Bruno Vianna: Pacificação não é submissão
Rodrigo Gonçalves, Aluysio Abreu Barbosa e Cláudio Nogueira 21/10/2023 10:03 - Atualizado em 21/10/2023 10:24
Vereador Bruno Vianna
Vereador Bruno Vianna / Rodrigo Gonçalves
Vereador de oposição em Campos e até cogitado como prefeitável em 2024, Bruno Vianna (PSD) foi o convidado do Folha no Ar dessa quinta-feira (19), na Folha FM 98,3. O político falou sobre o fim da pacificação entre Garotinhos e Bacellar, decretado no último dia 11, e creditou à falta de diálogo e ao jeito inflamado de alguns aliados de Wladimir Garotinho os motivos. “Em uma pacificação você se posiciona, você fala, você diz que concorda, que discorda. Mas não é você ser submisso, ainda mais que o governo estava tendo a mudança ali da base, de ter mais vereadores, e eu já vivenciei isso, como que é o rolo compressor”, afirmou Bruno, sem também esconder o incômodo do seu grupo em ver, segundo ele, vereadores sendo cooptados à base, que voltou a ser maioria. Vianna também falou sobre a CPI da Educação, em meio a questionamentos, e avaliou o cenário eleitoral para 2024. Com base nas pesquisas e nos bastidores, o jovem vereador comentou o favoritismo de Wladimir, apostando em uma possível virada a partir de uma oposição mais firme sem a pacificação e com os adversários do prefeito se apresentando de fato na disputa. Garante que Caio Vianna é o candidato do seu partido, mas vê em Carla Machado a escolha dos Bacellar.
Fim da pacificação — Primeiro, quero deixar claro que a pacificação interfere muito pouco para mim, porque tenho uma postura, que adotei desde o início do mandato, bem independente na hora de cobrar, na hora de poder fazer os elogios também, de maneira muito direta e séria. Essa pacificação surgiu, e é bom deixar muito claro, num entendimento, lá atrás, de que o diálogo, que a gente tanto preza, entre as pessoas que divergem, no caso a base e oposição, seria o melhor caminho, o melhor contexto para trazer resultados para a cidade, muito levando em consideração a relação que se tinha e se tem entre município e Governo do Estado e que gerava frutos. Então, num momento ali de tensão, muito por conta das questões arbitrárias que tinham acontecido também no ano anterior e que esquentaram um pouco a relação na Câmara (...), a pacificação se iniciou nesse teor de um diálogo, mas era uma conversa que não deixava nenhuma submissão ou alguma obrigação entre os vereadores da oposição de estarem compactuando com todas as atitudes do governo. Entendíamos que, com uma boa relação com o governo, poderíamos trazer benefícios para a cidade. É um atendimento que um secretário poderia dar a uma pauta específica, seja na iluminação pública, na limpeza pública. E ali começou esse diálogo, que, de fato, trouxe alguns benefícios. Eu vou dar um exemplo: vários projetos que chegavam lá na Câmara sofriam algumas alterações através do diálogo. Chegava um projeto do Executivo, se conversava: “Oh, vamos fazer dessa forma aqui para poder aprovar”. Muitas vezes eu tinha um projeto que seria vetado pelo prefeito, e a gente conversava: “Olha, qual é a maneira de a gente conseguir fazer esse projeto antes para poder trazer algum tipo de benefício? E começou a andar. Só que isso começou a se estreitar a partir de algumas denúncias que a gente passava a receber e queria tentar marcar uma reunião (...), tentar investigar. Por quê? Eu acho que a pacificação não tem uma obrigação: “Olha, estamos pacificados, então, tudo o que vier para cá de denúncia, reclamação, a gente tem que ficar quieto aqui, não falar nada”. A gente fazia os requerimentos de informação, fazia os convites aos secretários, fazia as convocações (...). Eu fiz um requerimento de informação sobre a pauta (educação inclusiva com falta de mediadores) e não tive resposta. A gente tentou convidar o secretário e não teve resposta, depois, convocar, aí foi reprovado, porque a maioria hoje faz parte da base do governo. E, nesse entendimento, foi quando o presidente da Câmara, que é o nosso líder lá dentro, subiu no plenário e convocou uma reunião institucional entre os 25 vereadores e o secretariado para aparar essas arestas de atendimento. A gente sabe que vai chegando ano eleitoral e tem muitos secretários que são candidatos a vereador, e não tem jeito, você sabe como é que fica essa relação. Ninguém