Transições
Talvez seja um sintoma dos nossos tempos. E cada um dos tempos históricos assume algumas determinações que não conseguimos fugir. E temos a ingenuidade — ou a teimosia — em acreditar que os outros tempos eram diferentes, ou que as gerações passadas produziam músicas e políticos melhores.
Mas além de ser uma ilusão achar que nosso tempo é pior, e uma ingenuidade acreditar que caminhamos para uma evolução plena, é improdutivo (com perdão da palavra coach). Não voltaremos à mesma aura dos anos 1950, em um cinematográfico Rio de Janeiro de bondes e bossa nova; assim como não teremos os mesmos contextos dos anos 1980 (isso é bom e ruim ao mesmo tempo), onde a abertura democrática produzia um sentimento de liberdade plena.
Carregamos, sem a menor dúvida, as consequências do que vivemos antes. Basta olhar os presídios e as periferias e perceber que a escravidão perversamente mantida e mal finalizada deixaram feridas abertas e gangrenadas. E podemos sempre olhar para esses processos e perceber as incoerências deixadas e corrigi-las. Mas a humanidade mostra que quase nunca se faz isso como deve. Portanto, não olhamos para trás com olhos estudantis, mas mantemos nostalgias ilusórias.
No extremo dessa característica humana está o reacionarismo. Ele, o ser reacionário, quer a ruptura do presente, a destruição do modelo político e social vigente para voltar ao passado. Além do despautério de querer mexer no espaço-tempo sem atingir a velocidade da luz, esse passado é idealizado, inexistente, e mesmo em realidades paralelas reacionárias, é hipócrita.
Nas transições desse nosso tempo histórico, que estamos sendo forçados a conviver, o reacionário e o saudosista precisam ser colocados em prateleiras diferentes. O saudosista não entendeu que as condições são diferentes, e que os ciclos, mesmo obedecendo suas similaridades óbvias, não são adeptos da matemática exata. Acontecem, mas nem sempre avisam. E quase nunca marcam dia e local exatos.
Saudosista talvez todos sejamos, em algum momento. Em certa medida, comparar os modelos de vida de outrora com os de hoje tem seu valor semântico. Mas o reacionário deve ser combatido. Esse deve ser impedido de querer destruir as evoluções que a sociedade fez em nome de algo que sequer existe. Todo ditador é um reacionário por excelência, seja ele de qualquer ideologia que tenha advindo.
Não, não produzíamos músicas e políticos melhores. Essa percepção vem da incapacidade de olharmos para as expressões de hoje e reconhecer qualidades, pela própria proximidade e o curso em conjunto da história. Claro, há algumas exceções, basta olharmos para ontem e vermos Darcy Ribeiro e Vinicius de Moraes, Bertha Lutz e Elis Regina. Mas se tivermos a honestidade intelectual de assumir uma visão mais holística veremos que há muitas expressões de qualidade, em diversas áreas. Inclusive na política.
Não há como fugir da morte, dos impostos e do nosso tempo. Encontremos, então, um caminho de pouco saudosismo e muito olhar holístico. Mas, para que o reacionarismo não vença, o aprendizado histórico é fundamental. O sol também nasce em nosso tempo, a diferença é que precisamos de filtro para conviver com os raios contemporâneos.
Talvez seja um sintoma dos nossos tempos. E cada um dos tempos históricos assume algumas determinações que não conseguimos fugir. E temos a ingenuidade — ou a teimosia — em acreditar que os outros tempos eram diferentes, ou que as gerações passadas produziam músicas e políticos melhores.
Mas além de ser uma ilusão achar que nosso tempo é pior, e uma ingenuidade acreditar que caminhamos para uma evolução plena, é improdutivo (com perdão da palavra coach). Não voltaremos à mesma aura dos anos 1950, em um cinematográfico Rio de Janeiro de bondes e bossa nova; assim como não teremos os mesmos contextos dos anos 1980 (isso é bom e ruim ao mesmo tempo), onde a abertura democrática produzia um sentimento de liberdade plena.
Carregamos, sem a menor dúvida, as consequências do que vivemos antes. Basta olhar os presídios e as periferias e perceber que a escravidão perversamente mantida e mal finalizada deixaram feridas abertas e gangrenadas. E podemos sempre olhar para esses processos e perceber as incoerências deixadas e corrigi-las. Mas a humanidade mostra que quase nunca se faz isso como deve. Portanto, não olhamos para trás com olhos estudantis, mas mantemos nostalgias ilusórias.
No extremo dessa característica humana está o reacionarismo. Ele, o ser reacionário, quer a ruptura do presente, a destruição do modelo político e social vigente para voltar ao passado. Além do despautério de querer mexer no espaço-tempo sem atingir a velocidade da luz, esse passado é idealizado, inexistente, e mesmo em realidades paralelas reacionárias, é hipócrita.
Nas transições desse nosso tempo histórico, que estamos sendo forçados a conviver, o reacionário e o saudosista precisam ser colocados em prateleiras diferentes. O saudosista não entendeu que as condições são diferentes, e que os ciclos, mesmo obedecendo suas similaridades óbvias, não são adeptos da matemática exata. Acontecem, mas nem sempre avisam. E quase nunca marcam dia e local exatos.
Saudosista talvez todos sejamos, em algum momento. Em certa medida, comparar os modelos de vida de outrora com os de hoje tem seu valor semântico. Mas o reacionário deve ser combatido. Esse deve ser impedido de querer destruir as evoluções que a sociedade fez em nome de algo que sequer existe. Todo ditador é um reacionário por excelência, seja ele de qualquer ideologia que tenha advindo.
Não, não produzíamos músicas e políticos melhores. Essa percepção vem da incapacidade de olharmos para as expressões de hoje e reconhecer qualidades, pela própria proximidade e o curso em conjunto da história. Claro, há algumas exceções, basta olharmos para ontem e vermos Darcy Ribeiro e Vinicius de Moraes, Bertha Lutz e Elis Regina. Mas se tivermos a honestidade intelectual de assumir uma visão mais holística veremos que há muitas expressões de qualidade, em diversas áreas. Inclusive na política.
Não há como fugir da morte, dos impostos e do nosso tempo. Encontremos, então, um caminho de pouco saudosismo e muito olhar holístico. Mas, para que o reacionarismo não vença, o aprendizado histórico é fundamental. O sol também nasce em nosso tempo, a diferença é que precisamos de filtro para conviver com os raios contemporâneos.