Villa Maria reaberta ao público e à cultura
Matheus Berriel 17/06/2023 08:35 - Atualizado em 17/06/2023 10:35
Villa Maria passou por oito meses de reforma
Villa Maria passou por oito meses de reforma / Foto: Rodrigo Silveira
Após oito meses de reforma, a Casa de Cultura Villa Maria, em Campos, será oficialmente reaberta ao público neste sábado (17). Por mais que o jardim do imóvel tenha recebido alguns eventos recentemente, como o que ocorreu nessa sexta-feira (16), com apresentação do Coral da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), o casarão histórico ficou fechado para a reestruturação de toda a sua parte física, orçada em R$ 1,5 milhão e financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
— É uma alegria poder entregar para a cidade e para todas as universidades um patrimônio cultural desta importância. É um centro de grande importância do ponto de vista de diferentes ações culturais que sedia — afirma o reitor da Uenf, Raul Palácio.
O projeto foi assinado pelo arquiteto Yves Bittencourt. Segundo ele, por tratar-se de uma edificação histórica e com grande relevância arquitetônica, foram mantidos todos os aspectos e as estruturas do prédio. Além disso, o palacete recebeu nova estrutura de telhado, forros em gesso também novos, pintura interna e externa, além de atualização em toda a sua parte elétrica. Muitos itens hidráulicos também foram substituídos.
— Uma das grandes surpresas deixadas por esta reforma foi referente aos pisos, que são surpreendentes e chamaram toda a atenção, desde que foram iniciadas as raspagens e manutenções. Começamos a perceber que, além da madeira super nobre, inúmeros desenhos geométricos surgiram aos nossos olhos, revelando ainda mais a imponência que hoje ainda percebemos, nos remetendo a imaginar então o que deveria ser este palacete, com aproximadamente 820m² de área privativa e uma área total de 5.000m², enquanto era habitado pela Dona Finazinha Queiroz — destaca Yves Bittencourt.
Admirador da Villa Maria há muitos anos, o arquiteto tratou o projeto como uma realização pessoal. “Desde muito novo, sempre fui vislumbrado por este imóvel, e poder reformá-lo e conhecer melhor a história deste lugar é enobrecedor, um marco em minha trajetória profissional”, diz Yves. “Hoje, a casa ganha uma repaginação em sua cor, modernidade e muito requinte, com destaque para alguns dos seus inúmeros detalhes em dourado, também como forma de comemoração pelo então centenário do palacete, que completa este ano 105 anos”, destaca.
Um dos pontos da reforma se deu na troca dos azulejos, reproduzindo as artes dos originais. Essa parte foi encabeçada pela artista Júlia Santos, uma das profissionais da equipe de trabalho, que precisou se desdobrar para conseguir replicar azulejos já não mais existentes no mercado.
— Dada a natureza antiga e frágil da área danificada, foi necessário fazer algumas pesquisas e testes prévios para definir qual seria a melhor técnica e o material mais eficiente, considerando estética, durabilidade e mínima interferência nas partes originais — detalha Júlia, que levou cerca de quatro meses pesquisando e mais um para executar o trabalho. — Infelizmente, não consegui dados que pudessem auxiliar naquele tipo de restauração. Assim, depois de mais pesquisas e testes, eu reproduzi o desenho original, com um material resistente, simulando as mudanças que ocorrem com o passar do tempo, e em seguida pude iniciar o processo no local. No fim, apesar dos desafios que surgiram, o resultado excedeu as expectativas. Foi recompensador ver todos aqueles azulejos de volta ao que deveriam ser — complementa.
O sentimento de satisfação é o mesmo ressaltado pela assessora de Cultura da Uenf, Priscila Castro: “Desde a inauguração da Casa de Cultura Villa Maria, a Uenf buscou atuar de forma presente na gestão da casa para fins de atender aos objetivos propostos por sua antiga proprietária, a Dona Finazinha, bem como atender ao projeto de sociedade pensado por Darcy Ribeiro. Essa reabertura, após uma obra de reestruturação da infraestrutura, é um presente para as comunidades campista e uenfiana usufruírem desse patrimônio arquitetônico, histórico e cultural.”
Na noite dessa sexta-feira, alunos e funcionários que integram o Coral da Uenf apresentaram no Jardim da Villa Maria a nova versão do show “Em canto da Vila”. A apresentação foi um esquenta para a agenda deste sábado. A programação inclui encontro de desenhistas da comunidade Urban Sketchers; bate-papo com a escritora Ana Souza, autora do livro “Aventuras femininas na planície goitacá”; e a exposição fotográfica “Uma viagem pelo buraco da agulha”, todos a partir das 10h; apresentação da Lyra de Apollo, às 14h; e o espetáculo teatral “Parece que foi ontem...”, do Grupo Faz de Conta, às 15h. Durante o dia, também haverá a inauguração do Pequeno Museu Tecnológico e Histórico da Villa, lançamento do livro “Pontes: Fotografia artesanal, precária e de gambiarra”, e contação de histórias. Entrada franca.
— A Casa de Cultura Villa Maria é símbolo da relação entre a Uenf e a sociedade campista. Desde a sua inauguração, busca promover a integração da universidade com os diferentes setores da comunidade. É a partir da Villa Maria que artistas da cidade têm oportunidade de realizar suas primeiras apresentações ao público. Também é na Villa que muitas crianças de Campos participam dos seus primeiros bailes de Carnaval ou dançam em festas juninas. São inúmeros os relatos que envolvem a Villa Maria à memoria afetiva individual e coletiva dos moradores de Campos dos Goytacazes — finaliza Priscila Castro.
História — Com sua construção concluída em 1918, a Villa Maria foi assim batizada pelo industrial Atilano Chrisóstomo de Oliveira, numa homenagem à esposa, Maria Queiroz de Oliveira, a quem presenteou com o palacete. Obedecendo aos padrões de uma vila italiana de estilo eclético, o edifício foi projetado pelo arquiteto José Benevento, decorado em seu interior com azulejos italianos, mosaicos nos pisos das varandas e pinturas nas paredes da planta baixa. A construção está rodeada de um amplo jardim, com diversas árvores frutíferas.
A única filha do casal, Alice, faleceu antes dos pais. Sem herdeiros e sendo entusiasta da cultura, a célebre Finazinha de Queiroz, como era conhecida, decidiu doar a Villa Maria em testamento à primeira universidade pública que se instalasse em Campos. De 1979 a 1982, a casa foi ocupada pela Prefeitura. Mas, com a criação da Uenf, no dia 8 de dezembro de 1993, passou a funcionar como seu espaço cultural, representando uma união umbilical com a sociedade campista. O local guarda importantes acervos documentais (sonoros, audiovisuais, iconográficos, textuais e bibliográficos).
Fotos: Rodrigo Silveira.
  • Projeto foi assinado pelo arquiteto Yver Bittencourt

    Projeto foi assinado pelo arquiteto Yver Bittencourt

  • Villa Maria passou por oito meses de reforma

    Villa Maria passou por oito meses de reforma

  • Projeto foi assinado pelo arquiteto Yver Bittencourt

    Projeto foi assinado pelo arquiteto Yver Bittencourt

  • Projeto foi assinado pelo arquiteto Yver Bittencourt

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  • Villa Maria passou por oito meses de reforma

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