Dr. Buchaul defende parceria público-privada para melhorias na Educação
Aluysio Abreu Barbosa, Edmundo Siqueira, Cláudio Nogueira e Gabriel Torres - Atualizado em 07/09/2024 08:17
Dr. Buchaul no Folha no Ar
Dr. Buchaul no Folha no Ar / Rodrigo Silveira
O candidato a prefeito de Campos pelo Novo, Dr. Buchaul, foi o primeiro prefeitável de Campos a abrir a série de entrevistas do programa Folha no Ar, na rádio Folha FM 98,3, nessa sexta-feira (6). Buchaul apresentou suas propostas, como a defesa pela parceria público-privada para as melhorias na infraestrutura da rede municipal de ensino. Ele também destacou que Campos precisa fazer as pazes com ela mesma e identificou que um dos maiores problemas é o município não se aceitar como é, como suas vocações para a agricultura e a necessidade de revitalização do Centro. O candidato também defende geração de empregos fora da Prefeitura para acabar com esse dependência, além da criança de um fundo soberano que sirva como “um colchão amortecedor” para os impactos de eventuais crises. Dr. Buchaul também falou sobre o Legislativo e apontou a comunicação como a maior virtude do prefeito Wladimir Garotinho.
Diferença entre gestões — “O governo Wladimir tem a benesse de suceder Rafael. Quando você sobe ao palco sucedendo alguém muito grande, é difícil. Suceder no palco alguém que teve dificuldades, um governo com muitas dificuldades e mal avaliado, é mais fácil. Então ele acaba tendo muito benefício em relação a isso e comparando sempre o governo dele com o governo de Rafael. E aí, de fato, números muito mais favoráveis a ele, inclusive de orçamento. O orçamento de Rafael era muito menor que o orçamento que Wladimir tem para executar. Fora isso, um grupo mais experiente, que é um grupo que já estava no governo do pai dele, um grupo que tem pessoas que já estavam no governo da mãe. Então, pessoas que já tem experiência de gestão, que ele trouxe de novo para dentro da Prefeitura e que continua administrando com ele agora. Pegou um governo que realmente tinha salários atrasados e colocou em dia. Ele começou a executar obras na cidade que há muito tempo estavam sem ver nada, mesmo de zeladoria, e conseguiu um feito muito grande em relação a Rafael na questão da comunicação. A comunicação de Wladimir é muito mais eficiente que a comunicação de Rafael. Durante o período de crise, a comunicação de Rafael optou por esconder o prefeito e esperar que a tempestade passasse. Isso foi péssimo para ele. E Wladimir tem, até pelas condições muito mais favoráveis também, uma exposição muito maior e uma comunicação muito eficiente. Ele consegue conversar e dialogar com as pessoas, consegue estar nas ruas o tempo inteiro e comunicar até o que a Prefeitura não faz. E aí vem, eu acredito, os erros nas opções da Prefeitura. Por exemplo, nós vimos asfalto ser refeito em lugares que não precisavam. Em outros lugares que há necessidade, não foi feito”.

Infraestrutura — “A estrada, que é uma estrada municipal, de Santa Bárbara até Mata da Cruz não teve um tapa-buraco. É péssima. Alguns outros lugares, bairros do município, situação muito ruim. Lagoa de Cima péssima. Os alagamentos da cidade não foram tratados. Isso é uma questão prioritária para a cidade em termos de infraestrutura. Os hospitais continuam tendo queixas. Inclusive, pesquisas mostram que a Saúde, apesar dos investimentos realizados, continua sendo uma das maiores queixas. É um objeto onde as pessoas dizem que a Prefeitura avançou muito, e ao mesmo tempo é objeto das principais queixas. A questão da infraestrutura no entorno da Lagoa de Cima, invasão, despejo de esgoto, despejo de lixo. A cidade precisa de muita coisa e a prioridade ficou no Centro, como a realização de asfaltos, onde os bueiros não foram nivelados, isso é uma fonte de reclamação constante e me parece que nem serão. Só fizeram ali onde foi a corrida de São Salvador para as bicicletas não caírem, o restante continua um problema”.

