O Museu Olavo Cardoso é um relevante equipamento cultural de Campos, na área central da cidade, que pertence à municipalidade desde que a casa foi doada em testamento, assim que morresse o último herdeiro do usineiro que batiza a instituição. A ideia de Olavo era que sua residência servisse como um local de preservação da memória e da história de Campos.
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No final de 2020, criminosos furtaram quase tudo do interior do museu: mobília, livros, quadros, peças de arte, objetos de decoração e itens históricos de alto valor. Neste ano, no início do mês de março, sofreu outra ação criminosa contra as estruturas de ferro que compõem o entorno e ainda estão gradeando seu belo jardim; ação felizmente frustrada pela polícia.
‘Cadê a varanda que estava ali’?
Em estado de total abandono, o risco de ruína da casa é visível. Como bem tombado em âmbito municipal, pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), não apenas a construção principal é protegida. Seu entorno — jardins, grades, muros e objetos decorativos —, fachada, sacadas e varandas também estão impedidas de serem descaracterizadas — ou pelo menos, deveriam.
Após a veiculação de uma parceria entre poder público e o Instituto Federal Fluminense (IFF) — que teria como objeto o Olavo Cardoso — onde a instituição de ensino doaria o projeto de restauro, o museu-casa voltou a ser discutido, mas sem nenhum avanço significativo.
Em matéria recente do blog de Matheus Berriel, da Folha da Manhã, foi noticiado que o letreiro da antiga Estação Leopoldina estava “esquecido numa garagem do Museu Olavo Cardoso”. Após a publicação, o item histórico foi transferido para a principal instituição museística da cidade, na Praça São Salvador.
De forma reativa, após matérias e cobranças, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) decidiu intervir na casa de Olavo e, com uma retroescavadeira, adentrou em seus jardins para uma suposta limpeza, onde o mato havia crescido pelo abandono. A ação foi fotografada e divulgada nas redes sociais da Fundação, que disse estar “cuidando de seus equipamentos”.
Além da máquina no jardim, outro ponto chamou a atenção: a varanda do patrimônio histórico, tombado pelo Coppam, havia desaparecido. Diversos comentários na postagem questionam “cadê a varanda?”, mas não foram respondidos pela FCJOL.
A varanda do Olavo Cardoso, bem como um balanço de cor verde que havia no jardim da casa, são elementos essenciais do patrimônio, e objetos de grande memória afetiva dos campistas. Nas imagens divulgadas pela fundação, os pilares de inspiração greco-romana que sustentavam a varanda não são mais vistos, onde aparecem apenas funcionários executando intervenções na estrutura.
Na legenda, a Fundação diz que “segue empenhada na conquista da tão sonhada restauração do imóvel museu-casa Olavo Cardoso”. Na prática, o que se viu foi uma intervenção descabida, sem aviso prévio e autorização dos órgãos de proteção ao patrimônio e muita descaracterização.
Ah, se Olavo soubesse…
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Ao leitor, informo que fui autor da proposta de parceria entre o IFF e a prefeitura, no caso específico do Olavo Cardoso. A partir de minha sugestão, a Fundação iniciou os trâmites para que fosse efetivada. O IFF já havia sido contactado para ajudar em questões culturais da cidade, mas não havia a proposta de doação de projeto para o Olavo, até então.
Porém, segundo apurei, não houveram avanços significativos da parceria, e a arquiteta que se dispôs a entregar o projeto de forma gratuita não foi mais contactada. Enquanto isso, o Olavo Cardoso segue agonizando.