Pampolha é exonerado por Castro e culpa influência externa
Desde que confirmou, há dois meses, a troca do União Brasil pelo MDB, o vice-governador Thiago Pampolha (MDB) passou a ser uma espécie de “persona non grata” até para o governador Claúdio Castro (PL), tanto que eram esperadas consequências da relação abalada entre os dois. E uma delas se tornou pública nesta terça-feira (5), em edição extra do Diário Oficial do Estado do Rio, que trouxe a exoneração de Pampolha da secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (Seas), cargo que exercia desde o início do mandato.
O vice-governador trocou o União Brasil pelo MDB depois que o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, passou a comandar a antiga sigla dele. Os dois, como mostrou aqui a coluna Ponto Final da Folha, têm interesse em ser o sucessor de Castro em 2026. Com Bacellar indo do PL ao União, Pampolha ficaria sem espaço e o objetivo dele já é começar a fortalecer seu nome nos municípios, inclusive do interior, nestas eleições de 2024 para consolidar apoios e o retorno deles lá na frente pela disputa ao Governo do Estado.
Ao G1, Pampolha disse que sua exoneração já era esperada e que Castro “cometeu um grave erro político” ao demiti-lo. Já à Veja, ele falou mais, apontando uma influência externa para a exoneração:
— Se estava descontente comigo, o que deveria ter feito era sentar e conversar, não ignorar. A decisão sobre o comando das secretarias é dele, ele pode trocar, como fez. Mas da minha vida política cuido eu. E daqui pra frente, com completo respeito a ele, o que não se negocia. Comprometimento com o trabalho, institucionalmente. Mas politicamente, não me sinto mais do grupo político dele. Não houve um motivo contundente. Se ele me demite porque não entreguei, porque sou preguiçoso, tudo bem. Mas não por picuinha política. Não tem bom senso, razoabilidade. Fui injustiçado. Não há argumento que sustente isso, houve uma deslealdade política. O que imagino é que ele recebeu uma orientação de alguém que tem interesse nessa ruptura, e não teve como negar.
Pampolha teve na noite dessa segunda-feira uma reunião com Castro, mas o clima seguiu tenso. “Daqui em diante, nos cabe manter uma relação institucional e de trabalho, em nome do Governo do Estado. Mas na política, vamos tocar nosso caminho separados”, afirmou também à Veja, ressaltando, ainda, que a insatisfação de Castro estaria atrelada ao fato dele não ter aceitado trocar de partido depois da eleição. “Ligaram até para o Michel Temer para tentar impedir a filiação”, completou.
A troca de partido foi efetivada no dia 4 de fevereiro em São Paulo (aqui), mas sem a presença de Castro. O ingresso de Thiago no MDB foi a convite do presidente nacional da sigla, o deputado federal Baleia Rossi, e do governador do Pará, Helder Barbalho. Também participaram do encontro o ex-ministro Moreira Franco e vários políticos fluminenses.
A migração ocorreu semanas depois de o STJ (Superior Tribunal de Justiça) avançar em investigações contra Castro. Também foi mal visto o fato de os principais articuladores da mudança serem membros da ala do MDB mais próxima ao presidente Lula, como o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Castro é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para o lugar de Pampolha na Seas, entrou Bernardo Rossi (Solidariedade), que estava da secretaria de Governo, e tem forte ligação com Rodrigo Bacellar. Para o lugar de Rossi, foi nomeado André Dantas, que ocupa o cargo de Secretário Extraordinário do Governo em Brasília e vai acumular as duas.
O Palácio Guanabara informou ao G1 que “trocas na gestão faz parte e o governador tem autonomia para fazer ajustes”.
Segundo revelou a colunista Berenice Seara, do site Tempo Real, “institucionalmente, Castro diz que o movimento de Pampolha provocou um desequilíbrio das forças políticas no governo e que é necessária uma recomposição. O MDB, que só tem dois deputados estaduais, passou a ocupar três secretarias, mais do que outros partidos da base — que têm um peso maior no parlamento”.
Reflexos
Se antes falava-se que o interesse do presidente da Alerj era chegar ao Tribunal de Contas do Estado, isso não seria mais o suficiente. Tanto, conforme revelou a Folha de São Paulo, Bacellar já apresentou ao governador a opção de não deixar o cargo em 2026, tendo como garantia uma vaga no TCE. “Os deputados com quem conversei todos apoiaram a sugestão”, disse Bacellar à Folha de São Paulo.
Também já não é segredo que as movimentações na capital envolvendo Pampolha, inclusive, foram o que acentuaram a crise em Campos com o desacordo na votação da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO). Foi um encontro entre o prefeito Wladimir Garotinho com o vice-governador no Rio, que acabou gerando um desconforto na pacificação com Rodrigo Bacellar, principalmente depois que o encontro se tornou público, no dia 13 de julho do ano passado, em uma nota publicada pelo jornalista Cláudio Magnavita no Correio da Manhã.
A nota trazia a seguinte informação: “O prestígio do prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, é tão grande que o seu nome já é lembrado para ser o vice de Thiago Pampolha, em 2026, quando o atual vice-governador deverá disputar a reeleição. Alguém duvida que Wladimir, algum dia, será o terceiro governador da família Garotinho?”. O próprio Wladimir, ao participar do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, no dia 11 de agosto de 2023, confirmou que a reunião que teve na capital refletiu em Campos. Nos bastidores, comenta-se que foi neste momento que Bacellar teria convocado os vereadores do seu grupo para irem à capital, onde se definiu os próximos passos da pacificação com a votação da LDO, ainda em agosto, sendo usada como um recado ao prefeito.
“Essa briga não é de Campos, essa briga é do Rio”, disse o prefeito na ocasião, no Folha no Ar, falando também do encontro. “Tive uma reunião com o Pampolha para liberar recursos para a obra da Beira-Valão, e Rodrigo teria ficado chateado com o meu encontro com Pampolha. A gente tem que saber separar as coisas. Tem a relação institucional e tem a relação política partidária”.