Erros — “Então, a gente tem erros na condução do governo, erros na condução da cidade. O ranking de competitividade dos municípios que saiu antes de ontem coloca a Campos na posição 246 entre as 444 maiores cidades do país, que são os municípios com mais de 80 mil habitantes. No estado do Rio de Janeiro é o 14º de 32, e o ranking traz os problemas. Uma das variáveis que prejudica Campos é saneamento básico. A gente tem um bom fornecimento de água potável, mas o saneamento, tratamento do esgoto é ruim. Só recolhe 86% e trata 70%. Então a gente tem 30% do esgoto que ou não é recolhido ou é recolhido e não é tratado. Isso gera problema para o meio ambiente. A gente tem problema na taxa bruta de matrículas em ensino técnico. Nós formamos pouca mão de obra técnica. Nós temos problemas na Saúde com acesso à atenção básica, com vacinação. Isso tudo impacta nesse ranking, que é entendido como um ranking de atratividade para negócios. Então a gente atrai menos negócios, gera menos empregos por conta desse conjunto de variáveis ruins”.

Atrasos na Saúde — “Passa em frente ao Ferreira Machado, você tem ali uma pele de vidro, aquela obra feita na frente do Ferreira Machado. É bonito, quem está olhando de fora vê aquilo. E a propaganda do governo é muito eficiente, ela propagandeia muito isso. Como o HGG também. E vem do governo Rafael com muitas unidades fechadas e a Saúde muito prejudicada. Também por conta de pandemia. Sai de pandemia no governo Wladimir, ele começa a fazer essas obras, algumas com suporte do Estado, outras não, mas, enfim, vem fazendo essas obras e isso acaba contabilizado para ele na cabeça do eleitor, seja lá quem tenha financiado. Só que para o usuário do sistema de saúde ainda está muito ruim, porque tem dificuldade para marcar consulta especializada, tem dificuldade para realizar os exames, tem uma fila de espera de cirurgia enorme, tem uma fila de hemodiálise enorme. A hemodiálise beira de leito custa sete vezes mais que a hemodiálise clínica. A Prefeitura está fazendo um hospital de hemodiálise, uma clínica de hemodiálise pública. Só que até essa clínica de hemodiálise pública ficar pronta, pelo histórico que a gente tem de velocidade nas obras públicas, esse cara vai levar anos na fila de hemodiálise ou vai ter que esperar alguém morrer, ou alguém fazer um transplante, ou uma vaga em outra cidade. Entretanto, é possível abrir vagas nesses hospitais, que fazem hemodiálise hoje”.

Governo bem avaliado x favoritismo — “A fratura nessa correlação só vai acontecer demonstrando os erros do governo, obviamente, e demonstrando as opções que o governo faz, as escolhas que ele faz na hora de decidir para onde vai o orçamento. Porque é aí que está a questão de o que vai ser atendido. Vai ser atendido o problema do transporte? Vai ser atendido o problema da saúde? Vai ser atendido o problema do asfalto? É nessas preferências, nessas decisões do governo mostrar que a decisão do governo está distante daquilo que é a decisão do povo. A prioridade do governo está distante da prioridade do povo. Por isso, a permanência de problemas ao longo do tempo. Por isso, as pessoas reclamavam de transporte com Rafael e continuam reclamando agora. Por isso, as pessoas reclamavam de saúde com Rafael e continuam reclamando agora. Porque a prioridade do governo está em um lugar onde a prioridade do povo não está. As pessoas precisam ver isso. E, às vezes, para que o povo veja aquilo, mesmo que está muito claro ou está muito diante dos olhos dele, mas não está claro, é preciso que alguém aponte. Aponte e discuta, que é o que a gente faz agora no período da eleição”.

