Filipe Fernandes - Recomeço genérico
17/04/2024 07:49 - Atualizado em 17/04/2024 07:52
Lançado em 1973, “O Exorcista” chocou pessoas do mundo todo, se tornou um clássico do cinema e uma das referências máximas quando pensamos em cinema de horror. O sucesso do filme gerou continuações e prequels que nunca chegaram próximos do sucesso de público e crítica. Eis que a produtora Blumhouse comprou os direitos da franquia e traz para o grande público um recomeço com “O exorcista: O devoto”.

Escrito e dirigido por David Gordon Green, o novo filme da franquia adota a mesma proposta da última trilogia da franquia Halloween (também dirigida pelo diretor), ao desconsiderar todas as continuações, fazendo do filme uma nova continuação direta do clássico original, passada nos dias atuais e com a promessa de ser o primeiro capítulo de uma trilogia.

Se em Halloween de 2018 o filme resgata os principais personagens e elementos da franquia, aqui Green toma um caminho um pouco diferente e mesmo que resgate uma personagem fundamental do longa de 1973, o filme basicamente é uma história original que menciona timidamente os eventos do clássico.
O longa abre com um prólogo que se passa no Haiti e busca trazer um clima de misticismo se utilizando de elementos da cultura local. Um artifício fraco, que não gera nenhum tipo de repercussão no desenvolvimento da história. Nesse prólogo conhecemos a personagem da mãe, que deveria ter um tempo de tela e relevância maior dentro da narrativa. Ao contrário, o filme gasta praticamente metade de sua duração lidando com o sumiço das duas jovens.

O roteiro escrito por Green em parceria com Peter Sattler e Scott Teems aborda a história não de uma, mas de duas meninas possuídas em uma mesma situação. Nesse sentido, o filme segue a cartilha das continuações, aumentando a escala da história, não só no número de pessoas possuídas, mas no envolvimento de representantes de diferentes religiões, buscando uma solução para a situação desesperadora das jovens.

Acredito que buscando algum tipo de subversão de expectativa, o representante da igreja católica fica em segundo plano e a decisão de misturar diversas pessoas no local do exorcismo, enfraquece o momento. Se antes aquilo tudo parecia algo a ser profano, extremamente complexo e perigoso, aqui o evento se torna quase que um espetáculo, com cada um com uma sugestão do que deve ser feito.
A conexão com o longa original fica pelo retorno da personagem Chris McNeil, novamente interpretada pela grande Ellen Burstyn. Um retorno que não se justifica na narrativa, funcionando mais como uma forma de conectar essa história com o filme original e assim atrair o público ávido por retornar a aquele universo. Uma participação pequena que não agrega e pelo contrário, até enfraquece um pouco a personagem.

Em termos de terror, o filme é muito genérico. O longa não tem uma ambientação eficiente, não tem uma cena memorável. É tudo muito vazio, parece a cópia da cópia. A dinâmica de ter duas possuídas não acrescenta nada à narrativa. Os efeitos especiais passam longe do terror orgânico do original. É uma obra que se confunde com tantas outras do gênero e que não vai afetar sua noite de sono.

“O exorcita: o devoto” promete um recomeço para uma das franquias mais importantes do terror, mas se prova como mais uma continuação desnecessária, que parece não ter compreendido pontos importantes da obra original. Não funciona nem como atualização pros tempos de hoje, nem como homenagem ao clássico de 73. É um filme que falha em praticamente tudo o que se propõe. É torcer para que David Gordon Green deixe a trilogia, antes que tenhamos outra franquia clássica prejudicada.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS