Márcia Angella: ícone há 54 anos do colunismo
Dora Paula Paes 15/06/2024 01:41 - Atualizado em 15/06/2024 18:55
 
Arquivo pessoal
 
 
O jornalista Nelson Rodrigues disse um dia: “Ser bonita não interessa. Seja interessante!”. Há 54 anos atuando no jornalismo, Márcia Angella é nome e sobrenome no colunismo social, em Campos. Na juventude, disputou títulos de beleza, realizou o sonho do magistério de todos os pais para suas filhas na década de 70, mas sempre teve as redações como segunda casa. Uma época em que ainda se praticava o jornalismo romântico. Sem bandeira identitária, irradiando beleza e elegância, desfrutou junto com os amigos das redações, na maioria homens, a hoje classificada de boemia saudosa dos jornalistas, mesmo sem beber e nem fumar. Em tempo de Inteligência Artificial, uma ameaça a muitas profissões, e o jornalismo não está de fora da lista, Márcia Angela Arêas também reverbera: “jornalismo é uma cachaça”. Ao longo de todo esse tempo, com sua voz tranquila, ela continua convidada especial para uma infinidade de festas e eventos, praticamente incontáveis. Influenciadora, mesmo antes das redes sociais. No mês passado, Márcia Angella acabou de receber em Curitiba (Paraná), o Troféu “Mulheres Inspiradoras 2024 “, durante um almoço no Hotel Mabu.
 
Folha 2 - São 54 anos de atividade na mídia de Campos. Qual é o sentimento? Jornalismo é vocação?
Márcia Angela Arêas - Minha carteira foi assinada no Monitor Campista, em agosto de 1970 e fiquei lá por uns 10 anos. Desde essa época só paro no período de férias. Já trabalhei também em A Cidade, onde além de colunista fui diretora comercial. E na Folha da Manhã estou há muitos anos. Atuei em programas de rádio com Dalton Castro e na TV Norte Fluminense, com Nicolau Louzada. Participei do programa de Aerton Perlingeiro na TV Tupi, que era patrocinado pelas Linhas Varicor. Apresentei Festivais, Desfiles de Moda, Concursos de Beleza e fiz festas benemerentes com o Lions Clube. Sempre fiel à profissão que abracei. Na época de Faculdade, estagiei em A Notícia. Cursei Jornalismo na Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic), onde fui colega de Aluysio Cardoso Barbosa e aluna de Diva Abreu (diretora-presidente do Grupo Folha). E na SUAM (Rio) fiz o curso de Pedagogia. Fui professora, orientadora educacional e supervisora de ensino, mas gostava mesmo era do jornalismo. Embora no magistério ganhasse mais do que no jornal e com carga horária menor, nunca reclamei do tempo que passava na redação, até porque às vezes nem percebia. Jornal não tem rotina e isso é muito bom. E o jornalismo é uma cachaça. Algum tempo atrás, uma jornalista me perguntou, quantos anos de trabalho eu tinha. Respondi e ouvi dela: “Se eu tiver que ficar esses anos todos numa redação, eu prefiro morrer”. Disse para a moça: deixe imediatamente, porque se você não tiver amor à profissão, será uma péssima profissional. Hoje, tenho uma seguidora nos Estados Unidos que é a minha sobrinha Lívia Arêas Holmblad, que também é jornalista.
Folha2 - Quando começou a atuar na área da comunicação, a Márcia Angella era reconhecida socialmente e também por sua beleza, ganhando inclusive concursos. Conta um pouco dessa história.
Márcia Angella - Sempre frequentei festas, desde o meu baile de Debutantes no Clube de Regatas Saldanha da Gama. Fui “Rainha da Primavera”, “Rainha dos Calouros da Filosofia”, entre outros. Desfilei para a boutique de Adahir Moll, Puffy e Aparecida Lucas e de vestido de noiva para algumas modistas.

