15 de novembro: O campista que proclamou a República, mesmo sem querer
Em um dia como hoje — talvez não tão quente —, por volta das 18 horas, José do Patrocínio proclamava a primeira república que o Brasil iria experimentar. Nascido em Campos dos Goytacazes, Patrocínio era vereador no Rio de Janeiro quando a monarquia caiu.
O documento que Patrocínio leu naquele início de noite era o marco zero da República. Parte da historiografia credita ao marechal Deodoro da Fonseca, mas o ato formal da criação republicana se deu na Câmara.
Antes disso, o movimento que mudaria o regime político no Brasil — e que se consolidou em um golpe militar — teve seu início em quartéis, igrejas e cafezais. O imperador Dom Pedro II não era exatamente impopular entre os brasileiros, mas desagradava as Forças Armadas, a Igreja Católica e os produtores rurais. Por motivos diferentes, mas o fim da escravidão decretado pela princesa regente Isabel um ano antes daquele 15 de novembro, era um deles.
O movimento golpista-republicano precisava de uma liderança forte, e ninguém melhor que o herói de guerra Deodoro da Fonseca para exercê-lo. Deodoro entrou na Guerra do Paraguai como capitão e saiu como brigadeiro. Pouco depois, marechal. O problema era que o líder escolhido pelos republicanos era um monarquista convicto e amigo pessoal do imperador Pedro II.
Tanto que, no dia da proclamação, um titubeante marechal ainda tinha dúvidas sobre aquele movimento, mas fora convencido por republicanistas, como Benjamin Constant, que aquele era o movimento certo, o melhor para o Brasil.
A ideia republicana não era nova no Brasil, mas tinha pouca força até que a insatisfação com o Império começou a crescer. Fora dos clubes e partidos republicanos, intelectuais, jornalistas, professores, advogados e outros formadores de opinião só aderiram à ideia de transformar o Brasil numa República pouco antes da proclamação. Já o restante do povo, assistia a tudo “bestializado”, como definiu o jornalista Aristides Lobo, três dias depois do 15 de novembro.
Um dos que só aderiu definitivamente à causa republicana nos momentos finais da monarquia foi Patrocínio. O campista radicado no Rio fez sua carreira como político e jornalista, mas era principalmente um abolicionista. Era a principal causa de sua vida. Quando Isabel assinou a Lei Áurea, a admiração de Patrocínio por ela cresceu ainda mais, e gostava da ideia dela assumir o trono. Mas, a “arte do possível” se impôs, e a conjuntura daquele momento histórico não permitiu que Patrocínio tivesse muitas escolhas. A realidade dos fatos mostrou sua força, como faz desde que política é política. Sendo o caminho possível, Patrício usou sua oratória admirada para proclamar a República.
E não havia muito a ser feito pela monarquia. Ela estava muito enfraquecida, e a decisão de terminar de vez com a perversidade da escravidão foi a gota d’água para quem dependia dela para enriquecer. E ainda a decisão de não indenizar os donos de pessoas escravizadas por perderem seus “patrimônios” foi vista como uma afronta.
O golpe militar que derrubou a monarquia não teve muito trabalho para se concretizar, tampouco precisou do uso de armas. A família real deixou o país, sem oferecer resistência, como quis D. Pedro II. Com a proclamação da República, foi implantado o federalismo, o voto (quase) universal masculino, o fim do voto censitário, a implantação do estado laico e do presidencialismo.
Caso não fosse a história do Brasil interrompida por outros golpes militares, a criação da República traria ganhos significativos com o passar dos anos. Após o último golpe, o que convencionou-se chamar de “Nova República” consolidou a democracia no país, estabeleceu direitos fundamentais e permitiu que uma quantidade enorme de pessoas tivesse acesso à educação, saúde e moradia.
Mas ainda estamos em uma situação de extrema desigualdade e insegurança nos grandes centros urbanos. Resolvemos a questão republicana, mas Patrocínio estava certo: a luta principal era fazer uma abolição bem feita.
O documento que Patrocínio leu naquele início de noite era o marco zero da República. Parte da historiografia credita ao marechal Deodoro da Fonseca, mas o ato formal da criação republicana se deu na Câmara.
Antes disso, o movimento que mudaria o regime político no Brasil — e que se consolidou em um golpe militar — teve seu início em quartéis, igrejas e cafezais. O imperador Dom Pedro II não era exatamente impopular entre os brasileiros, mas desagradava as Forças Armadas, a Igreja Católica e os produtores rurais. Por motivos diferentes, mas o fim da escravidão decretado pela princesa regente Isabel um ano antes daquele 15 de novembro, era um deles.
O movimento golpista-republicano precisava de uma liderança forte, e ninguém melhor que o herói de guerra Deodoro da Fonseca para exercê-lo. Deodoro entrou na Guerra do Paraguai como capitão e saiu como brigadeiro. Pouco depois, marechal. O problema era que o líder escolhido pelos republicanos era um monarquista convicto e amigo pessoal do imperador Pedro II.
Tanto que, no dia da proclamação, um titubeante marechal ainda tinha dúvidas sobre aquele movimento, mas fora convencido por republicanistas, como Benjamin Constant, que aquele era o movimento certo, o melhor para o Brasil.
A ideia republicana não era nova no Brasil, mas tinha pouca força até que a insatisfação com o Império começou a crescer. Fora dos clubes e partidos republicanos, intelectuais, jornalistas, professores, advogados e outros formadores de opinião só aderiram à ideia de transformar o Brasil numa República pouco antes da proclamação. Já o restante do povo, assistia a tudo “bestializado”, como definiu o jornalista Aristides Lobo, três dias depois do 15 de novembro.
Um dos que só aderiu definitivamente à causa republicana nos momentos finais da monarquia foi Patrocínio. O campista radicado no Rio fez sua carreira como político e jornalista, mas era principalmente um abolicionista. Era a principal causa de sua vida. Quando Isabel assinou a Lei Áurea, a admiração de Patrocínio por ela cresceu ainda mais, e gostava da ideia dela assumir o trono. Mas, a “arte do possível” se impôs, e a conjuntura daquele momento histórico não permitiu que Patrocínio tivesse muitas escolhas. A realidade dos fatos mostrou sua força, como faz desde que política é política. Sendo o caminho possível, Patrício usou sua oratória admirada para proclamar a República.
E não havia muito a ser feito pela monarquia. Ela estava muito enfraquecida, e a decisão de terminar de vez com a perversidade da escravidão foi a gota d’água para quem dependia dela para enriquecer. E ainda a decisão de não indenizar os donos de pessoas escravizadas por perderem seus “patrimônios” foi vista como uma afronta.
O golpe militar que derrubou a monarquia não teve muito trabalho para se concretizar, tampouco precisou do uso de armas. A família real deixou o país, sem oferecer resistência, como quis D. Pedro II. Com a proclamação da República, foi implantado o federalismo, o voto (quase) universal masculino, o fim do voto censitário, a implantação do estado laico e do presidencialismo.
Caso não fosse a história do Brasil interrompida por outros golpes militares, a criação da República traria ganhos significativos com o passar dos anos. Após o último golpe, o que convencionou-se chamar de “Nova República” consolidou a democracia no país, estabeleceu direitos fundamentais e permitiu que uma quantidade enorme de pessoas tivesse acesso à educação, saúde e moradia.
Mas ainda estamos em uma situação de extrema desigualdade e insegurança nos grandes centros urbanos. Resolvemos a questão republicana, mas Patrocínio estava certo: a luta principal era fazer uma abolição bem feita.