
O que foi tentado por Castillo nesta terça é o que a ciência política chama de “autogolpe”. Alguém investido de forma legal e democrática na presidência alega que não consegue governar em um Estado de Direito, que o congresso o persegue e que o judiciário está contra ele e o povo. Para isso, o governante precisa dissolver o parlamento, tornar impotente o poder judiciário e impor uma autocracia, onde só ele manda, onde apenas o presidente é o Estado.
A democracia do Peru agiu rápido e impediu que Pedro Castillo conseguisse seu intento. Foi destituído pelo Congresso, preso e teve asilo negado. A sua vice tomou posse, Dina Boluarte, e se tornou a primeira mulher presidente do país. O golpe de Estado de Castillo previa uma Assembleia Constituinte e tentou instaurar toque de recolher. Mas a democracia venceu.
Pedro Castillo é um professor peruano e líder sindical. Foi uma figura de destaque na greve dos professores de 2017. Concorreu à presidência pelo 'Peru Libre', partido de esquerda de base marxista, e teve uma vitória apertada contra uma candidata de direita, herdeira de Fujimori.
O partido de Castillo não hesitou em romper e condenar a ação golpista do líder. O Peru Livre entendeu o óbvio: golpe e autocracias não tem ideologia — não são de direita ou de esquerda. Um regime ditatorial pode ter qualquer coloração ideológica para o ditador.
No Brasil, o PT de Lula celebrou a vitória de Pedro Castillo, em 2021. O que não fez com Mauricio Macri, da Argentina, que é um político de direita. Ontem, quando Castillo tentou um golpe de Estado, Lula demorou a se posicionar, e quando o fez, em um comunicado oficial, iniciou dizendo que “é sempre de se lamentar que um presidente eleito democraticamente tenha esse destino”, mas que entendeu que “tudo foi encaminhado no marco constitucional”. Mas, em nenhum momento nomeou o que de fato foi: golpe de Estado.

O problema maior é que passamos os últimos meses sob o risco real de um golpe de Estado no Brasil. O que estava no radar de Bolsonaro era justamente subverter o Estado brasileiro: fechar o Supremo e governar com o aval dos militares.
O PT tem a obrigação — dada pelo momento histórico — de impedir ao máximo qualquer corrupção no governo, e de defender a democracia cotidianamente. A cultura democrática precisa ser reconstruída no Brasil, e para isso, definir o que é ou não um regime democrático é fundamental.
O que o Peru Livre tem a ensinar ao PT é que não se negocia com a democracia. De esquerda ou de direita, um ditador é sempre um ditador. Se relativizar autocracias em outros países, estará dando um sinal perigoso ao Brasil.
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Edmundo Siqueira
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