Edgar Vianna de Andrade - O primeiro filme sobre Frankenstein
Temos entusiasmo e medo da ciência por se crer que ela ajudará a humanidade, mas, ao mesmo tempo, separou-se da religião e da ética. Todas as culturas desenvolvem ciência porque é necessário conhecer o mundo para viver nele. Os etólogos (estudiosos do comportamento animal) sustentam até que qualquer ser vivo, do uni ao pluricelular, precisa de alguma forma aprender a viver em seu meio. O conhecimento que as civilizações anteriores à atual globalização desenvolveram estava subordinado à religião e à ética. O saber dos seres vivos não vai além dos seus limites naturais. Uma ariranha nunca aprenderá a ser corrupta. No século XV e XVI, o
processo de globalização, ou seja, de expansão do ocidente capitalista pelo mundo, já havia começado, mas havia ainda medo de uma ciência livre de freios religiosos e éticos. Nos seus escritos, Américo Vespúcio revela um excesso de conhecimento adquirido em várias viagens pelo “novo mundo”, mas alertava que havia limite ao saber.
Temos entusiasmo e medo da ciência por se crer que ela ajudará a humanidade, mas, ao mesmo tempo, separou-se da religião e da ética. Todas as culturas desenvolvem ciência porque é necessário conhecer o mundo para viver nele. Os etólogos (estudiosos do comportamento animal) sustentam até que qualquer ser vivo, do uni ao pluricelular, precisa de alguma forma aprender a viver em seu meio. O conhecimento que as civilizações anteriores à atual globalização desenvolveram estava subordinado à religião e à ética. O saber dos seres vivos não vai além dos seus limites naturais. Uma ariranha nunca aprenderá a ser corrupta. No século XV e XVI, o
processo de globalização, ou seja, de expansão do ocidente capitalista pelo mundo, já havia começado, mas havia ainda medo de uma ciência livre de freios religiosos e éticos. Nos seus escritos, Américo Vespúcio revela um excesso de conhecimento adquirido em várias viagens pelo “novo mundo”, mas alertava que havia limite ao saber.
Com René Descartes, a ciência se liberta da religião e da ética. O filme “O outro lado da nobreza” (1995) retrata bem o clima ainda reinante na Idade Moderna quanto ao corpo humano. Ele era sagrado e não podia ser mutilado por qualquer cirurgia. No filme, um médico toca no coração de um homem cujo peito estava aberto por ferimento de guerra. Os colegas se espantam com a ousadia do médico. Ele estava transgredindo o sagrado. Ele estava profanando o centro da vida. Esse médico se movimentava no ambiente cartesiano.
Mas a ambiguidade diante da ciência continuou depois da revolução científica do século XVII. As pessoas se dividiam entre idolatrar e temer a ciência. O romance gótico “Frankenstein ou o moderno Prometeu”, de Mary Shelley, externa esse medo. Para os apressados, o monstro criado pelo Dr. Frankenstein, que acabou por receber o nome do seu criador, enquadra-se no gênero “terror”, como todos os filmes a que ele deu origem. Considero-o ficção científica tanto quanto os filmes que ele originou. Um médico reúne partes de cadáveres humanos e monta um corpo que ganha vida com a energia elétrica dos raios. Ele encarna a própria ciência e os males que ela pode
produzir. Ele tem boa índole inclusive. Era bom. Mas sente falta de pais, assim como uma criança gerada por espermatozoide de banco de esperma pode sentir. Ele se juga monstruoso, assim como uma criança vítima da talidomida ou da radiação nuclear. E tudo por causa da ciência. Ao ser destruído o monstro, a própria ciência é destruída. Vivemos esse dilema nos dias atuais com os frutos da genética, por exemplo.
produzir. Ele tem boa índole inclusive. Era bom. Mas sente falta de pais, assim como uma criança gerada por espermatozoide de banco de esperma pode sentir. Ele se juga monstruoso, assim como uma criança vítima da talidomida ou da radiação nuclear. E tudo por causa da ciência. Ao ser destruído o monstro, a própria ciência é destruída. Vivemos esse dilema nos dias atuais com os frutos da genética, por exemplo.
Talvez nem a própria Mary Shelley tivesse consciência do alcance do seu livro, que se tornou famoso. Ela era uma pós-adolescente que escreveu o livro numa aposta de quatro pessoas, inclusive seu marido. Só ela levou a aposta a sério. Assim, nasceu um dos mais populares alertas quanto à ciência descontrolada. O mesmo pode-se afirmar de “O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, de Robert Louis Stenvenson, conhecido como “O médico e o monstro”, publicado depois do romance de Mary Shelley, na segunda metade do século XIX.
Ambos foram muito popularizados por uma série de filmes. O medo expresso pelos dois livros tornou-se apenas um bom tema para o cinema. O primeiro filme sobre a história do monstro criado pelo Dr. Frankenstein data de 1910. Ele foi dirigido por J. Searle Dawley para os Estúdios Edison, dos Estados Unidos. Como o cinema ainda não contava com muitos recursos técnicos, a história tomou os momentos mais significativos do livro e os levou ao filme de celuloide. Ele foi produzido em três dias em Nova York.
Nos seus 12:20 minutos, ele retrata o dr. Frankenstein viajando para estudar; ele já formado promovendo pesquisas; a criação do monstro; seu retorno para casa; seu casamento; a chegada da criatura à procura do criador; sua aparição à noiva e finalmente seu desaparecimento ao entrar num espelho.
Os créditos são divulgados no final. O principal nome é o de Mary Fuller, que começou no cinema em 1907. Em 1910, foi contratada para o papel da noiva do dr. Frankenstein. Ela atuou em mais de duzentos filmes e encerrou sua carreira em 1917, antes da fase áurea do cinema. Mary morreu em 1973 e se tornou bastante popular por atuar em “What happened to Mary”.
Mas a figura do monstro de Frankenstein só se popularizou mesmo com o filme “Frankenstein”, dirigido por James Whale em 1931. Ele abriu a porta para uma série de filmes desdobrando a figura do monstro, que, no filme de 1931, foi representado por Boris Karloff. Vindo do cinema mudo, o artista se imortalizou.