Projeção ao Legislativo — “No Novo, nós montamos nominata do jeito que nenhum outro partido monta em Campos. É uma nominata que não tem R$ 1. É dificílimo montar nominata. Quem já montou, sabe o quanto é difícil, mas conseguimos montar uma nominata, conseguimos cumprir a cota, com uma folga, inclusive. Achamos que é importantíssima a participação feminina na política. Isso é uma coisa que a gente prioriza dentro do partido. O partido Novo cumpre as regras eleitorais, nunca houve caso de descumprimento. E não bastasse isso, é preciso que essa participação seja estimulada. Hoje eu acho que o que mais desestimula a participação feminina na política é a violência política. Em ataques, inclusive, como já aconteceu aqui em Campos há pouco tempo. Isso é muito mais difícil para a mulher lidar com esses ataques que para o homem. Isso as afasta da política. E a representação feminina na Câmara de Vereadores vai surgir a partir do momento em que os eleitores se sentirem representados pelas candidatas que se colocarem. Não adianta também forçar uma representatividade onde ela não existe. Essa exposição negativa da política faz com que ela se afaste. Fora os ataques mesmo, de xingamentos e ofensas pessoais, levantar dúvidas sobre a honra e tudo mais. Se fosse somar a projeção de todo mundo, a gente ia passar de noventa vereadores na Câmara. Mas eu acredito que a gente faça um”.

Investimento na Saúde — “Campos gasta muito com Saúde, gasta quase R$ 1 bilhão. Não chega a 1 bi, mas é próximo disso. O valor é muito alto. E aonde esse recurso vai? Está tendo fiscalização, de fato, da aplicação do recurso? Os hospitais estão realmente executando o serviço que está sendo faturado? Isso precisa ser visto. E se está sendo executado, está sendo executado com eficiência? Porque a eficácia do serviço é importante para não ter retrabalho, porque o retrabalho é caro, para você não ter serviços prestados sem resolutividade para o paciente. Os pacientes estão entrando no Ferreira Machado e tendo resolutividade para não precisar recorrer à rede contratualizada? Estão entrando no HGG e tendo resolutividade para não precisar recorrer à rede contratualizada? Ou o HGG e o Ferreira Machado estão se tornando casas de passagem, onde o paciente politraumatizado, por exemplo, entra estabilizado e encaminhado para o hospital contratualizado para cirurgia. Então tudo isso precisa ser visto. Não dá pra expandir o gasto indefinidamente, o orçamento é limitado. E a gente precisa tomar esse cuidado com o recurso público, porque não vire um ralo. Na questão da regionalização, Campos recebe pacientes de toda a região”.

Propostas para a Saúde — “Campos é um município da região com quase 500 mil habitantes, com um maior orçamento. A gente precisaria de uma compensação maior, que dependeria de uma tabela SUS atualizada e melhor. Ou a gente passar a contar no município, que a gente hoje não tem, com hospitais estaduais ou federais. Todo mundo que é referência, ele acaba assumindo a responsabilidade por aqueles que não são referência. São João da Barra, por exemplo, tem um orçamento crescente agora de ISS, que é um tipo de imposto interessante para o município, por conta do Porto do Açu. Mas a Saúde de São João da Barra, toda média e alta complexidade é terceirizada com Campos. E para um município pequeno ter no seu principal projeto de Saúde ambulâncias, é muito mais fácil do que ter um hospital”.

Telemedicina — “Eu estive com uma pessoa no Santa Rosa, tem uns 15 dias, e ela está 6 meses esperando um cardiologista. Uma das coisas que eu pretendo fazer é implantar a telemedicina para gente resolver, pelo menos reduzir essa quantidade, esse tempo de fila, de espera pra consultas especializadas. Hoje, quando você faz um exame numa clínica privada, um exame de imagem, o laudo já é feito por um médico no Rio, São Paulo, Belo Horizonte. E a telemedicina é uma realidade, ela já é autorizada, existe lei regulamentando a telemedicina. E você pode ter o médico do Saúde da Família atendendo o paciente e fazendo uma consulta conjunta com um especialista remotamente, que fica mais fácil para você contratar em mercados onde há oferta maior de especialistas. Aí, então, identificada a necessidade do atendimento presencial, por um procedimento, por algo mais delicado, esse paciente ser encaminhado para o atendimento presencial. Isso esvazia as filas e torna mais fácil para o paciente que não precisa se deslocar. Mas, para isso, a atenção básica, Saúde da Família, precisa estar atendendo o município inteiro. Em Campos, só atende 42% da população”.

