Junho Vermelho para conscientizar
Cláudio Nogueira, Edmundo Siqueira e Mário Sérgio Junior - Atualizado em 15/06/2024 07:22
Doutor Maninho Gonçalves
Doutor Maninho Gonçalves / Genilson Pessanha
“A doação de sangue pode, muitas vezes, fazer a diferença entre a vida e a morte”, declarou o médico e pré-candidato a vereador em Campos, Doutor Maninho. Com 30 anos de profissão, ele participou do programa Folha no Ar da rádio Folha FM 98,3, nessa sexta-feira (14), para falar sobre a campanha Junho Vermelho, que tem por objetivo a conscientização da importância da doação de sangue para salvar vidas. Maninho ressaltou que ninguém está imune de precisar de sangue em algum momento e que, para receber essa ajuda, o estoque do Hemocentro precisa estar equilibrado, o que atualmente não acontece. O médico também falou sobre as obras do novo Hemocentro Regional, ao lado do Hospital Ferreira Machado, que, segundo ele, estão quase prontas. Doutor Maninho também defendeu o SUS como o maior plano de saúde do mundo e falou sobre o risco na condução de motocicletas. Além disso, ele ressaltou o atendimento humanizado que os hospitais públicos municipais têm adotado.
Junho Vermelho — O sangue é um produto necessário e está se tornando raro, porque nós estamos enfrentando muitas dificuldades no que diz respeito à doação de sangue. Essa campanha Junho Vermelho vem para tentar minimizar. É muito importante também, porque desempenha um papel crucial na conscientização da importância da doação de sangue. Nós temos aqui o nosso grande hospital, o Hospital Ferreira Machado, que é referência regional de trauma. Não é referência só para o município de Campos, é referência também para toda a nossa região, para os municípios vizinhos. Estamos à beira de uma BR com trânsito bastante intenso, com um número bastante elevado de acidentes. Então, nós temos tudo que é tipo de incidente ali, tanto incidente por arma branca, quanto por arma de fogo, como acidentes automobilísticos, como acidentes de moto, que o número vem crescendo a cada ano. Não diminui, ele só aumenta. Então, a necessidade de doação de sangue é realmente muito importante para todos. Eu considero o Junho Vermelho uma campanha muito importante no sentido de conscientizar as pessoas da importância da doação. E no caso do Junho Vermelho, porque no inverno nós temos um grande aumento do número de quadros respiratórios. Com isso, o número de doadores diminui de maneira significativa, porque muitos deles se encontram gripados e não podem doar e isso diminui o estoque de sangue. E os acidentes, infelizmente, continuam aumentando. Então, é importante a conscientização da população de maneira geral para doar sangue. Porque doar sangue é um ato de carinho, de amor ao próximo. Ninguém está livre de, não só pessoalmente, como também ter um ente querido que precise de doação de sangue, vítima de algum tipo de acidente. E a doação de sangue, muitas vezes, independentemente de condição financeira, independentemente do local onde esse paciente porventura possa vir a estar sendo atendido, muitas vezes isso pode fazer a diferença entre a vida e a morte. A presença ou não do sangue ali, da necessidade do sangue para doar.
Experiências — Eu tenho 30 anos de profissão e já passei por vários momentos críticos no sentido de ver pacientes que necessitaram de doação de sangue, tendo muitas vezes a sua cirurgia protelada por conta da falta de sangue, com aumento considerável da internação, o que, muitas vezes, leva a quadros de complicações inerentes à longa permanência no hospital por conta da internação. Não só cirurgias ortopédicas, mas cirurgias cardíacas, existe uma grande gama de procedimentos em que a doação de sangue é importante, ela é essencial e faz a diferença entre a vida e a morte do paciente.
Casos cirúrgicos — Há cirurgias que demandam muito sangue. E o que muitas vezes a população não entende é que a doação de sangue é para repor o estoque de sangue, que continua bem abaixo do ideal. O estoque de sangue não depende apenas da vontade do médico ou, às vezes, da vontade dela (Sandra Chalhub) como coordenadora. Nós dependemos da população entender a necessidade e doar sangue, porque sem o doador, nós podemos ter um banco de sangue lindo, maravilhoso, equipado, mas não funciona sem o doador.
Novo hemocentro — Nós, agora, estamos abrindo o banco de sangue, a unidade regional ali do lado do Hospital Ferreira Machado, que vai atender a toda a região. Mais uma grande obra do governo Wladimir Garotinho consolidando a saúde de Campos, mais uma, vez como um polo regional. É um grande avanço para nossa cidade. Acredito que esteja pronto ainda no final desta gestão, porque é uma obra muito grande, que existem várias nuances ali envolvidas. Às vezes a previsão não bate e eu fico um pouco receoso em dar uma data e isso não acontecer. Mas a obra já está bem avançada, foi uma obra que andou muito rápido. Eu visitei ela sem nada, ainda com as estacas, e hoje a gente entra lá, a impressão que a gente tem é que está quase tudo pronto. Agora, existe aquela fase de acabamento, que muitas vezes é igual à obra da nossa casa. Às vezes, a gente acha que vai andar rápido e demora um pouquinho. Mas é mais um grande avanço e é importante conscientizar que não adianta a gente ter um banco de sangue lindo, regional, e não ter o doador, que é o principal.
