É uma concorrência extremamente desleal. A gigante, que em 2022 tinha 12 centros de distribuição em 7 Estados, além de várias estações de entrega, com bilhões de faturamento, pode ser pequena perto de suas concorrentes no mercado de varejo eletrônico, mas a Amazon é a principal empresa na venda online de livros.
A empresa acabou por determinar o preço do livro no Brasil, oferecendo descontos que se tornam impossíveis para pequenas editoras e livrarias locais, estas sem estrutura de distribuição, com operação e logística minúsculas.
A Ao Livro Verde seguiu o caminho de livrarias bem maiores que ela. Assim como a Cultura, de abrangência nacional, e a carioca Leonardo da Vinci, também pediu falência (leia matéria do Blog de Matheus Berriel aqui). No caso da livraria campista — a mais antiga do Brasil, fundada em 1844 — as dívidas chegam próximo a casa de 1,9 milhão de reais, com apenas algo em torno de R$ 730 mil em ativos. É uma situação de insolvência, em um mercado que se mostra em declínio.
A sociedade civil marcou eventos para mobilizar ainda mais a campanha para salvar a livraria, mas em uma situação de falência, sem gerar retorno financeiro ou incremento em vendas, a ajuda provocará pouco efeito prático. Porém ela é essencial para que o poder público se mobilize.
A ideia de repactuar dívidas junto aos bancos (fonte da maioria dos problemas financeiros da livraria) proposta na Câmara é fundamental, porém é apenas uma parte do que é preciso ser feito. O tombamento do patrimônio imaterial — da marca Ao Livro Verde — também é importante, mas trata-se de outra etapa, apenas. O prédio onde ela está instalada já é tombado como patrimônio material, mas não pertence à livraria.
No caso da Livraria da Vinci, no Rio, a marca foi comprada por uma rede maior, que manteve o nome e a aura do local. Em 2015, ela foi comprada pelo livreiro Daniel Louzada, seu atual proprietário.
O que pode ser feito, então?
Como bem de valor coletivo, portanto, deve o poder público agir. E para tanto, aportar recursos — financeiros e humanos.
Mais que isso: temos uma biblioteca pública extremamente simbólica abandonada pelo poder público há bastante tempo. A Biblioteca Nilo Peçanha, que antes funcionava no Palácio da Cultura, hoje tem parte de seu acervo no Arquivo Público e outra acondicionada no interior do Palácio, completamente inacessível à população. Uma biblioteca municipal instalada na Ao Livro Verde resolveria esse problema.
Aliás, a ida da Ao Livro Verde para o Palácio da Cultura se mostra como uma boa opção para movimentar e modernizar a livraria, dar uso aquele equipamento cultural fechado, e baratear a revitalização da Biblioteca Nilo Peçanha e da Ao Livro Verde, que podem andar juntas.
Existem soluções, mas elas não passam por ações isoladas. Uma audiência pública na Câmara, com a participação da sociedade, da prefeitura e dos proprietários da Ao Livro Verde, seria um importante passo. Mas para ontem. Ou a histórica de Campos não vale o esforço?