quer fortalecer o outro. “Ah, porque eu vou fortalecer o vereador, atendendo um pedido dele”, porque ele vê você como um concorrente dele. Esse, infelizmente, é um pensamento mesquinho, politiqueiro, mas acontece. Então, ali a relação começou a tensionar, se consolidando muito na questão da educação, de maneira especial na CPI da Educação, que foi o que aconteceu na última semana (...), voltada para questões de verbas federais, que é muito grande, que é muito grave. Cabe a nós fazer todo esse tipo de investigação, mas talvez não seja isso que estava sendo esperado da parte do governo. Então, como fica essa relação? Nós precisamos corresponder aos votos que recebemos. As pessoas ficam cobrando nas ruas, pedindo para que a gente se posicione. Do outro lado, o governo entende que tem pacificação e que o melhor caminho é sempre o diálogo. Eu sou do diálogo, mas esse diálogo tem que ser sempre sem ser institucional? Se eu, como vereador, nas minhas ferramentas que tenho na Câmara, quiser fazer uma convocação, um convite para que ele esteja presente dando as suas explicações, eu acho que é plausível. No meu entendimento, muitas coisas ficaram mal esclarecidas e isso estava trazendo uma relação ruim nas ruas. Eu sou um cara de paz, mas pacificação é diferente de submissão. Eu acho que em uma pacificação você se posiciona, você fala, você diz que concorda, que discorda (...) Mas não é você ser submisso, ainda mais que o governo estava tendo a mudança ali da base, de ter mais vereadores, e eu já vivenciei isso, como que é o rolo compressor, por muitas vezes, quando você tem a maioria. Então, ficou uma situação desgastante.
Mudança nas bancadas — Foi um ponto também muito relevante para essa relação ir se estreitando. A gente sabe, claro, que o prefeito quer aumentar a base dele, tem todo o direito, mas se existe um diálogo, uma pacificação, é muito deselegante você ser pego de surpresa (...) Foi o caso de Marquinho do Transporte, foi um movimento muito rápido. Digo que Nildo (Cardoso) e Abdu (Neme) foram os menores dos problemas, porque foi uma coisa que foi lá no começo, então, a relação estava se iniciando, não tinha aquela confiança. Mas, a meu ver, na questão de (Marquinho do) Transporte, e aí estou deixando bem claro, Transporte é meu amigo, pessoa que eu gosto, o vereador tem autonomia de tomar suas decisões, e ele entendeu que o melhor caminho era seguir para a base, não tem problema nenhum nisso, só que é deselegante demais, porque você tem uma relação que estava ganhando certa confiança, tendo gesto de ambas as partes, e você descobre, através das redes sociais, que mais um vereador estava compondo a base. Aí vamos colocar agora para os cabeças dessa pacificação, é uma questão chata. Se o presidente Marquinho descobre, através das redes, que um vereador que fazia parte da oposição agora já faz parte da base, eu acredito que não é uma relação comum para quem está em pacificação. Para quem está em pé de guerra, pode até acontecer um movimento desse, mas para quem tem pacificação, o que se espera é uma relação republicana. Foi um ponto também que incomodou. Que pacificação é essa que você está tentando cooptar os vereadores que estão compondo certo grupo num momento que não havia essa necessidade? Mas o prefeito entendeu dessa forma. Não estou aqui para julgar nem um, nem outro (...) Tiveram essas tentativas com outros vereadores (...) Numa tentativa de aumentar a base, até pelo maior erro da gestão interna, que foi a perda da presidência da Câmara, que acredito que tenha sido um aprendizado para eles, no meio de uma soberba muito grande ter perdido a Câmara, que é algo histórico em Campos, fez com que alertasse o grupo para querer aproveitar essa pacificação para levar mais pessoas para compor a base. Aconteceu com vários vereadores, vários receberam ligação. Eu recebi ligação, todos os vereadores receberam algum tipo de ligação. Só que eu vou ser muito sincero, eu não corroboro com isso, não estou dizendo em relação à posição, porque, como eu disse, respeito a posição de cada vereador, mas sempre deixei muito claro, inclusive, quando o prefeito ligou: “Ah, quer estar mais perto? Vamos conversar”. Até numa pressão, perto da eleição: “Sabe como é a questão de nominata, partido”. Mas no meu entendimento, acho que não é um movimento ético.
