contra o Wilson Witzel. Mas cada eleição é uma eleição. Por outro lado, eu acho difícil porque ele é prefeito da capital, ele agora declarou na campanha que não deixaria a Prefeitura”.
Cenário estadual — “O Cláudio Castro, pelo que eu li na imprensa, anuncia que sairá em alguma data, não sei qual a data. Mas até o prazo de 3 de abril, 9 meses antes do fim do mandato, 6 meses antes do pleito, como diz a lei. O Thiago Pampolha, vi ele começando em 2010. Se eu não me engano, foi a primeira eleição dele a deputado estadual, foi quando eu me reelegi governador. Tenho boa impressão dele, ele é um político jovem que soube ocupar os espaços, mas sem dúvida o Rodrigo Bacellar se afirmou. E eu conheço o Rodrigo há muitos anos. Seu pai, o Marcos Bacellar, é um querido amigo, foi presidente da Câmara Municipal, atuante, líder eletricitário, sindicalista, um homem de personalidade muito forte. E o Rodrigo soube absorver todo o cabedal do pai e, ao mesmo tempo, crescer na política estadual. Eu estava afastado, privado da liberdade, então não acompanhei de perto, mas pelos jornais que recebia e via ali o crescimento do Rodrigo diante de uma situação muito grave de crise do Estado, com a saída de um governador, a entrada de outro”.
Bacellar e Ceciliano — “E o papel que o Rodrigo jogou naquele momento junto com o André Ceciliano, que era o presidente da Assembleia, de buscar uma estabilidade política para o Estado, porque sem estabilidade, nossa casa não funciona, a nossa família não funciona, as empresas não funcionam e também as instituições não funcionam. Então, o Rodrigo ali acho que ganhou um papel de muita relevância, soube construir esse papel. A partir dali, da sucessão em 2022, quando o deputado André Ceciliano se candidatou ao Senado Federal, ele na sucessão da presidência da Alerj, naturalmente ocupou esse espaço, presidiu a Assembleia durante um biênio. E agora, recentemente, deu uma prova de enorme vitalidade política”.
Reeleição na Alerj — “A questão política é essencial, não é um produto que você põe na gôndola dos supermercados, agora vota em fulano ou vota em beltrano, você tem que ter exatamente os arranjos políticos. E o Rodrigo surpreende a todos, tendo unanimidade para a presidência da Alerj. Eu não consegui, fui presidente durante quatro biênios. Ele foi agora reeleito para o segundo biênio. Dos 70 deputados, sempre alcancei boas votações, sempre fui bem reconduzido, mas jamais tive unanimidade. Jorge Picciani também não, Paulo Mello, se você recuperar, todos os demais. Então é uma prova de grande vitalidade política, de grande consideração dos partidos políticos a ele, mesmo os de oposição ao governo do Estado, reconhecendo nele uma liderança significativa. Eu acho que isso foi uma demonstração de capacidade política, de diálogo, rara no momento em que os radicalismos, os extremos do país tendem a puxar o país para o para os campos opostos”.
Força política — “E o Rodrigo provou muito talento político nessa sucessão, na sua reeleição à presidência da Alerj. Então, passa a ser um nome, independente de estar ocupando o cargo A, cargo B, se ele vai suceder o Cláudio. Eu acho que ele já é um nome da política do Estado muito considerado para eventuais candidaturas majoritárias que se avizinhem”.
Pesquisa — “Acho que, primeiro, pesquisa tem que ser sempre muito respeitada. Como profissional de Comunicação, seja por trás das câmeras ou como candidato a algum cargo eletivo, eu sempre respeitei muito as pesquisas. Agora, a pesquisa da Quaest é uma fotografia do momento, é uma pesquisa quantitativa, em que você tem por trás a medição de conhecimento que as pessoas têm dos nomes, o recall, a chamada no inconsciente das pessoas dos nomes apresentados. E, portanto, você também tem que olhar isso dentro da quanti, mas tem que olhar também a pesquisa espontânea. Você tem a induzida e a espontânea, a gente verifica que na espontânea a redução é muito drástica”.
Recorte do momento — “Eu trabalhei como profissional de Comunicação e como político com diversas candidaturas a diversos cargos, E, repito, é uma fotografia do momento. Muitas vezes uma campanha se inicia, eu vi várias dessa maneira, em que aquele que é mais conhecido começa na frente. O mercado político, as pessoas que não têm a obrigação de acompanhar de perto as tecnicidades de uma pesquisa, acreditam que aquele nome é o favorito e depois se surpreendem com o resultado final em que aquele candidato que vinha ao longo, por exemplo, do ano ímpar, que é o nosso caso, 2025, ou até mesmo no primeiro semestre de 26, em primeiro lugar, acabar perdendo as eleições. Então, isso acontece em todo o mundo democrático, onde há eleições abertas, livres, diretas, que graças a Deus é o nosso caso”.
