Os sinais de alerta que a economia (não) dá em Lula III
Edmundo Siqueira 16/03/2024 21:50 - Atualizado em 16/03/2024 21:53
“Há uma crise no Palácio do Planalto”. Essa é uma afirmação recorrente no Brasil, mas que muitas vezes se refere a uma crise fabricada. Mas a queda de popularidade recente do governo Lula demonstra que há um problema, e que há no Planalto a necessidade de acender um sinal de alerta, uma luz amarela.


Segundo pesquisa feita pela Quaest, divulgada no último dia 6, a avaliação positiva do governo está em 35% e a negativa em 34%. Na pesquisa anterior, de dezembro, 36% avaliavam positivamente, contra 29%. Entre os evangélicos a queda de popularidade foi ainda maior: na pesquisa recente 48% dos evangélicos desaprovam o governo, o que antes estava em 36%.

O lulismo pode tentar suavizar os números e dizer que se trata de um “retrato do momento”, mas a verdade é que uma queda de popularidade em um governo que melhorou em 66 indicadores econômicos em um total de 99 (segundo análise da Folha de S.Paulo), não é para ignorar.

O levantamento da Folha de S.Paulo mostra que 66 indicadores melhoraram, 20 pioraram e 13 ficaram estáveis. Os dados são em comparação com 2022, e foram obtidos em estudos sobre saúde, educação, emprego e outras áreas.

Então, não é apenas a economia que interfere na avaliação da população. Há mais em jogo, e as questões morais e de costume são determinantes em um país que apresenta uma “polarização afetiva” tão forte. Quando analisamos os números entre os evangélicos isso é ainda mais evidente.

Pesquisa para que te quero

Pesquisa não é dogma, mas não deve ser ignorada. O que ela apresenta é de fato uma mostra do momento em que ela foi aplicada; e não poderia ser diferente. Dinâmicas e premissas mudam sempre, e os resultados das pesquisas seguem o mesmo padrão de comportamento da sociedade — e se não fosse assim, não serviria para muita coisa.

Ademais, as pesquisas, quando avaliadas como se deve — em sua totalidade e não em recortes oportunistas — , e em suas séries históricas, conseguem apontar tendências e os movimentos das opiniões, sejam de eleitores ou de consumidores.

A pesquisa Quaest aqui trazida informa ainda que a parcela que tem opinião regular sobre o governo petista era de 32% e agora está em 28%; não responderam ou não souberam 3%. A pesquisa ouviu presencialmente nesta rodada 2.000 pessoas dos dias 25 a 27 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Não é só a economia, estúpido!


Nesse cenário, não é difícil lembrar o lema de James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra o então presidente George H. W. Bush: “It's the economy, stupid!” (É a economia, idiota!) — uma pequena variação da frase “The economy, stupid!”, cunhada em 1992.

A questão é que a economia, no momento atual do Brasil, não é a principal variante para aprovação ou reprovação do governo. Há uma expressiva parcela da sociedade que está preocupada com que tipo de ambiente os filhos vão frequentar, em escolas e lugares públicos, se as drogas serão ou não liberadas, ou se o aborto será legal ou não, e outros temas mais relacionados aos costumes.

Para essa parcela da sociedade, as percepções de melhora na economia não são determinantes, e quando afetam diretamente são justificadas como sendo pelos movimentos naturais do mercado ou ainda por governos anteriores.

Já para a parte mais sensível às determinações econômicas, a inflação de alimentos acabou por retirar os efeitos positivos sentidos. Os preços dos itens alimentícios vêm subindo acima da inflação desde outubro do ano passado. E, só este ano, a alta chega a 2,95% — mais que o dobro do 1,25% do IPCA, índice oficial de inflação.

Na última quinta-feira (14), o presidente Lula, realizou uma reunião ministerial para discutir os preços dos alimentos.

E o Mercado?

O chamado “mercado” também andou se estranhando com o governo quando Lula resolveu intervir diretamente na questão dos dividendos da Petrobras. A administração da companhia vem sofrendo muitas críticas em função da retenção de dividendos extraordinários promovida pelo Conselho de Administração.

Além dos dividendos retidos, a situação do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, preocupa o mercado. A decisão do colegiado, segundo ele, foi orientada pelo “presidente da República e pelos seus auxiliares diretos”.

Aí reside o maior medo do mercado em relação ao governo Lula: intervenção. O PT tem a clara convicção que o estado deve ser o principal indutor da economia, e que empresas estatais precisam estar a serviço da sociedade brasileira, e não de acionistas. Embora seja um caminho possível, empresas de capital aberto possuem regras próprias.

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