'O samba está sendo bem tratado também fora do Rio de Janeiro', afirma Gabriel da Muda
Matheus Berriel 19/09/2023 12:33 - Atualizado em 19/09/2023 15:12
Gabriel se apresentou com o Palma Contra Palma
Gabriel se apresentou com o Palma Contra Palma / Foto: Sérgio Tinoco/Divulgação
Em Campos a convite do grupo local Palma Contra Palma, com quem se apresentou na Casa da Árvore na noite da última sexta-feira (15), o cantor, compositor e cavaquinista Gabriel Cavalcante pode ser considerado um bamba no sentido estrito do termo. Afinal, apesar dos apenas 37 anos de idade, o popular Gabriel da Muda participou de importantes movimentos no Rio de Janeiro, como o tradicional Samba da Ouvidor, e é uma das figuras primordiais do Samba do Trabalhador. Numa entrevista breve, mas repleta de conteúdo, ele falou sobre as vezes em que cantou na planície goitacá, e, sendo também muito ligado à gastronomia, não poupou elogios ao famoso torresmo de rolo do Boteco do Cabeça, vencedor do Festival de Comida de Boteco de Campos, em abril. Também comentou o atual momento do samba; a canção “Som de Prata”, homenagem de Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro a Pixinguinha, que é sucesso na sua voz; o novo álbum a caminho e a paixão pelo Flamengo, adormecida, mas gravada na pele.
Sua vinda a Campos foi uma iniciativa do Palma Contra Palma que muito agradou aos amantes do samba locais. Possui alguma relação anterior com a cidade?
Já vim a Campos algumas vezes, tanto com o Samba do Trabalhador quanto sozinho, para dividir um show com o Moyseis Marques aqui. Sempre fui muito bem recebido. Sinto que o povo de Campos gosta muito de samba, é muito ligado, conhece o nosso repertório. Ser recebido aqui da forma como sempre sou recebido é um negócio que, realmente, me deixa muito feliz, por saber que o samba está sendo bem tratado também fora do Rio de Janeiro.
Sua idade não lhe permite ser considerado da “velha geração”, mas você construiu uma trajetória com atuação em importantes movimentos no samba carioca. Sendo uma referência para os sambistas que estão chegando, como avalia o atual cenário do gênero?
Existe neste momento, no Brasil, uma explosão de rodas de samba. Hoje em dia, as rodas de samba estão ficando todas muito cheias. Acho que, realmente, o samba vive um ótimo momento, tem uma garotada nova fazendo. Há poucos dias, viajei para Belo Horizonte, e a gente ficou no mesmo hotel de uma rapaziada que estava fazendo show lá em Belo Horizonte também, com uma pegada diferente da nossa, mas a roda dos caras também lotada. Então, o movimento está muito forte e tem uma galera nova que não veio para brincar. Os caras estão tocando e estudando, do jeito que deve ser, do jeito que o samba merece. É difícil citar nomes, mas no Rio de Janeiro tem o Pagode da Garagem, o Samba da Volta, uma galera nova. É bonito para caramba ver, fico sempre muito feliz. E eu sinto que está acontecendo com essa galera mais ou menos a mesma coisa que aconteceu comigo. Tenho 37 anos, 21 de samba. Os caras estão saindo das rodas para tocar com grandes nomes. Os atuais músicos do Marcelo D2 são todos de rodas de samba. É muito legal, muito bonito ver isso. Como falta incentivo, um moleque novo tem tudo para desanimar na caminhada, mas vemos caras tocando com nomes grandes da música. Isso é muito legal!
(Obs: Gabriel trouxe a Campos o tamborinista Elvis Macedo, de apenas 19 anos, que fez com ele o seu primeiro show profissional fora da cidade do Rio de Janeiro).
Você também é muito ligado à gastronomia, tendo uma padaria e, inclusive, dando dicas de pratos e petiscos de outros estabelecimentos em seu perfil no Instagram. Agora, fazemos esta entrevista no Boteco do Cabeça, que tem um torresmo famoso entre os campistas e visitantes. O que tem a dizer sobre ele?

Esse torresmo é uma das coisas mais maravilhosas que comi na vida. Meu Deus do céu! O Victor (HPS, vocalista do Palma Contra Palma) falou, e eu vim comprovar, porque de torresmo eu gosto. Uma coisa espetacular! É bom que eu limpo as cordas vocais antes de cantar (risos). E já estive em outros bares de Campos, mas confesso que não lembro dos nomes, porque faz bastante tempo. Mas, adorei aqui (o Boteco do Cabeça).
Voltando à música, em 2021 você gravou “Flamengo de todos os deuses”, versão rubro-negra para o samba-enredo “Bahia de todos os deuses”, apresentado pelo Salgueiro em 1969. Como é a sua relação com o clube?
Sendo bem sincero, eu sou flamenguista de ter tatuagem na perna, mas não tenho mais acompanhado futebol. Acho que o futebol está vivendo um momento estranho, de elitização, e eu não gosto disso. Mas, o Flamengo está aí, sempre brigando por títulos. E o fato de eu ter gravado “Flamengo de todos os deuses” foi muito bacana, porque quem me chamou para gravar esse samba foi um cara que eu admiro muito, que é o Dudu Monsanto, jornalista dos melhores do país. Esse samba é curioso, porque foi o primeiro samba-enredo parodiado por uma torcida de futebol (sendo muito executado no Maracanã no final da década de 1960 e no início dos anos 1970). É um samba histórico! Essa versão é histórica!
Um dos sambas mais conhecidos na sua voz é o “Som de Prata”, de Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro, numa emocionante homenagem ao célebre Pixinguinha. Também sente uma enegia especial ao cantá-lo?
Pixinguinha é santo! É muito bacana quando você canta uma música dessa, porque não é uma música apelativa, não é uma música explosiva, mas você vê todo mundo cantando. O que mais me encanta nesse processo todo é ver a turma botando Pixinguinha na boca, cantando para ele. Acaba que é uma porta de entrada: o cara ouve a música, gosta e vai procurar saber quem foi Pixinguinha. E Pixinguinha é um deus, um orixá. Pixinguinha é “santo sim, senhor”; um cara de extrema importância para a música brasileira.
Quanto ao futuro, tem algum trabalho sendo planejado?
Terminei de gravar um disco novo, que vai se chamar “Se for, me chama”. Deve sair agora, no final de outubro, início de novembro.
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Gabriel da Muda em entrevista no Boteco do Cabeça, em Campos
Gabriel da Muda em entrevista no Boteco do Cabeça, em Campos / | Foto: Victor HPS

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