Quantidade ideal de doadores — De acordo com dados do Ministério da Saúde, no Brasil, nós temos apenas 1,9% da população que é doadora de sangue. O ideal é, ao menos, 3% da população ser doadora. Então, 1,1% parece pouco, mas não é. Eu acho que nós temos como meta alcançar esse número. Isso não é só um problema aqui de Campos, isso é um problema nacional. Mas a gente tem que tentar fazer o dever de casa e tentar conscientizar a nossa população da importância da doação de sangue. Porque muitas vezes o paciente ou o familiar não entende que, muitas vezes, mesmo com doador de sangue, e muitas vezes essa doação acontece quando o paciente se acidenta, quando nós necessitamos da doação, pedimos a doação à família e a família, na tentativa de resolver um problema de um ente querido, pede a familiares, a vizinhos, faz campanha de doação. Muitas vezes consegue um número significativo de doadores, mas, muitas vezes, mesmo assim, a cirurgia daquele ente querido, se tratando de uma cirurgia eletiva, ela é suspensa. Porque o sangue é para repor o estoque, não é a doação necessariamente para aquele paciente. Isso, muitas vezes, não é entendido. E o estoque tem que ser reposto, e a prioridade é para as cirurgias de urgência e emergência. Nunca para as cirurgias eletivas, que, muitas vezes, são preteridas e a família fica chateada. Muitas vezes ocorrem complicações inerentes a não disponibilidade daquele sangue, daquele tipo sanguíneo específico. O paciente tem um período mais longo de internação. Eu já vi casos de cirurgia ortopédica, em que o paciente acaba embolizando e vindo a óbito antes da cirurgia. Porque a longa permanência no leito é uma complicação inerente ao tipo de fratura, isso pode acontecer, mas a gente vai até onde a gente pode ir. E a doação de sangue, muitas vezes, nós não temos essa ingerência sobre o estoque, o estoque baixo, como está no momento. Às vezes o familiar doa o sangue, mas, um exemplo, na véspera da cirurgia ocorre um acidente grave, entra um grande número de pacientes para o procedimento. Eu estou relatando fatos que eu, na minha vivência ao longo desses anos, não só como coordenador do serviço de ortopedia do Hospital Ferreira Machado, que eu fui durante bom tempo, mas também como médico, vi muitos casos e o sangue está reservado e no dia seguinte a gente não ter disponibilidade do sangue porque chegou uma cirurgia na madrugada e a prioridade é salvar aquela vida na urgência ali. Então, por isso é importante a doação do sangue, essa campanha que tem por objetivo crucial a conscientização do papel e da importância de se doar sangue.
Planejamento — De acordo com os dados do banco de sangue, nós atuamos e executamos o nosso planejamento de trabalho. Então, isso é importante, a gente entender a disponibilidade de sangue para que a gente possa planejar os procedimentos cirúrgicos de forma mais eficaz. Por exemplo, quando a gente sabe que tem estoques baixos, de um determinado tipo sanguíneo, a gente tenta economizar aquele tipo de sangue para determinado tipo de cirurgia. Faz uma avaliação clínica mais detalhada, no caso pré-operatório, por exemplo, no sentido de economizar aquela bolsa de sangue, se ela não for de suma importância, no sentido de preservar aquele sangue para um eventual outro paciente que precise. Então, é importante a gente ter esses dados do banco de sangue para que a gente possa efetuar esse planejamento.
Reforço na captação — A criação de bancos de sangue por hospitais particulares em Campos também acaba ajudando, porque são outros polos de captação e até mesmo com o intuito de informar aos pacientes a necessidade da doação. Muitas vezes essas próprias unidades fazem a sua campanha e a doação pode ser feita lá mesmo.