Educação — “O Ideb de Campos realmente avançou, pouco, mas avançou. Você tem uma questão de cálculo ali, mas que não é suficiente para explicar o avanço. Então, de fato, houve avanço. Pequeno, mas houve. Muito aquém do que é necessário, porque 5,4 ele deve uma nota muito baixa. Você olha pra Miracema, 7.9. ‘Ah, mas Miracema é um município pequeno, a Educação é algo mais próximo do cidadão e tal’. Joinville foi 7,8. Joinville é maior que Campos e tem um orçamento público menor. Então, Campos está numa situação ruim no Ideb. Se você compara com Niterói, é ruim. Se você compara com Vila Velha, é ruim. Então, a situação de Campos é ruim no Ideb. O que a gente entende como necessário para melhorar e como sendo um caminho para melhorar? Você tem várias políticas públicas no Brasil de educação bem sucedidas, estou citando Joinville, estou citando Miracema, você tem Sobral, que historicamente tem uma política pública bem aplicada na questão da educação. E a gente tem alternativas que precisam ser executadas de fato. Primeiro, estruturação das escolas. Campos tem quase 240 escolas municipais com infraestrutura muito precária. Não tem sala de professores, não tem banheiro, não tem material de suporte para os professores trabalharem. Os professores não têm armário, não têm sala de apoio, não têm segurança. Foi noticiado há pouco tempo uma apreensão de grande quantidade de drogas numa escola municipal. Então assim, o professor está numa panela de pressão para conseguir realizar o trabalho dele. A gente precisa oferecer educação continuada, oferecer infraestrutura, oferecer segurança para que o professor possa executar o trabalho dele bem feito. Como que a gente pensa em oferecer isso? Através de parceria público-privada com edital, onde a gente contrate grandes redes de ensino, grandes empresas que atuam na área de Educação, para que elas apliquem isso nas escolas e de forma mais veloz na manutenção. Não precisa esperar seis meses para trocar uma fechadura, trocar um vaso sanitário quebrado. Ou não precisa fazer um concurso público para contratar um segurança, porque quando esse segurança conseguir ser contratado talvez o problema da segurança não exista mais, pode ter sido alguma coisa pontual. Então a agilidade no atendimento às demandas é maior pela empresa privada, e juntar isso ao poder público. A gente sintetizou isso numa frase, que é para a pessoa ter escola pública e gratuita com qualidade de escola particular”.

Transporte — “Vamos falar dos terminais especificamente. Por que foi colocado aquele terminal no CPRv, em Donana? Qual a lógica daquele terminal? Ele não é perto de nada e ele está no meio do caminho entre um grande ponto de origem de passageiros, que é Goitacazes e Donana, e o destino deles. Por lógica, esse terminal tinha que ser perto do Hospital São José e não ali onde ele está. E com os outros dois terminais acontece a mesma coisa. Eles foram colocados, parece que não houve um estudo, uma lógica. E me parece que foram colocados mais para atender pedido de permissionário de van e de empresa de ônibus, do que para atender o cidadão. Parece que houve uma briga ali do terminal mais para lá ou mais para cá, para atender onde o ônibus queria chegar e aonde a van queria chegar. Foi um cabo de guerra, um puxou para lá, outro puxou para cá, achamos o lugar do terminal. E o cidadão foi esquecido nesse cabo de guerra, nessa lógica”.
Propostas para o setor — “Campos é uma cidade extensa e com uma população grande. Não dá para pensar o transporte público de Campos sem pensar em ônibus. Não dá para as pessoas ficarem vindo do Farol para Campos, em pé, numa van, que não é fiscalizada, que na maior parte não tem nem documentação em dia, porque não fiscalizam nada, com motoristas que só Deus sabe se tem habilitação. Esses equipamentos não tem seguro. Houve um acidente com uma que caiu na Baixada, inclusive, tombou. Se você parar na rua, em Campos, você vai ver corrida de van. É van pelo acostamento, é van na contramão, é van ultrapassando sinal fechado. Isso não pode acontecer. E o nosso projeto, é sim, estruturar linhas tronco e linhas alimentadoras, porque isso é importante pra cidade, isso é um bom projeto. Mas essas estações não podem ser na forma como estão os terminais colocados. Precisa ser um sistema parecido com o BRT, mas é o BRS, que é um sistema que usa calha compartilhada. O BRT usa calha segregada. Do Farol a Campos, por exemplo, em cada uma dessas localidades ter uma estação que seja capaz de receber passagem antecipada, para facilitar embarque e desembarque, com acessibilidade. E ali ter veículos maiores, que são ônibus, de preferência ônibus maiores do que o que nós temos, para facilitar esse deslocamento e diminuir o trânsito, inclusive. Porque onde circula um ônibus maior, um ônibus de 120 lugares, por exemplo, quantas vans teriam que passar pelo mesmo lugar ou ocupar o mesmo ponto? Isso facilitaria. E as vans viriam de onde? Do Espinho, de Beira do Taí, em lugares onde você não tem um fluxo tão grande de passageiros. Onde tivesse fluxo grande de passageiros, um ônibus maior. Você teria um sistema tronco-alimentador com mais estações. E a nossa ideia é dividir a licitação em três etapas, em três partes. Operação dos ônibus, operação da bilhetagem e operação das estações de forma separada”.

Segurança — “A gente tem que pensar a segurança dessa forma maior, enxergando a integralidade do problema. A gente precisa adotar no urbanismo uma arquitetura que previna crimes, isso existe. Por mais que possa parecer estranho, existem medidas que na arquitetura inibem a incidência de crimes. A gente precisa reduzir imóveis abandonados, a gente precisa melhorar a iluminação em algumas áreas que tem problema de iluminação. A gente precisa usar a guarda municipal de forma mais ostensiva presente nas ruas. E até tem um episódio que aconteceu comigo, interessante. Estava em um grupo de oração no Centro, ali na praça Batalhão Tiradentes, onde o rapaz que trabalhava na igreja foi esfaqueado por um casal em situação de rua, que depois foi detido em Guarus. Eu passei lá minutos depois. Uma situação terrível, e que gera uma insegurança muito grande, que está em um dos problemas do Centro.E aí um carro da Guarda Municipal parou ali, por iniciativa do guarda, ele viu que estava acontecendo o grupo de oração e parou na praça Batalhão Tiradentes e ficou ali na porta esperando. E isso traz uma sensação de segurança muito maior, por mais que a Guarda Municipal não seja Polícia. Isso traz sensação de segurança, isso melhora, então a Guarda Municipal pode ser usada, ainda que ela não tenha sido armada nesse período, ainda que tudo isso tenha acontecido. Fora isso, o município pode atuar ajudando no regime adicional de serviço, que é o que o Segurança Presente usa para aumentar o efetivo. Presença e patrulhamento ostensivo. Quanto mais degradada uma área pública, mais incita a violência essa área. Então uma área abandonada, ela incita a violência, ela incita o depósito de lixo, ela incita a degradação e o vandalismo, a gente precisa cuidar disso. E aí tem os imóveis abandonados que precisam ser abordados. É um tema complexo, mas o município precisa assumir a sua responsabilidade. E no caso específico das pessoas em situação de rua, a Assistência Aocial do município tem que ter uma atuação mais permanente, mais efetiva, em cima dessa questão.

Patrimônio histórico — “O município precisa querer, os governos municipais precisam querer, esse é o primeiro ponto. E parece que eles não querem. E por que eu digo que parece que eles não querem? Porque os prédios que estão sob a guarda do município estão caindo. O Museu Olavo Cardoso está caindo, aquele prédio na esquina do Jardim São Benedito caiu, virou ruína. Então, o município aparentemente não quer, ele não tem esse interesse. E precisa enxergar e encontrar, junto aos agentes culturais e aos agentes econômicos que estão envolvidos no Centro, a viabilidade econômica desses prédios. Eles precisam ser restaurados para que eles sejam parte do atrativo do Centro e que gerem viabilidade econômica, tanto para sua manutenção, com também a sensação de pertencimento. O campista precisa gostar da cidade, precisa amar a história da cidade, precisa amar essa construção que nos trouxe até aqui. E aí construção não só com sentido de prédio, mas tudo aquilo que nos traz até o momento presente. E esses prédios são representação de parte disso. O campista precisa gostar de Campos e o governo municipal precisa estimular essa sensação de pertencimento”.