Folha 2 - Márcia, você também conheceu o jornalismo boêmio, que não existe mais... Como era? Quem foram os seus melhores parceiros de redação e a boemia que nunca vai esquecer?
Márcia Angella - Não vivo de saudosismo, mas era muito boa aquela época. Na redação, trocávamos ideias com os colegas, olhávamos o que eles escreviam em suas máquinas e fazíamos comentários. Mas, o computador é frio. Hoje, o repórter escreve a matéria, fecha e ninguém sabe o que está dentro dele. Não interage como nos anos atrás. Naquela época, ao sair da redação, sentávamos em bares, embora eu não bebesse, nem fumasse, para conversar e eram muitas histórias. Algumas impublicáveis. Meus companheiros eram : Celso Cordeiro Filho, Giannino Sossai, Luis Mario Concebida, Péris Ribeiro, Saulo Pessanha, Antônio Cláudio Perrout, Moacir Sales, Aloísio Balbi, Edilson Ribeiro, Chico de Aguiar e João Noronha.
Folha 2 - Quando você recorda os amigos de boemia, mostra uma mulher à frente do tempo. E hoje, como entende tantas pautas identitárias?
Márcia Angella - Nos últimos anos as lutas de mulheres, etnicas, igualdade de gênero, preservação ambiental, ganharam uma nova qualificação. Penso que os problemas e as soluções para o Brasil, não estão nessas pautas.

Folha 2 - E a melhor história que já contou, qual foi?
Márcia Angella - Difícil dizer, porque foram muitas. Como apresentadora de festa vivi um grande emoção que foi apresentar o meu ídolo Roberto Carlos, no show que ele deu no Grussai Praia Clube (em São João da Barra). O convite me foi feito por seu Ademir Martins.

Folha 2 - Você começou como jornalista cobrindo as notícias na rua ou como colu-nista social. Universos diferentes.
Márcia Angella - Quando iniciei, já fui para o colunismo social. Naquela época, as notícias eram de aniversários, batizados, ca-samentos, bodas e viagens. Mas, de uns 25 anos para cá, o conceito mudou. Hoje, além de todas essas citações, ainda são abordados negócios, educação, cultura e política. A coluna passou a ser um pequeno jornal dentro do jornal.

Folha 2 - Tem ideia de quantas colunas já publicou? Acredito que o número de festas para as quais foi convidada também seja incontável...
Márcia Angella – São 54 anos. Difícil lembrar quantas colunas publiquei. Até porque, nos anos atrás eu escrevia todos os dias. Depois passei para três e, atualmente, dois dias da semana. Festas foram muitas e muitas, em Campos e em outras cidades. Algumas maravilhosas, marcantes. Vivi e vivo no mundo das festas. Mas nada disso nunca subiu à minha cabeça. Já noticiei festas de três gerações. E nem percebo que o tempo passou tão rápido. O que sempre lembro é que em Campos, muitas festas só começavam quando alguns convidados importantes che-gavam. E, hoje, lamentavelmente, muitos desses nem mais são convidados para os eventos.

Folha 2- Com o advento das mídias sociais, você segue firme com sua coluna na Folha da Manhã, que é muito lida. Manter sua coluna ativa é uma forma de resistir e, ao mesmo tempo, lincar o jornal impresso às mídias digitais?
Márcia Angella - Hoje, não se consegue viver sem a tecnologia. Respeito e tenho que admitir não é a minha praia. Tenho conseguido resistir a tudo isso. Não é fácil. Mas a coluna sai no jornal impresso e vai para o Facebook e Instagram. Daí quem não leu o jornal, pode acessar e ler.

Folha 2 - E as fontes de informação? Hoje, a maior parte dos jornalistas utilizam as mídias sociais para caçar uma pauta. Mas, para você, qual é a importância de cultivar essa fontes que ligam para passar as notas?
Márcia Angella - Graças a Deus, tenho fontes fiéis. O que sabem, logo me passam. Mas, algumas vezes é preciso filtrar. Evidente que acompanho as mídias sociais para saber de notícias e fotografias. Só não fico escrava delas. Eu garimpo, mas dou uma conotação diferente, para não correr o risco de sair igual em outras colunas.

Folha 2 - Para quem ficou curioso e ainda desejoso de um pouco mais, quem é Márcia Angella?
Márcia Angella - Uma profissional que se dedica ao trabalho, com seriedade. Gosta de viajar,conhecer novas culturas e pessoas. Fiel aos amigos, ciumenta, viciada em Coca-Cola, leva segredos com ela pela vida toda. Uma apaixonada por Carnaval, já foi destaque nas Escolas de Samba União da Esperança e Ururau da Lapa - desfiles que deixaram saudade. Curte a família, colocando sempre em primeiro lugar. E Deus acima de tudo.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS