
Sexta-feira, antevéspera das eleições. O jogador Neymar publica um vídeo onde aparece sorridente, de boné, ao lado de uma mesa coberta de verde e amarelo, dançando ao som de um funk que dizia: “Tu vota vota e confirma, 22 é Bolsonaro!”.
Em outra rede social, a atriz Bruna Marquezine — que foi namorada do jogador — , fazia uma cara de nojo ao fazer o gesto de uma “arminha” com uma das mãos, ato contínuo, inverte o aceno e sorri, fazendo um “L”, em referência a Lula.
Neymar é um ídolo popular. Em um país que tem no futebol seu principal esporte, ele representa o sonho de qualquer garoto das periferias das grandes capitais do Brasil ou do interior. A cara de nojo de Bruna foi corroborada com uma série de ataques ao jogador, logo depois que ele publicou o vídeo com sua escolha eleitoral, onde ele era acusado de sonegação de impostos.
Não resolveu. Embora seja um crime, para um garoto que tem no Neymar um espelho, sonegar impostos não faz a menor diferença. A probabilidade dele ter atraído eleitores para Bolsonaro com o vídeo é exponencialmente maior do que Lula conseguir mais algum eleitor com a cara de nojo de uma atriz elitizada.
As eleições de domingo foram um soco no estômago para quem ainda nutria esperanças que o bolsonarismo estava enfraquecido. Não, não está. Talvez esteja ainda mais forte que a onda que o criou.
Senadores pró-Bolsonaro? 15 eleitos. Governadores? Dos 27 eleitos no primeiro turno, 20 são bolsonaristas. Mais uma penca de deputados estaduais e federais. O seu partido, PL, elegeu a maior bancada da Câmara Federal.
Mesmo que Lula seja eleito no segundo turno no próximo dia 30, governará com um Congresso hegemonicamente de direita. Para quem atua no hegemonismo imposto aos partidos de esquerda, precisará provar do próprio veneno. Se for eleito.
Embora Lula tenha terminado na frente, faltando menos de 2% para ter liquidado a fatura ontem (2), foi uma derrota política considerável ao lulopetismo. E ainda trouxe a reboque o descrédito dos institutos de pesquisa. Pelos números que Bolsonaro apresentou, a campanha de “voto útil” capitaneada pelo PT acabou por o favorecer. Boa parte do eleitor de Ciro optou por ser “útil” votando em Bolsonaro.
“A culpa é do Ciro!”, diria um petista procurando entender. “O eleitor de Bolsonaro é burro e fascista!”, pensou outro. Além de errado, esse pensamento é elitista. Quem supõe que quase metade do eleitorado brasileiro é incapaz de qualquer senso crítico, ou que adere a ideologias assassinas, continua sem entender nada.
As esquerdas e o socialismo liberal brasileiro se refugiaram nas universidades, se distanciaram do brasileiro médio, deixaram de falar a língua do povo e perderam significativo espaço para igrejas neopentecostais. E assim como Bruna Marquezine, fazem cara de nojo quando precisam descer de seus apartamentos no Leblon e conversar com alguém que ouse pensar diferente.
O resultado acachapante de Freixo para governador demonstra como o eleitorado rejeita a soberba e o distanciamento de uma esquerda refugiada. Uma esquerda de “feira de arte” e “festa literária” que pregam diálogo e diversidade, mas tem ojeriza ao homem do campo que se vê em Bolsonaro e sequer sabe o que é fascismo. Diálogo mesmo, só entre os iguais, só vale falar para os mesmos.

Enquanto o representante da “esquerda do Leblon” cumpria seu ritual, os garotos da periferia estavam compartilhando o vídeo do Neymar, representantes do agronegócio se ressentiam em ser chamados de fascistas e desmatadores pelos petistas, mesmo os que cumprem a legislação ambiental e produzem, e senhoras e senhores da favela ao lado recebiam vídeos dizendo que Lula iria fechar igrejas e templos. Logo o único lugar onde eles se sentiam parte de algo, onde eram ouvidos e poderiam ser úteis.
Com abstenção na casa de 21% e o bolsonarismo demonstrando muita força, acreditar que o segundo turno está resolvido é tão absurdo quanto achar que a culpa é da periferia e do agro, e não do Leblon.
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Edmundo Siqueira
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