Incentivo ao doador — Eu acho que é uma boa ideia oferecer ao doador de sangue uma contrapartida. Eu não sei muito bem essa questão constitucional, no que diz respeito a esse fato, mas eu acho que o que é inconstitucional hoje pode ser constitucional amanhã, e nós, a sociedade de maneira geral, estamos aí no intuito de lutar por políticas públicas que possam favorecer a população como um todo. Então, é uma ideia que pode ser tentada. Eu entendo a importância da doação de sangue e sei das dificuldades, porque, muitas vezes, isso vem à tona, mas quem está na ponta, passando pela situação, ouvindo a reclamação do parente, vendo o sofrimento do paciente, que muitas vezes precisa de sangue para realizar um procedimento que vai salvar a vida dele, vai tirar ele daquele sofrimento ali no leito de um hospital, a gente fica muito sensibilizado. Então, eu acho que toda tentativa nesse sentido é válida, porque o problema é muito maior do que a gente ouve falar. Só sabe quem passa. A pessoa, depois que passa por um problema desse, que vê um ente querido precisando de doação de sangue e muitas vezes não consegue, é bastante triste. É um sofrimento incalculável. Para nós, médicos, isso é muito ruim, porque quando nós programamos um procedimento eletivo de grande complexidade, existem várias nuances. A gente tem que reservar a sala, reservar a equipe, e a equipe não é apenas um médico que está operando, tem o auxiliar ou mais de um, tem o anestesista, tem o instrumentador, tem equipe. A disponibilidade de sala, dependendo do hospital, muitas vezes nós temos que fazer com alguma antecedência. Aí, às vezes não tem sangue hoje, mas o sangue aparece na madrugada do dia seguinte. Como o procedimento é eletivo, nós temos um trabalho muito grande, porque no dia seguinte, eventualmente, não tem sala, o material precisa ser esterilizado de maneira adequada. Então, muitas vezes, nós passamos por muitas dificuldades logísticas quando existe a suspensão de uma cirurgia por falta de sangue. E quem sofre mais com isso é o paciente, depois, o familiar que está ali torcendo para que aquele ente querido saia daquela situação de sofrimento. Mas, para o médico é muito ruim, porque aquilo ali atrapalha toda uma programação que ele faz. Doar sangue é complexo, não é simplesmente chegar ali, tirar o sangue e doar. E tudo que é feito em massa tem que ser bem regulamentado. Mas eu acho que a ideia é de que se faça com estudo e que se regulamente, porque eu acho que pode ampliar o número de doadores, e com certeza eu acho que a solução vai ser muito maior do que o problema. A gente precisa estudar isso e colocar em discussão de uma maneira mais ampla.
Orientações para doação — A doação tem que seguir algumas recomendações. Primeiro, avaliação da documentação do paciente. O paciente tem que evitar alimentos gordurosos três horas antes da doação, é uma lista de alimentos que é entregue a ele, como massa, chocolate, leite, iogurte. O doador tem que ter entre 16 e 60 anos de idade. Quando o paciente já doou nesse período, essa idade pode se estender aos 69 anos. E ele tem que ter mais de 50 quilos. Então, é bastante criteriosa a doação. Não é qualquer um, infelizmente, que, mesmo querendo, pode doar.
Campanha — Neste Junho Vermelho, nós temos uma estratégia com empresas locais, no sentido de organizar drives de doação, campanhas de mídia social, palestras educativas em escolas e universidades. E a unidade móvel do hemocentro estará em alguns locais específicos, das 8h às 17h. No dia 18, na Famesc, em Bom Jesus do Itabapoana; no dia 20, na Grand Service, em Macaé; no dia 25, no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Campos, no dia 27, na NOV, em Macaé; e no dia 28, na Praça São Salvador.
Risco de andar de moto — Eu abomino moto, porque eu vi muita coisa ao longo desses anos. Apesar de as pessoas acharem que o acidente de moto que pode levar a uma incapacidade permanente é aquele acidente grave, muitas vezes traumas leves, quedas leves, banais, levam a um prejuízo muitas vezes impalpável, articulações, fratura exposta de perna, que deixa uma sequela por anos e anos. Muitas vezes essa fratura é exposta, então, ela é bastante contaminada e, mesmo com todo o tratamento adequado que ele receba na urgência, o paciente pode adquirir uma infecção crônica, que é a osteomielite, que é uma tragédia no que diz respeito ao tratamento, porque o osso é muito pouco vascularizado, o antibiótico entra muito mal ali. Então, o paciente fica com osteomielite crônica e leva para o resto da vida. Tem que passar por múltiplos procedimentos cirúrgicos, encurtamento de membro, muitas vezes amputação, transporte ósseo, fica com fixador externo anos e mais anos. Quem vê isso de perto tem que abominar esse meio de transporte. A gente vê muita coisa triste, muitas vezes por causa do uso de uma moto, um acidente muitas vezes banal.
Maior plano de saúde do mundo — O SUS tem muitos problemas, mas, sem sombra de dúvida, é o maior plano de saúde do mundo. A tabela é muito desatualizada, então, muitas vezes nós aqui no município, na ponta, enfrentamos muitas dificuldades no que diz respeito a isso. Foi daí a ideia de fazer os mutirões de cirurgias, porque o valor pago pelo Ministério da Saúde por um procedimento cirúrgico muitas vezes é tão irrisório que não compensa o médico, não compensa a instituição que está realizando aquele procedimento, não compensa o fornecedor de material. Muitos desses materiais nem são previstos na tabela.
Atendimento humanizado — Nós estamos com esse foco, não só no Hospital Ferreira Machado, como em todas as unidades. Fizemos agora uma mudança no núcleo para tentar humanizar o atendimento à população. Isso é um desafio da gestão, porque quando nós lidamos com pessoas, existem os problemas inerentes àquela pessoa. Muitas vezes ela não acordou bem ou está com algum problema pessoal, e aí muitas vezes extrapola e passa aquilo de maneira inadequada para o paciente, que não tem nada a ver com isso. Mas essa questão da humanização é um foco na nossa gestão, a gente entende isso como muito importante em todos os setores.

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