Quando a oposição ganhou da base — Eles que perderam os vereadores naquele momento, não foi ninguém que cooptou vereadores. Perderam a maioria da Câmara por soberba. Então, eu quero deixar isso bem claro, porque eu começo a ver o mesmo movimento hoje. Maioria, aquela ironia dentro da Câmara, o rolo compressor da máquina, mas isso muda muito rápido, porque vereador é a pessoa que está em contato direto com a população, ele tem demanda o tempo todo, então, liga para o secretário, prefeito, atende demanda, atende pedido, e quando você não é prestigiado e faz parte da base do governo, é natural que você queira tomar uma decisão. E quem fez parte da Mesa Diretora do biênio passado não tem direito de falar sobre decisão de vereador, porque eles tentaram cassar o nosso mandato (...) Só de ter atitude e cogitar assinar um papel, três vereadores para cassar 13, eu acho que isso aí não tem, não vai ter nada nessa gestão, em muito tempo de política, não vai ter nada mais ditador (...) Tenho certeza que se hoje a presidência da Câmara estivesse com governo e tivesse com os votos da maioria que está hoje, a gente nem estaria aqui dialogando sobre pacificação, sobre a investigação, sobre CPI.
Relação com o grupo dos Garotinho — Minha relação pessoal com ele (Wladimir) não é ruim, mas é difícil quando você tem alguma divergência. E não só por causa dele, é porque ele tem um grupo inflamado em volta, que não deixa que ninguém pense diferente (...) Eu falo para Wladimir, falo aqui publicamente, é uma das maiores pedras no sapato, porque não dá para divergir dele sem que você seja atacado e sem que você seja taxado como um cara que não é do grupo. “Se você não concorda em votar o Código Tributário, você não é do grupo, tem que tirar de perto”. E foi dessa maneira que tudo se iniciou, nessa tentativa de “se você não concorda comigo, não vamos priorizar o que a gente converge. Se você diverge alguma coisa, sai de perto de mim”.
CPIs — Tenho um respeito muito grande pela questão jurídica interna da Câmara. No entendimento da Procuradoria, as CPIs que estavam ali antecedendo tinham algumas questões que fariam com que fossem arquivadas. Para todas elas foi denominado o motivo e passado para as pessoas que pediram a CPI para que recorram. E também houve a abertura da CPI da Educação. A única coisa que me deixa um pouco em dúvida é: será que é a prioridade de fato, por que tinha outra CPI na frente? Por isso esse nervosismo, essa preocupação? Ou será que é por que a CPI da Educação tem fortes indícios de irregularidades? Estou dizendo isso por quê? As atitudes tomadas pelo governo e, principalmente, essa correria de tentar retirar assinaturas (...) Às vezes temos uma visão de que CPI é uma caça às bruxas. No meu entendimento, é o nosso instrumento de fiscalização (...) Eu ficaria realmente chateado se eles não quisessem abrir a CPI da Educação por ter outras na frente (...) Se puder ter várias CPIs, eu sou totalmente favorável. Se for por questões de medo, aí deixa até um alerta para a gente de que, de fato, possa ter irregularidade.