Preservação do Centro — “Uma das propostas do Novo, e aí não é só Campos, é em todas as esferas do Novo, é o adensamento de cidades como uma forma de melhorar a urbanidade, reduzir a necessidade de transporte e reduzir a necessidade de investimento público em equipamentos em regiões que não tem nada. Então, ao invés de se criar guetos, onde a população acaba sendo direcionada na habitação popular, você traria essas habitações para uma região mais central, onde já existem equipamentos públicos, reduzindo a necessidade de investimento e, ao mesmo tempo, aproximando essas pessoas da realidade da cidade, do urbanismo, da convivência. Que é a ideia da cidade? Essa convivência que gera oportunidades. Nós temos, sim, essa ideia de trazer moradias para o centro, de tentar encontrar meios para que isso seja viável economicamente, porque senão as empresas não vão querer investir em moradias, em novas moradias no Centro, em prédios no Centro. Precisa cuidar da parte básica, que é limpeza e segurança, o urbanismo do Centro. E precisa entender que tem que ter um projeto para o todo. As intervenções da Prefeitura no Centro de Campos parece o cara que começa a construir uma casa sem ter arquiteto. Cada hora ele faz um puxadinho. Então você tinha o prédio histórico do Mercado. ‘Ah, vamos fazer uma feira. Faz aonde? Faz na frente do Mercado, tem um lugar vazio ali’. Fez um puxadinho na frente do Mercado. ‘Ah, vamos fazer um camelódromo para tirar as barraquinhas que estão espalhadas pelo Centro. Faz aonde? Olha, tem outro espaço aqui entre o Mercado e a Barão do Amazonas. Vamos fazer aqui’. E vão se fazendo puxadinhos. E esses puxadinhos enfeiam a cidade. Constroem uma arquitetura urbana, um projeto urbanístico, que não funciona, e que gera desperdício, e que não se pensa na manutenção dele a longo prazo. O município gastou uma fortuna com os arcos da Beira Valão, não revitalizou o Mercado. Os arcos da Beira Valão estão lá caindo aos pedaços, está tudo degradado, porque não se pensou a manutenção disso a longo prazo. Então assim, precisa de um projeto urbanístico para o todo, e esse todo inclui o Centro. Aí você tem um projeto de Retrofit 4.0, que não é um projeto ruim, o projeto é bom. Mas ele precisa ser viabilizado, precisa realmente acontecer. E aí dá para ter a iniciativa privada participando disso, o ideal é que tenha a iniciativa privada participando de forma muito intensa disso”.

Agricultura — “A gente tem um problema sério que Campos não se aceita como é, não aceita as origens que tem e tem uma ânsia de modernidade que parece aquele cara que ganhou um dinheiro e quer se vestir bem, mas não sabe como é que faz e fica brega. Isso reflete no resultado do Centro e reflete nessa questão das vocações. A maldição da abundância. Foram lá no Centro, destruíram a praça de São Salvador e fizeram um calçadão de granito no governo Arnaldo. Cortaram as árvores todas. Cortaram as árvores todas e fizeram aquele desastre. Porque olham pra Campos e não se aceitam e olham para o vizinho e acham que é sempre melhor. E o vizinho distante, porque foram copiar praças de um clima muito diferente do nosso, que são praças europeias. Foram procurar praças num lugar que não tem nada a ver com a nossa situação, com a nossa realidade, porque Campos não se aceita e não fez as pazes com o passado. Nesse nosso passado está a agricultura e as usinas de cana-de-açúcar. O campista olha para frente, olha longe para frente e esquece de onde está. As usinas de cana-de-açúcar são importantes, a gente não tem mão de obra também, é outro problema que tem que importar mão de obra, mas não tem matéria-prima para Sapucaia, para a usina Paraíso e para Canabrava. Não tem matéria-prima suficiente, as usinas morrem em tempo parcial. O nosso campo se voltou para uma pecuária extensiva, de baixa tecnologia e de baixa produtividade”.