Saída de Paes — “Acho que ele está no 14º ano (como prefeito). Mas não é o 14º ano, é o mandato. No mandato, ele assumiu o compromisso, até porque não foram 14 anos seguidos e ele foi reeleito e disse que não sairia da Prefeitura para disputar o Governo do Estado, assumiu esse compromisso perante seus eleitores. Acho que isso também é um motivo de atrito. Outra questão é deixar a Prefeitura do Rio para o embate, ele não tem muita tradição no interior, não tem muita relação com os políticos do próprio Grande Rio. Não falo com ele há muitos anos, não sei o que ele pensa, converso muitas vezes com pessoas que giram em torno dele, mas acho que ele vai pensar muito antes de deixar o cargo de prefeito da capital para uma eventual candidatura ao Governo do Estado”.
PP e União — “Um fato recente que eu li na imprensa, é um fato do momento, que é a fusão (federação) do União Brasil com o PP. Pelo que eu vi, as bancadas já se reuniram, os presidentes estiveram juntos, o Ciro Nogueira do PP e o Antônio Rueda do União Brasil, e surgirá o maior partido do país. Então, é um fato novo no quadro nacional e nos quadros estaduais, o nascimento desse partido, podendo, inclusive, ter adesão de outros partidos. Há uma discussão no ar de outros partidos, mas, com certeza, União Brasil e PP, o que já se constitui essa fusão no maior partido do país”.
Wladimir — “O Wladimir se tornou um jovem político muito querido, muito respeitado. E as informações que eu tenho dele são exatamente de uma pessoa com muito êxito na Prefeitura. Mas não estou na cabeça dele, não converso com ele, mas acho que isso é mais um campo especulativo. Não sei dizer se ele deixaria a Prefeitura de Campos para uma eventual candidatura majoritária, seja ela governador, vice-governador, senador. São quatro vagas majoritárias esse ano, nós teremos dois terços do Senado exatamente como na minha eleição, em que me elegi senador e o Crivella também se elegeu junto comigo, em 2002. Nós teremos dois terços do Senado renovado e teremos eleição de governador e vice”.
Trajetória de Wladimir — “O que posso dizer, pelo que acompanho, é que o Wladimir é uma pessoa que realmente se constituiu com características próprias, com uma forma própria de fazer política. Sendo filho de pais que foram governadores, mas soube trilhar a identidade dele, como espero que o meu filho, Marco Antônio Cabral, que vou me dedicar à sua eleição a deputado estadual e já foi deputado federal, já foi secretário de Estado e tem o caminho dele próprio, tem a identidade dele e eu acho isso muito bonito. Que você tenha políticos com essa experiência, da própria casa e construindo a sua identidade”.
Caminho mais simples — “Claro que uma candidatura a deputado federal, não é que é mais fácil, é uma eleição difícil, 46 vagas. Mas ela é mais simples, vamos chamar assim, não mais fácil, menos complexa do que uma eleição majoritária. Eu sei bem o que é construir essa identidade no meu período ativo na política, porque eu vinha da capital e, aí, como presidente da Assembleia, eu construí. Fui presidente da Assembleia de 31 aos 39 anos de idade. E aí, foram quatro biênios, fui construindo uma relação com o interior do Estado, ganhando essa identidade. Depois, a minha eleição para o Senado, que eu fui o mais votado em, acho que, praticamente, as 92 cidades do Estado para senador”.
Expectativa eleitoral — “Eu vejo o Rodrigo Bacellar como um político que tem um canal de atuação em que ele permeia muito mais o Estado do que o Wladimir ou o Eduardo Paes. E fortalecido agora pelo resultado de sua reeleição a presidente. Então, se isso vai ser traduzido também em expectativa eleitoral, caberá ao próprio Rodrigo esse desempenho. O Tancredo brincava que melhor do que o poder é a expectativa do poder, bem da sabedoria mineira. Essa expectativa de poder hoje flui para o Rodrigo. Foi uma coisa que eu senti tanto na presidência da Alerj, quando fui candidato ao Senado, e principalmente quando fui candidato ao Governo do Estado. Isso demanda muitos trabalhos, demanda rodar o interior. O Eduardo é um prefeito da capital, ele não pode estar em Valença fazendo pré-campanha. O Rodrigo não só pode, como é legítimo, porque ele é presidente da Assembleia. Então, ele pode ter uma agenda estadual muito mais ampla nesse ano ímpar do que o Eduardo. Ele pode fazer uma agenda em todo o Estado com muita legitimidade, pelo cargo que ele ocupa. Já o Wladimir e o Eduardo estão cuidando das suas cidades”.
