
É preciso reconhecer que o campista, em sua maioria, não valoriza sua história. A destruição sistemática do patrimônio histórico, o desconhecimento dos vultos, as datas importantes ignoradas, e tantas outras provas dessa desvalorização são evidentes.
Porém, apenas apontar dedos preconceituosos para os que não sabem quem foi Benta Pereira ou Nilo Peçanha, ou onde fica o Solar dos Airizes, não resolve. E pior: estimula o distanciamento das pessoas, e faz com que apenas um grupo restrito mantenha-se como um autoproclamado guardião do conhecimento histórico local.

Esses mesmos discentes precisam saber que uma mulher liderou um movimento revolucionário que mudou a história de Campos, em um tempo em que a participação política feminina era extremamente difícil. Precisam admirar Benta Pereira antes de saber que ela é de Campos, e que o hino da cidade faz referência à sua pessoa.
Existe uma máxima quando falamos em pertencimento e valorização de patrimônios: só é possível gostar do que se conhece. A obviedade da afirmação não elimina sua importância. Não é possível criar envolvimento e preservação histórica de algo amplamente desconhecido.
Os shows e eventos são parte importante do que chamamos de “política cultural” — mas estão longe de ser a sua essência. Os eventos devem ser a consequência de um trabalho de valorização de artistas e expressões locais, sob pena de trazer apenas fazedores de cultura estrangeiros para se apresentar.
Embora educação e cultura não sejam medidas por resultados e lucro (seus ganhos por vezes são aferidos de outras formas), pensar em subsistência a partir de expressões culturais locais é essencial. Eventos e festivais não são apenas formas de valorização, mas também podem ser usados como forma de oferecer retorno financeiro aos expositores.
A destruição das Casas Grandes
Campos dos Goytacazes é uma cidade de pelo menos 370 anos. Toda essa história deixou uma enormidade de patrimônio materiais e imateriais. Se nos atermos às construções, vemos em Campos duas expressões quase determinantes: os solares e as igrejas.

Os solares têm relação direta com os ciclos econômicos que a cidade sofreu. O gado e depois a cana-de-açúcar determinaram um tipo de moradia das elites econômicas locais. Era preciso demonstrar força e riqueza a partir de grandes casas, ou os solares, que também davam aos seus donos títulos de nobreza. A chamada “nobreza da terra”.
As construções religiosas trazem a história da presença da igreja católica na região, que veio com a missão de catequizar os povos originários e garantir a presença portuguesa na cidade que se constituía.
Apesar da beleza desses casarões e do simbolismo das igrejas, toda essa história também se constituiu com violência. Escravizados e indígenas eram explorados ao máximo para garantir que o “desenvolvimento” acontecesse. Como uma das características da colonização que tivemos por aqui, foi imposto todo tipo de apagamento das culturas locais originárias e das trazidas pelos escravizados.

Campos talvez tenha optado pelo abandono dessas construções por ter alijado a maioria de sua população de seus significados. As “casas grandes” possivelmente foram destruídas por terem se mantido assim com o passar dos anos.

Além de conscientizar, construções assim precisam hoje assumir usos opostos dos assumidos antes. O Solar do Colégio abriga o Arquivo Público de Campos atualmente, e já foi preparado para ser uma escola de cinema pela Universidade Estadual do Norte Fluminense - Uenf. Uma construção histórica servindo para democratizar o acesso à arte, cultura, história, memória e educação.
O Airizes passa por um processo de salvamento, depois de anos de abandono. E caso seja realmente salvo, deverá ter seu uso discutido com ampla participação social, para que o pertencimento aconteça da única forma possível: conhecendo. A partir disso, a criação de um museu ou centro de memória não deve ser fechado e elitizado.
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Edmundo Siqueira
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