Dependência da Prefeitura — “Campos tem uma riqueza enorme vinda do petróleo, da abundância do petróleo, que fez com que todo mundo se voltasse para a Prefeitura. As pessoas querem trabalhar na Prefeitura, as pessoas querem negociar com a Prefeitura, e as pessoas acham que a Prefeitura tem que sustentar todo mundo. Somos nós que sustentamos o Estado. Nós sustentamos a Prefeitura. Só que nessa situação diferente de Campos, essa situação extraordinária onde vem as rendas extraordinárias do petróleo, a Prefeitura acha que não precisa do povo e o povo acha que não precisa da produção local para sobreviver, porque a Prefeitura tem que dar conta de tudo. A ideia de que nós somos uma cidade rica passou para as pessoas a impressão de que a Prefeitura tem o dinheiro suficiente para absolutamente tudo. E aí você vai pra todo lugar, tem um RPA contratado, tem alguém querendo negociar diretamente com a prefeitura, tem alguém querendo uma vantagem que não deve ter. Vou falar do Tomatec, pra citar um exemplo. Nós tivemos aquele projeto Tomatec e plantinho de tomate. O Tomatec produziu tomate com preço três vezes superior ao preço de mercado. O que foi feito com os tomates do Tomatec? Foi vendido pros hospitais contratualizados. É isso, a gente tem que olhar para o nosso passado, olhar para a nossa realidade e encontrar soluções. Essas soluções não necessariamente passam pela sustentação por baixo da Prefeitura, muito embora a Prefeitura possa estar sendo parceira desse processo de reencontro da cidade”.

“Agricultura não substitui royalties” — "Lógico, a agricultura vai substituir os royalties de petróleo? Não, não vai. Nem a renda que isso vai gerar para a Prefeitura vai substituir. E se a gente perde os royalties, a Prefeitura não toma conta. A agricultura não toma conta disso. Mas ela tem sim um potencial enorme que está sendo desperdiçado. Essa questão da agricultura, não tem zoneamento".

Emprego — Campos precisa gerar emprego e lembrar que nós já perdemos os royalties. Estamos sustentados por uma liminar. A lei de redivisão dos royalties já foi aprovada, ela já foi sancionada, a gente só está pendurado numa liminar. Como é que uma cidade atrai negócios, ou gera negócios de forma endógena. O desenvolvimento endógeno passa muito pela agricultura e pelo beneficiamento desses produtos da agricultura com agregação de valor na cadeia de produção. Esse é um caminho. O outro caminho, trazer negócios de fora, que é mais rápido para desenvolver, ele depende da capacidade do município de competir, aonde tem o ranking de competitividade dos municípios. Imagine uma empresa investir em Campos e olhar que quase metade da população está inscrita no CadÚnico. Isso precisa ser mudado. E o ranking serve de orientação. Você pode olhar ali e tentar mudar algumas coisas. E precisa ser um corretor da cidade, precisa vender as potencialidades da cidade lá fora”.

“Paraíso dos populistas” — “Campos acabou se tornando o paraíso dos populistas, porque é uma cidade que tem recursos que não dependem da geração de renda na própria cidade e uma população depauperada. A gente precisa mudar isso e o ranking de competitividade dos municípios é um bom norte. É uma discussão antiga, mas muito necessária, talvez seja a principal discussão de Campos, em termos de passado recente, presente e futuro. Campos para além dos royalties”.

Dependência dos royalties — “Sem os royalties, Campos não paga as contas. Sem os royalties, Campos teria aí um problema insolúvel nas mãos, de repente. Porque não fez o dever de casa ao longo dos últimos anos. Campos precisa fortalecer a iniciativa privada, isso passa pela pecuária, pela agricultura. Por que precisa gerar emprego fora da Prefeitura, fora da necessidade de financiamento da Prefeitura. Isso vai aumentar a geração de impostos. Vai ser o suficiente para cobrir o deficit da perda dos royalties? Não, não vai. Mas vai permitir, com a geração de empregos e com uma iniciativa privada mais pujante, com a atração de empresas e a abertura de novos negócios e economia criativa, vai permitir que a população seja mais independente. Que a população não dependa tanto de comer na mão do prefeito, como eu falo, que é depender tanto da Prefeitura”.