Nome como prefeitável — Fico feliz, fico grato e aí eu não vou me estender. Acho que é um reconhecimento pela trajetória da minha família, por tudo que o meu pai consolidou e eu estou tentando dar continuidade. Então, fico feliz de as pessoas, de certa forma, colocarem a gente em algum pleito de Executivo. Tenho feito muita política partidária, de construção com líderes do nosso estado (..) Estou me preparando para minha reeleição. De fato, sou um vereador a caminho da reeleição, graças a Deus. Estou muito bem nas pesquisas, entre o primeiro ali da oposição (...) Mas eu faço parte de um projeto macro. Sou filiado ao PSD (...) e temos o partido sob liderança do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Estou muito feliz no partido, porque está crescendo muito (...) Então, faço parte de um projeto macro e nesse projeto temos um candidato a prefeito do PSD, que, na conjuntura atual, é o deputado federal Caio Vianna. Acho que o cenário local tem sido muito debatido por nós aqui, estou acompanhando também (as pesquisas), vejo um cenário atual realmente muito promissor, muito confortável (a Wladimir). Só que temos atores fortes e influentes, na questão estadual e federal, que podem, de certa forma, interferir nesse cenário, porque um cenário de primeiro turno é diferente quando vamos para o segundo turno.
Pesquisas — Quando se fala das pesquisas na questão do Executivo, eu acho que temos players que ainda não se apresentaram para o cenário. Quando digo apresentar é somente cogitando, até porque todos estão nas suas esferas de mandato. Nós temos uma possível candidatura da Carla Machado, mas ela está no mandato de deputado estadual. Nós temos a questão do Rodrigo, que também está executando na Presidência da Assembleia Legislativa; temos Caio, que está toda semana em Brasília como deputado federal; temos Thiago Rangel no mandato... Então, só quem está correndo, confortável, dedicado exclusivamente à gestão municipal, à esfera municipal é o prefeito (...) Existem grupos políticos que não podem ficar de fora. O grupo de Garotinho não fica de fora de um cenário quando se debate Campos, o grupo hoje de Rodrigo Bacellar, que seria por Carla Machado, no entendimento, não pode ficar fora de um debate de Campos; o próprio grupo do Caio, que é do Arnaldo Vianna, não tem como ficar fora de um cenário de debate de Campos (...) Eu entendo que players como esses já foram modelos de gestão em algum lugar, e a gente ouve muitos elogios à gestão da Carla em São João da Barra, à gestão do Arnaldo, hoje representado pelo seu filho Caio, em Campos. A família Bacellar tem um ponto importante na hora do debate e a família Garotinho.
Favoritismo de Wladimir — Para mim, um fator preponderante dessas pesquisas é a ausência de players. Acho que, como eu disse, um player de dedicação municipal, até o momento, somente ele. Nós temos as outras pessoas fora, mas eu vejo essa pesquisa como uma pesquisa boa, mas uma pesquisa que liga também um sinal de alerta, porque são bons números, mas eu quero muito levar em consideração o contexto. Não se tinha uma oposição, por ter a pacificação, um momento diferente, de muito diálogo. Não se tem até agora, mas vão começar a ter mais players participando e mostrando várias realidades, que foram mostradas nas pesquisas, principalmente em relação à saúde, transporte público, geração de emprego e segurança, que são os grandes calos. Então, é porque a gente não consegue visualizar o olho no olho, mas quando a pessoa pergunta “quem você vota para prefeito?”, qual é a entonação que é dita? Ou a pessoa muitas vezes está respondendo ali por uma falta de players de cenário? É uma pesquisa boa para o governo, mas que também me liga um sinal de alerta: se com todo esse cenário favorável (a Wladimir), sem players na disputa, se dedicando exclusivamente a Campos, e com o Governo do Estado fazendo o que fez pela cidade, ainda estamos enxergando outros players pontuando, mesmo que de forma mínima, acredito que pode ter uma grande transformação na eleição (...) É um cenário ainda muito aberto, com um favoritismo, claro, mas vai depender muito da questão da gestão dele (...) Estamos indo para o último ano de governo com os mesmos calos e isso pode ser preponderante num cenário eleitoral, onde vai estar todo mundo inflamado pelo contexto eleitoral.
Nominata a 2024 — Eu avalio que vai ser difícil montar uma nominata, mas tem um ponto facilitador que é a diminuição de candidatos. Tivemos cerca de 800 nas últimas eleições e hoje vamos chegar no máximo a 300 nos principais partidos. O PSD é um partido que terá um candidato a prefeito, um partido grande, com bom fundo partidário, com tempo de TV. O PSD vai construir uma nominata que possa fazer de dois a três vereadores.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS