Longevidade verde: livraria mais antiga do Brasil, em Campos, faz aniversário
Edmundo Siqueira 13/06/2023 09:50 - Atualizado em 13/06/2023 09:52
Longevidade. Se procurarmos no dicionário, ou buscarmos a etimologia, longevo se refere à durabilidade, a um tempo de vida maior que o comum — algo resiliente, se quisermos usar etimologias mais novas. Qualquer coisa que dure mais de um século é algo um bocado resistente, principalmente em tempos que a liquidez passou a ser regra até para relacionamentos humanos. Uma casa centenária, uma árvore que durou mais de cem anos, uma tartaruga que ultrapassou cento e cinquenta, uma senhora do mediterrâneo que viveu cento e quinze. Ao mesmo tempo que assusta, impressiona. Como resistiu tanto tempo? Como faço para viver também? Existe alguma fórmula ou encanto que permita que algo ou alguém viva mais?


Talvez aos mais jovens, ou a quem ainda, mesmo velho, não tenha percebido, o tempo não seja algo a se prestar atenção. Mas ele, o tempo, é um compositor de destinos, um tambor que rege todos os ritmos, como já definiu Caetano em oração a esse deus. Voltar ao passado ou prever o futuro sempre foi uma obsessão humana. Saber de onde veio e para onde se deve ir é a melhor forma de viver o que há no meio desses caminhos, que chamamos de agora. Sem a compreensão de nossos princípios, não saberemos nossos destinos — que nada mais é que um emaranhado de caminhos e direções seguidos previamente.
Ronaldo Sobral, atual proprietário da livraria Ao Livro Verde - com a família há mais de um século
Ronaldo Sobral, atual proprietário da livraria Ao Livro Verde - com a família há mais de um século

Em Campos dos Goytacazes, temos uma livraria que construiu sua longevidade. Uma longevidade reconhecida em todo Brasil, estampada como recorde, eternizada em romance de escritor famoso, citada na capa do jornal O Globo e orgulhosa de ter aberto suas portas em 1844 e nunca mais ter fechado. De ter mantido como princípio e destino o amor pelos livros.

Hoje, 13 de junho de 2023, a ‘Ao Livro Verde’ completa mais um aniversário. Ronaldo Sobral, atual dono da livraria mais antiga do Brasil, coloca no topo do bolo literário a centésima septuagésima quinta vela. Marca na porta de madeira da antiga Rua da Quitanda, número 22, mais um traço, usando algum estilete da papelaria. Prepara o café para formar mais alguns leitores, como faz desde que eles chegavam na loja de barco.
"José Vaz Correia Coimbra, anunciam ao respeitável público que acabaram de abrir sua casa de negocio para vender o seguinte: um variado sortimento de obras e mais pertences para escolas , bem como novelas, historias e romances", assim anunciava o jornal Monitor Campista, em 19844.

Resiliente? Longeva? Ao Livro Verde resiste, mas não sem as marcas da idade. Muitas livrarias sucumbiram pela era digital, pela morte anunciada como definitiva dos livros — algo que não foi e não será possível, mesmo com toda barbárie do mundo. Os livros resistem, assim como a Ao Livro Verde deve resistir. Os cheiros, as letras impressas que criam imagens mentais como nenhuma outra expressão artística, o barulho do esfregar do polegar e do indicador nas viradas de páginas, e a forma mais bela de eternizar passados e construir destinos parece ainda encantar consumidores.

Lei Áurea, em 13 de maio de 1888; a proclamação da República pelo marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889; a primeira Guerra Mundial, em 1914; a segunda, em 1939; ditadura militar; Nova República; junho de 2013; impeachments; 8 de janeiro de 2023. A livraria Ao Livro Verde resiste.

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