Fundo soberano — “Nesse tempo todo, Campos não criou um fundo soberano, um fundo de sustentação, um fundo para essa alternativa de falta do royalty lá adiante. Campos não tem esse fundo. Campos tem é dívida, é um saco sem fundo. Campos precisa criar um fundo, e a gente precisa fazer isso, precisa ser aprovado pela Câmara, evidentemente, mas criar um fundo que parte dessa receita dos royalties seja acumulada ao longo do tempo e funcione como um colchão amortecedor para impacto de crise, como a crise da pandemia que derrubou os barris de petróleo, e como um possível financiador de políticas públicas no futuro para que o ajuste não tenha que ser tão drástico. Porque esse ajuste, em algum momento, vai precisar acontecer. Mas se nós tivermos um colchão de amortecimento, ele não precisa ser tão drástico. Eu acho que nós perdemos o melhor momento, a melhor oportunidade, como Maricá está perdendo agora. Porque Maricá não está fazendo também investimentos no sentido de desenvolvimento. Está apostando no assistencialismo também, como Campos apostou”.

Até quando discutir futuro pela geopolítica? — “Até quando nós tivermos prefeitos que não se preocupam com o futuro da cidade. Até quando nós tivermos prefeitos plantando pé de manga do lado do canavial. A gente não determina nada com relação a isso e a gente não faz o que deveria fazer com aquilo que a gente determina. (…) Então a gente sempre tem gestões, que eu vou chamar de ordinárias, no sentido de que seguem a ordem do dia. Elas estão ali, seguindo a ordem. Só que Campos vive uma situação extraordinária pelo benesse do petróleo. Então nós tínhamos que ter, por obrigação, gestões extraordinárias. A gente precisava de resultados extraordinários. Não dá para ter o que a gente tem de renda extraordinária do petróleo e entregar resultados ordinários. (…) O governo Wladimir não entrega resultados extraordinários. Ele entrega resultados na ordem do dia e em muitas situações abaixo daquilo que é esperado na ordem do dia”.

Governo Wladimir — “Eu acho que a maior virtude de Wladimir é a comunicação. A comunicação dele é muito boa. Então essa é a grande virtude do governo dele. A sorte de Wladimir está ligada a ter vindo pós-Rafael, pós-pandemia e com recursos de ascensão. Guerra da Ucrânia e a alta do dólar, porque isso aumenta o valor que entra para a cidade. A virtude (para derrotar Wladimir) tem que ser uma grande capacidade de comunicação para conseguir falar com esse eleitor que já está ouvindo Wladimir há quatro anos, quase quatro anos. E um eleitor que está machucado de Rafael, ainda está escaldado de Rafael, e ouvindo Wladimir há quatro anos. Então, uma grande virtude de comunicação, de capacidade de mostrar um projeto alternativo e de acender no peito do campista a esperança de um futuro fora do populismo que é representado pelos Garotinho e pelos Bacellar”.

Disputa eleitoral — “A ocasião, hoje, ela é desfavorável ao desafiante, mas tem pontos importantes a serem abordados, que são a insatisfação com a Saúde, a insatisfação com o Transporte e a questão da geração de emprego, que o campista sente muito. A qualificação do campista para o emprego, que é baixa, e a abertura de vagas de emprego, que também é muito baixa”.

Executivo x Legislativo — “Aqui no caso de Campos, por exemplo, para citar essa relação de Wladimir com a Câmara de Vereadores. A gente teve um período de disputa, quando Marquinho Bacellar ganha a presidência da Câmara, numa eleição antecipada pelo governo, num erro de condução política muito grave. O maior erro de condução política. E aí acontece uma coisa que foi a pacificação. Que foi uma aliança desses dois grandes grupos políticos. Que dura até o momento em que Wladimir se assanha para o Estado. E vai conversar com Pampolha, vai conversar com Eduardo Paes e começa a ameaçar o planejamento de Rodrigo com relação ao Governo do Estado. Se isso não tivesse acontecido, nós não teríamos uma pacificação continuada até hoje? E essa pacificação quanto custa ao campista? Ela é boa para a cidade? Eu acho que o melhor para cidade é se livrar dessas práticas. Mas para isso precisa de uma renovação muito grande da Câmara de Vereadores”.

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