Violência cibernética contra mulheres segue crescendo no estado do Rio de Janeiro
Ingrid Silva (estagiária) - Atualizado em 26/08/2023 17:04
CPI de Combate à Violência Cibernética contra as Mulheres na quinta-feira (24)
CPI de Combate à Violência Cibernética contra as Mulheres na quinta-feira (24) / Divulgação: Alerj
A violência cibernética, ou seja, que acontece no ambiente virtual, também é um medo constante para mulheres no estado do Rio de Janeiro. Além dos números que só crescem de violência física e psicológica por todo o mundo, a era digital tem facilitado cada vez mais para ameaças e exposição de vídeos íntimos, por exemplo. No mês de agosto deste ano, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) iniciou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de combate a essa específica violência, onde foi revelado que 25% dos casos contra as mulheres denunciados ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP/RJ) em 2023 aconteceram virtualmente.

Em meio a campanha de Agosto Lilás, voltado para a conscientização no combate à violência contra a mulher, os dados revelados pela Ouvidoria da Mulher do MP/RJ na CPI confirmam que, de 1.626 denúncias recebidas ao longo do ano, 411 estavam relacionadas à violência cibernética, o que mostra que é cada vez mais comum. Porém, apesar desses dados, em Campos não há esse levantamento por não existir uma delegacia especializada na área. Os casos passam pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam) e pela Delegacia de Atendimento à mulher (Deam), mas, na maior parte das vezes, não é possível ter uma completa ajuda, sendo encaminhados para a capital.

“Os crimes cibernéticos com autoria não identificada são remetidos para delegacia especializada na Capital, não são investigados na Deam”, explica a delegada da Deam Campos, Madeleine Dykemann.
Já a coordenadora da Ceam Érika Nogueira contou que o Centro realiza, frequentemente, palestras e rodas de conversa para conscientização dos jovens para todos os tipos de violência, incluindo a cibernética. “Todas as palestras que eu faço como por exemplo quando fui na Cândido Mendes, a gente fala que a violência fala ela pode ser não só cometida pelo meio físico, mas também pelo meio digital, e aí a gente fala do whatsapp, do instagram, tudo, a gente já faz esse trabalho desde que a gente começou a ir nas escolas e faculdades (...) É uma geração muito na internet, então é importante essa conscientização. O ambiente virtual é um ambiente que qualquer um está propício e depois que é divulgado, a pessoa não entende no início que é uma violência, a maioria acontece quando termina. Então, é importante a gente conscientizar os jovens desde o início”, contou.

Érika também contou sobre o caso de uma assistida do Centro que procurou a ajuda da organização, precisou ser encaminhada para a delegacia especializada. Porém, depois de um tempo, recomeçou o seu relacionamento com o agressor, então desistiu de falar do caso. Já em uma entrevista para o programa Folha no Ar, a subsecretária de Políticas para Mulheres, Josiane Morumbi falou sobre o caso de uma jovem de 20 anos que a chocou.

“Essa menina foi atendida na Deam, muito nova, de um relacionamento também bastante novo, e depois que houve o término, a pessoa não aceitou. Geralmente é assim, o companheiro não aceita o término. Ele fez um instagram fake dela com imagens, fotos e vídeos íntimos e esse fluxo ainda não é rápido. Enquanto não se resolve, enquanto não derruba o instagram - isso é uma falha da ferramenta -, esses vídeos ficam aí passando para quem quiser ver. Então, é uma coisa que nos incomoda muito porque, por mais que a gente se capacite, todo dia tem uma história diferente com desafios diferentes”, contou.
Mulheres parlamentares - Novos dados foram apresentados na audiência pública da CPI desta quinta-feira (24), agora em relação à violência contra parlamentares mulheres no Brasil. De acordo com o Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas Digitais, a cada 10 menções nas redes sociais a elas, no país, pelo menos uma contém algum tipo de violência. Esse estudo analisou menções a 79 deputadas federais e a 12 senadoras em legislatura de 2019 a 2023 e será incluído também no relatório da CPI, assim como propostas que foram apresentadas para diminuir a estatística.

Além disso, a pesquisa Equidade de Gênero na Política, realizada pelo DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a violência, 32% das mulheres já foram discriminadas no ambiente político por conta do seu gênero, enquanto apenas 10% dos homens sofreram discriminação devido ao gênero. Na audiência foi colocado, ainda, os ataques mais frequentes que acontecem com as mulheres em cargos políticos, que são: desinformação com campanhas de desprestígio; difusão de informação falsa; violação de privacidade com a exposição de dados pessoais; compartilhamentos não consentidos; ofensas com discurso de ódio; cyber bullying e contas hackeadas.

Violência física - Paralelamente, os casos de violência física continuam a acontecer. Em Campos, quatro feminicídios foram registrados apenas neste ano de 2023 e, na última terça-feira (22), aconteceu o julgamento do homem que tentou matar a ex-namorada em junho de 2021 e a deixou tetraplégica. Ele confessou o crime diante do júri popular e foi condenado a 26 anos e 8 meses em regime fechado. Já nessa quinta-feira (24), um homem foi preso temporariamente por agentes da Deam por ameaçar, extorquir e agredir ex-companheira. (I.S.)

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