Livraria de shopping
Claro que a livraria não é boba, tampouco instituição de caridade. A permissão para leituras gratuitas serve para estimular você a levar a obra. E muitas vezes vejo o ímpeto consumista, outrora criticado, me vencer. Sem perceber, me vejo negociando comigo mesmo um Oscar Wilde, um Hemingway que já li mas não tenho, um box de Rubem Fonseca, ou um Carla Madeira que lançou recentemente.
Neste fim de semana, na livraria do shopping campista, estava eu saindo com uma sacola verde nas mãos, que embalava uma obra de sociologia política da atualidade, irresistivelmente exposta na prateleira do mezanino, e vejo um público jovem garimpando livros em várias seções, principalmente nos romances.
Como sou um frequentador de livrarias de shopping quase profissional, treinei minha visão para perceber quem está ali para comprar canetas e estojos, e quem está interessado em literatura. Para minha surpresa, e esperançoso renovar de energia vital, sempre vejo muitos consumidores jovens realmente interessados nos livros.
Meninas e meninos, por volta de 14-16 anos (entre os adolescentes o público feminino é maior, entre crianças é bem dividido), realmente interessados, e discutindo literatura entre eles. Sei que é uma amostragem pequena e burguesa, mas confesso que saio feliz ao ver que os livros ainda encantam, em tempos de IA e TikTok.
Tomara que as livrarias, pelo menos as de shopping, sobrevivam. Ainda não sei o que fazer quando tiver que ir nesses lugares e o contrato não puder ser cumprido por falta de objeto.
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Agradeço aos deuses da literatura por (ainda) existir livraria em shopping center.
Devo confessar que uma das missões familiares mais custosas para mim é frequentar esses espaços malls (shoppings). Geralmente saio de lá entediado e esgotado, com a sensação que gastei toda minha energia vital. Mas, há muito descobri um refúgio naquele mundo de lojas de departamento e restaurantes barulhentos: a livraria.
Fizemos um acordo, eu e minha esposa. E sua aplicação se estende a qualquer familiar ou amigo que esteja em nossa companhia naquele momento difícil (para mim, pelo menos). Regras não escritas que devem ser respeitadas, mesmo em minha ausência: “ele deve ter ido comprar alguma coisa”, responde ela, caso algum desavisado reclame o fato de eu ter desaparecido subitamente.
Devo confessar que uma das missões familiares mais custosas para mim é frequentar esses espaços malls (shoppings). Geralmente saio de lá entediado e esgotado, com a sensação que gastei toda minha energia vital. Mas, há muito descobri um refúgio naquele mundo de lojas de departamento e restaurantes barulhentos: a livraria.
Fizemos um acordo, eu e minha esposa. E sua aplicação se estende a qualquer familiar ou amigo que esteja em nossa companhia naquele momento difícil (para mim, pelo menos). Regras não escritas que devem ser respeitadas, mesmo em minha ausência: “ele deve ter ido comprar alguma coisa”, responde ela, caso algum desavisado reclame o fato de eu ter desaparecido subitamente.
Em troca da mentira social, e da cumplicidade exercida, ela pode demorar o tempo que quiser no shopping. E ainda pode me requisitar para uma segunda opinião sobre tecnologia, e até sobre roupas. Pelo menos naquele ambiente, nos permitimos estratificações sociais e levezas consumistas mútuas.
Praticamente o único item exigido por mim nesse acordo pré-mall é me deixar enfurnado na primeira livraria decente que apareça no shopping. No Rio, muitos desses ambientes absorvedores de energia vital possuem ótimas livrarias. Na Zona Sul tem umas mais modernas e com bastante novidade do mercado literário, na Barra da Tijuca tem uma mais clássica, ampla, bonita, com música ambiente. Lugares onde levo o tempo para passear, enquanto o acordo vai se cumprindo.
Em Campos, até onde eu sei, apenas um shopping tem livraria. Boa livraria, por sinal. No mezanino tem vários setores interessantes de garimpar, uma ou outra revista cult, e cadeiras pretas e acolchoadas; confortáveis para descansar as pernas e ativar o lobo temporal esquerdo.
Talvez nem todos saibam, mas nessas livrarias você pode se sentar e folhear o livro que quiser. É o que eu faço no meu momento de liberdade apalavrada. Em geral, pego um livro de história ou política e leio até onde dá. Ou até o celular avisar que o acordo está vencendo, ou ainda a cláusula sobre ser requisitado é acionada pela esposa.
Praticamente o único item exigido por mim nesse acordo pré-mall é me deixar enfurnado na primeira livraria decente que apareça no shopping. No Rio, muitos desses ambientes absorvedores de energia vital possuem ótimas livrarias. Na Zona Sul tem umas mais modernas e com bastante novidade do mercado literário, na Barra da Tijuca tem uma mais clássica, ampla, bonita, com música ambiente. Lugares onde levo o tempo para passear, enquanto o acordo vai se cumprindo.
Em Campos, até onde eu sei, apenas um shopping tem livraria. Boa livraria, por sinal. No mezanino tem vários setores interessantes de garimpar, uma ou outra revista cult, e cadeiras pretas e acolchoadas; confortáveis para descansar as pernas e ativar o lobo temporal esquerdo.
Talvez nem todos saibam, mas nessas livrarias você pode se sentar e folhear o livro que quiser. É o que eu faço no meu momento de liberdade apalavrada. Em geral, pego um livro de história ou política e leio até onde dá. Ou até o celular avisar que o acordo está vencendo, ou ainda a cláusula sobre ser requisitado é acionada pela esposa.
Claro que a livraria não é boba, tampouco instituição de caridade. A permissão para leituras gratuitas serve para estimular você a levar a obra. E muitas vezes vejo o ímpeto consumista, outrora criticado, me vencer. Sem perceber, me vejo negociando comigo mesmo um Oscar Wilde, um Hemingway que já li mas não tenho, um box de Rubem Fonseca, ou um Carla Madeira que lançou recentemente.
Neste fim de semana, na livraria do shopping campista, estava eu saindo com uma sacola verde nas mãos, que embalava uma obra de sociologia política da atualidade, irresistivelmente exposta na prateleira do mezanino, e vejo um público jovem garimpando livros em várias seções, principalmente nos romances.
Como sou um frequentador de livrarias de shopping quase profissional, treinei minha visão para perceber quem está ali para comprar canetas e estojos, e quem está interessado em literatura. Para minha surpresa, e esperançoso renovar de energia vital, sempre vejo muitos consumidores jovens realmente interessados nos livros.
Meninas e meninos, por volta de 14-16 anos (entre os adolescentes o público feminino é maior, entre crianças é bem dividido), realmente interessados, e discutindo literatura entre eles. Sei que é uma amostragem pequena e burguesa, mas confesso que saio feliz ao ver que os livros ainda encantam, em tempos de IA e TikTok.
Tomara que as livrarias, pelo menos as de shopping, sobrevivam. Ainda não sei o que fazer quando tiver que ir nesses lugares e o contrato não puder ser cumprido por falta de objeto.
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