A estação meteorológica instalada em Alegre registra com segurança as temperaturas da região em ela se ergueu. Meu conhecimento empírico desconfia desses registros pontuais. Em termos de fatores naturais, o sul do Espírito Santo está sujeito a altas temperaturas. Nas cidades de Marajó, na zona equatorial, as temperaturas não são tão intensas. Nas praias do sul do Espírito Santo e do norte do Rio de Janeiro também. O litoral é varrido pelo chamado vento nordeste, que as refresca. Não há, nessas praias, obstáculos ao vento.
Em direção ao interior do sul capixaba e ao noroeste fluminense, as temperaturas, no verão (e mesmo fora dele), elevam-se. Por quais motivos? O relevo é antigo. As montanhas despontam por toda a parte e bloqueiam a ventilação. A radiação solar é intensa. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Toda essa zona serrana era coberta por florestas no século XVIII e ainda no século XIX, como registram Manoel Martins do Couto Reis para o norte do Rio de Janeiro (1785), Maximiliano de Wied-Neuwied, no litoral e em parte do interior entre Rio de Janeiro e Salvador (1815), Auguste de Saint-Hilaire, nas costas entre a cidade do Rio de Janeiro e o norte do Espírito Santo (1818) e Manoel Basílio Furtado, nas bacias dos rios Itabapoana e Itapemirim (1885). Todos eles registraram que essas florestas (na verdade, parte da Mata Atlântica) já estavam sendo abatidas. Alguns lamentando o desmatamento. Outros, meio indiferentes. Outros, entendendo que o desmatamento fazia parte do progresso.
Essas matas funcionavam como sistema refrigerador do ambiente, como controlador da erosão, como retentor de água de chuva e como regulador do sistema hídrico. Florestas – sempre vale a pena lembrar – absorvem gás carbônico e produzem oxigênio, refrigeram o ambiente, conservam água no solo e subsolo e regulam o regime dos rios. Com florestas, ocorrem cheias, mas não enchentes. Com florestas, ocorrem temperaturas altas, mas não insuportáveis. Com florestas, a biodiversidade animal se torna mais rica. Os micro-organismos não se disseminam com facilidade. Sem florestas, ocorre o oposto disso tudo.
Para completar, o desmatamento é seguido de lavoura, pastoreio e... núcleos urbanos. Eles impermeabilizam o solo e criam obstáculos ao escoamento superficial das águas. As matas ciliares são removidas, as margens de rios são ocupadas por moradias (geralmente pobres), a água é poluída por esgoto. O ambiente se empobrece no empenho de se promover o “desenvolvimento” da região.
E há um fator novo nem sempre levado em consideração: o planeta está se aquecendo em função de atividades humanas dentro de uma economia de mercado, principalmente a queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural). Reunindo fatores locais com fatores planetários, o resultado é catastrófico: chuvas torrenciais, transbordamentos, alagamentos, avalanches, destruição de bens materiais, morte de pessoas, queda de árvores urbanas, prejuízos públicos e privados. São Paulo está aí como exemplo. Pode ser considerada a capital brasileira das mudanças climáticas.
Quem percorreu o sul do Espírito Santo nos três primeiros meses de 2025, enfrentou calor. O corpo não percebe muita diferença em Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, Mimoso do Sul, Rio Novo do Sul, Castelo, Alfredo Chaves, Burarama etc. De dia, sol. De noite, calor liberado pelo solo. As montanhas sem cobertura florestal retêm a ventilação natural. As cidades se transformam em ilhas de calor.
Não explica muito bem esse calor a proximidade de Alegre ao trópico de Capricórnio. Ou explica um pouco, pois Vargem Alta, Castelo, Faria Lemos, Carangola, Caiana, Porciúncula, Varre-Sai, Natividade, Itaperuna, Muriaé, São Fidélis têm o pé em cima ou perto dessa linha. E o outono, o inverno e a primavera são estações em extinção.
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