Campistas têm álbuns raros em suas grandes coleções de discos de vinil
Matheus Berriel 18/11/2023 08:56 - Atualizado em 18/11/2023 09:18
Wellington Cordeiro, Paulo André Barbosa e Gustavo Soffiati exibem relíquias das suas coleções
Wellington Cordeiro, Paulo André Barbosa e Gustavo Soffiati exibem relíquias das suas coleções / Fotos: Reprodução
O que há por trás dos discos de vinil, que, 75 anos após terem sido criados, ainda encantam pessoas de diferentes gerações? Muitas inovações surgiram desde o enfraquecimento desse tipo de mídia no mercado, mas ainda são muitos os ouvintes que não abrem mão de escutar música à “moda antiga”. Em Campos, por exemplo, existem vários colecionadores de vinis.
Conhecido por sua longa atuação na Rádio Caiana, o DJ Paulo André Barbosa é referência do assunto na planície goitacá. Montando o seu acervo pessoal desde meados dos anos 1980, ele possui cerca de 2 mil discos diferentes, sem contar os mais de 500 que colocou à venda ao montar um bazar.
— O disco de vinil tem a qualidade nos sons do médio e o resgate das capas (encartes), em que há informações bem mais detalhadas. No streaming, por exemplo, muitas vezes você não sabe quem é o compositor de uma música, não sabe quem toca — destaca Paulo André Barbosa. — Um vinil bem guardado dura muito tempo. Há controvérsias sobre qual mídia tem o som melhor, mas o som do vinil apresenta um médio bem mais equilibrado numa aparelhagem de som boa, vintage. Não adianta usar essas vitrolinhas, porque não fica bom. A gente tem que priorizar a qualidade do som — enfatiza.
Uma das raridades da coleção de Paulo André é o disco “Racional - Volume 1”. Gravado em 1974 e lançado no ano seguinte, trata-se do quinto álbum de estúdio do cantor e compositor Tim Maia. Originalmente com baixo apelo comercial, o álbum teve baixa vendagem, tornando-se cult com o passar dos anos. Outro a possuir essa relíquia é o professor Gustavo Landim Soffiati, cujo acervo de discos superou a marca de 30 mil unidades.
— Eu coleciono discos (não só de vinil, mas também CD’s) desde 1991. Já tinha antes, porque sou de 1976 e, durante minha infância, uma das únicas formas de acesso a músicas era por discos e fitas, além de rádio e TV. Então, como criança de classe média, eu tinha LPs (long-plays) de Balão Mágico, Arca de Noé e aqueles compactos com vinil colorido, da série Disquinho, com contos de fadas. Já na adolescência, comecei a comprar discos de rock. Considero esse momento o de início da minha coleção — explica Gustavo, filho do professor e historiador Aristides Arthur Soffiati, articulista da Folha da Manhã.
Do rock, Gustavo Soffiati transitou por outros gêneros. Uma das suas prioridades era formar um acervo com os mais variados álbuns de música popular brasileira, por ter identificado em seus estudos o crescimento do estrangeirismo a partir da década de 1950.
— Sem abandonar o gosto por grande parte do que já apreciava, fui então em busca de produção brasileira. Fora isso, tenho interesse histórico e sociológico por qualquer tipo de manifestação musical. Já no início deste século, comecei a buscar também discos de 78 rpm (rotações por minuto), em grande parte de goma-laca, material mais quebrável que o vinil, fabricados no Brasil de 1902 a 1964. Isso me fez atingir um acervo com cerca de 30 mil discos, embora com muitos itens repetidos e/ou desinteressantes para mim — detalha o colecionador.
Além do famoso "Racional” de Tim Maia, outra raridade na coleção de Gustavo Soffiati é um 78 rpm do Grupo da Velha Guarda, contendo as faixas “Há! Hu! Lahô!” e “Patrão prenda seu gado”. Os créditos no selo, em que aparecem os nomes E. dos Santos, J. Bahiana e A. Vianna, referem-se a Donga, João da Baiana e Pixinguinha, “a santíssima trindade do samba”.
É justamente na batucada que a coleção de Gustavo Soffiati mais se conecta com a do fotógrafo Wellington Cordeiro. Atual presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington coleciona discos de vinil há cerca de 20 anos, sendo os álbuns de samba os que mais lhe encantam no momento. Entre suas relíquias, destacam-se os títulos “Quatro grandes do samba”, que reuniu os bambas Nelson Cavaquinho, Candeia, Guilherme de Brito e Elton Medeiros, e “Canto livre de Angola”, gravado ao vivo, em 1983, num show de músicos angolanos no Rio de Janeiro, com produção de Martinho da Vila.
— Comecei minha coleção querendo reunir o máximo de discos. A ideia era ter uma coleção quantitativa, e por isso não me preocupava a qualidade. Muitos discos da minha coleção eu nunca ouvi. Mas, ao longo do tempo, fui diminuindo essa gana, exatamente quando atingi o patamar de 2.500 discos. Atualmente, só adquiro os que tenham a ver com o meu gosto musical. Tenho priorizado os de samba — explica o presidente da AIC.
A relação de Wellington Cordeiro com a fotografia faz com que sua paixão pelos vinis também englobe aspectos visuais. Seu trabalho de conclusão de curso (TCC) no campo das artes visuais, pela antiga Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic), analisou a arte das capas de LPs.
Prova de que ainda há grande procura por discos de vinil é a existência de clubes por assinatura. Em serviços como Noize, Clube do Vinil e Três Selos, podem ser obtidos mensalmente álbuns inéditos ou reedições, além de material impresso sobre cada obra. Outras opções para compra são os sebos — existentes em Campos —, lojas especializadas nos grandes centros e sites ou grupos de colecionadores na internet. Para colecionadores iniciantes, inclusive, existem os lotes “secretos”, com grande número de discos por um preço mais acessível, possibilitando o crescimento de acervos e, se necessária, a revenda.
— As novas tecnologias são essenciais para o mundo corrido em que vivemos, mas creio que a visita ao nosso passado é uma conexão não menos essencial. O disco de vinil tem o poder de nos reconectar com um tempo bom, de reunião de amigos para a audição coletiva — define Wellington Cordeiro.

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