Washington Reis — “Nessa eleição de Duque de Caxias, ele provou muita vitalidade ao fazer o Netinho prefeito em primeiro turno contra o Zito, que era o nome da cidade. Isso foi uma prova de muita liderança. Tem feito um trabalho na Secretaria de Transporte para retomar de maneira digna para a população serviços que até eu deixei de legado, metrô, a Supervia. Então é um quadro que sendo candidato majoritário ou não sendo candidato majoritário, ele está no tabuleiro do primeiro time da política do Estado, com certeza”.
Prisão — “A prisão é um sofrimento. Só não é pior do que a morte. Quando eu me refiro à morte, me refiro a questões de saúde graves em que você está no leito de hospital. Então, do ponto de vista humano, independente da situação de cada um, é muito duro, muito duro mesmo. Eu estava vendo outro dia, essa semana, duas prisões equivocadas de pessoas homônimas, um homem e uma mulher, na mesma semana aqui no Rio. E o depoimento dessas pessoas que passaram, a senhora acho que passou quatro dias e o jovem passou três dias. E falando do que eles viram, de como é, é muito duro. E ao contrário do que se diria na ocasião, acho que fez parte processo, enfim, traumatizante, injusto lá comigo. Até eu me lembro que dentro da prisão eu vi essas duas pessoas dando depoimento sobre o que eles viveram e aí diziam: ‘Sérgio Cabral tem privilégio’. Nada. Eu com sete pessoas dentro da prisão, fechando às cinco da tarde e trancado o tempo inteiro, então é uma coisa muito desumana”.
Sem mágoas — “O país alcançou um nível de respeitabilidade das instituições, por mais que haja sacolejos, eu acho muito importante, então não tenho nenhuma mágoa do Judiciário. Acho que o judiciário brasileiro ele é complexo pela sua própria natureza e tem que ser assim. Acho que esse combate à independência do Judiciário é muito perigoso, mesma coisa o Legislativo. Você combater a independência do Legislativo, combater todas as prerrogativas do Executivo, esse equilíbrio de forças, o confronto, ele é natural, ele é da democracia. A democracia é quente por natureza. Ela gera conflitos, mas esses conflitos têm que estar no plano das ideias”.
Democracia — “E o que a gente não pode perder no Brasil é essa conquista, porque todas as vezes que a gente achou que ‘ah não, vamos chamar os militares para resolver’, deu o que deu. E hoje os militares têm uma consciência crítica, e eu diria que permeia as três forças. Convivi muito com oficiais das três forças, tive uma excelente relação com o Exército, com a Marinha, com a Aeronáutica. E eu não tinha dúvida que as Forças Armadas teriam esse comportamento que estão tendo de solidez, do compromisso com a democracia, porque tem uma geração de oficiais que entendeu que o papel das Forças Armadas é um papel bem claro na Constituição brasileira. E é lá que ele tem que ficar, e não intervir no processo decisório. Então, acho que sobre esse aspecto, o presidente Lula é um democrata”.
Clima de ódio — “Não carrego ódio no coração, não carrego mágoa. Acho que o ódio, a mágoa, o rancor pessoal, quando levado para o campo político, isso é muito ruim. Então, vira uma obstinação. Eu sou candidato por isso, para ferrar fulano, fora beltrano. Isso assim não é bom, não é salutar. Eu pelo menos nunca fiz política assim e, com todas as amarguras e tristezas que eu passei, sempre busco lembrar quem sou eu, a família que eu tenho, os pais, pai que já foi e a mãe que está aí e que me dão essa lição de vida. Então não é bom quando você vê palavras de ordem de ódio, que foi exatamente o que ocorreu nesse período que eu fui um dos alvos e que nesse momento no Brasil há esse climão. Esse clima de ódio é um elemento que atrai os radicais e, sobretudo, o fascismo”.
Transparência — “O judiciário brasileiro também está nessa linha da transparência. A gente acompanha muito mais o judiciário do que acompanhava no passado. A comunicação não estava nesse nível de tecnologia que nós temos hoje. Por outro lado, o ministro Alexandre Moraes ganhou muita relevância não foi porque ele quis, mas pelo cargo que ele ocupou num momento de muita tensão que foi em 2022, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Você tinha toda uma campanha de fraude, de urnas, de desmoralização do processo eleitoral e que ele ali teve uma postura muito digna, muito correta, de defender o processo eleitoral”.
Trump — “Donald Trump, eu conheci o Trump, ele me recebeu muito bem na Trump Tower enquanto empresário, isso há 13, 14 anos atrás. Mantive relações muito respeitosas com a filha dele, com a Ivanka Trump, que era o braço direito dele na ocasião na área privada, mas ele não é um democrata. Se puder ele vai constrangendo o judiciário, como tem feito nesses três meses confusos de governo Trump”.

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