João Cavalcanti: sambista da 'nova geração', sim, mas muito além dela
Matheus Berriel 13/09/2023 09:38 - Atualizado em 13/09/2023 09:39
João Cavalcanti
João Cavalcanti / Foto: André Rola/Divulgação
Filho do consagrado Lenine, o cantor e compositor João Cavalcanti ficou marcado como um dos integrantes da reocupação musical da Lapa, no Rio de Janeiro. Duas décadas depois daquele movimento, ainda hoje é conhecido como representante da “nova geração do samba”. Já não é mais tão garoto na idade, tendo atualmente 43 anos, mas seu interesse pela renovação segue ativo. Tanto é que, nesta entrevista (publicada na edição desta quarta-feira, 13, da Folha da Manhã), listou nomes de artistas que admira na nova cena da música popular brasileira. Também falou sobre a carreira solo — oficializada desde que deixou o grupo Casuarina, em 2017 — e, botafoguense apaixonado, comentou a expectativa de que o clube possa encerrar um jejum de 28 anos sem vencer a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Carioca, João abordou ainda a relação profissional com Campos, onde esteve no dia 11 de maio, apresentando o show “Desengaiola” com Alfredo Del-Penho, Moyseis Marques e Pedro Miranda, no Teatro Sesc, e agora retorna para um show solo sexta-feira (15), às 20h, no Teatro Firjan Sesi. Ingressos a R$ 40, cada, com meia-entrada a R$ 20, na plataforma Sympla.
Apesar de ter ficado muitos anos sem vir a Campos, você já se apresentou algumas vezes na cidade. Como foi reencontrar o público campista em maio, quando se apresentou no Sesc Campos com o projeto “Desengaiola”?
Já tinha feito shows em Campos em grupo. Fui algumas vezes com o Casuarina, mas até esse show de maio, com o “Desengaiola”, fazia algum tempo que eu não ia. E a recepção, como sempre, foi maravilhosa. É um público sempre muito quente. Campos é uma cidade muito grande, com cerca de 500 mil habitantes, número próximo à população de Florianópolis, onde fiz uma apresentação recente. É a maior cidade do Rio de Janeiro fora da Região Metropolitana, mas com uma certa carência de equipamentos de cultura. Percebemos isso conversando com os fãs. Então, circuitos como esses do Sesc e do Sesi promovem muitos shows legais e permitem que a gente se conecte com essa plateia, que é uma plateia sempre muito afim de ouvir e de estar perto. O interior do estado como um todo tem isso, mas Campos é especial por ser uma cidade grande, ávida por cultura. Quando os equipamentos são ocupados, as pessoas estão sempre afim. Sempre me senti muito bem recebido na cidade.

Desde que deixou o Casuarina, no final de 2017, você teve vários projetos. Lançou os álbuns “Garimpo” (com Marcelo Caldi, em 2018), “Samba Mobiliado” (2019), “Desengaiola” (2022) e “Ivone Rara - 100 anos da Dona do Samba” (2022) (este em homenagem a Dona Ivone Lara, inclusive contendo várias composições da homenageada com o campista Delcio Carvalho). Como avalia esse período em que passou a priorizar a carreira solo?
São seis anos fora do grupo, com quatro álbuns lançados desde então, e acho o balanço muito positivo. Ando bastante pelo Brasil, com shows em vários formatos, e tenho um histórico de ser muito bem recebido nos lugares por uma plateia local. Estou voltando agora de um período de 10 dias entre São Paulo e Santa Catarina. Fiz uma oficina no Festival de Música de Itajaí, inclusive com o Gilberto Gil entrando durante uma aula, algo que me tocou bastante. Com o “Desengaiola”, fomos indicados ao Grammy Latino (na categoria melhor álbum de samba) e vencemos o Prêmio da Música Brasileira (como projeto especial). E esse é um caminho que eu já vinha pavimentando, mesmo no Casuarina, inclusive tendo lançado o meu primeiro disco solo, o “Placebo”, lá em 2012. Sempre fui muito participante dos processos de produção e escolha de repertório, tinha uma certa carreira paralela já na época do Casuarina, embora tenha intensificado nos últimos anos. E nunca deixei de compor, porque a composição é a força motriz de tudo o que eu faço. Em todas as facetas, tenho me sentido muito bem realizado.

Quem te viu recentemente em “Desengaiola”, no Sesc Campos, o que pode esperar deste show no Teatro Firjan Sesi?
Tenho chamado este show de “Samba Conjugado”. É um show que me permite ocupar teatros com uma boca de cena um pouco mais estreita. É um desdobramento do álbum “Samba Mobiliado”, que eu lancei um pouco antes da pandemia e acabou não circulando pelo Brasil, justamente por conta da pandemia. Um show com violão e bandolim, em que faço um apanhado da carreira. Sou acompanhado por Alaan Monteiro (no bandolim, nos arranjos e na direção musical) e Gabriel de Aquino (no violão), músicos com linguagens próprias, que dialogam entre si. No repertório, colocamos canções minhas e algumas outras, passeando por trabalhos que fiz, como o “Desengaiola” e o “Ivone Rara”, além de sucessos da carreira e também canções inéditas. Acabamos de passar por São Paulo com o show, tendo casa cheia na Bona Casa de Música, e estou super feliz por agora levar esse show a Campos.

É comum você ser citado como um músico da “nova geração do samba”, demonstrando que o tempo parece não ter passado desde a reocupação cultural da Lapa. Porém, muita gente surgiu desde então. Como você enxerga o momento atual da música brasileira?
Sempre olho muito para o que está rolando. A (cantora e compositora) Joyce Moreno tem uma frase que absorvi bastante: “Minha geração é todo mundo que está vivo”. E essa frase ainda pode ser ampliada, porque há pessoas que morreram fisicamente, mas estão vivas através da sua obra. Recentemente, fui convidado para colocar letra em uma música inédita de Pixinguinha, de quem me tornei parceiro (póstumo) em faixa do disco “Pixinguinha Canção”. Então, minha geração é todo mundo que está vivo através do desejo por música. E estou sempre atento à galera mais jovem do que eu, ao pessoal que vem despontando. Gosto do Jota.pê, de São Paulo, que vai lançar um álbum no final deste ano. É meu parceiro, amigo, um cara muito legal. Tem o Giuliano Eriston, outro cara legal, que inclusive ganhou o “The Voice Brasil” (da TV Globo, em 2021), mas isso acaba sendo um detalhe frente ao talento dele, que é muito impressionante. Posso citar a Marina Iris, também atuante na Lapa, mas um pouco mais jovem do que eu. Ela acabou de lançar um disco com muito a dizer, é uma figura que sempre acompanho, curto muito. Tem também a Luísa Lacerda, uma violonista muito talentosa. Sou muito fã do meu irmão (Bruno Giorgi), um cara que acompanha o meu pai, está na produção. Não é tão frontman, mas é um baita músico, um sujeito de estúdio primoroso. Sou muito atento a essa galera, sempre tentando também trocar percepções.

Fora da música, como está a expectativa quanto ao seu Botafogo?
Sou botafoguense do nível de ficar desconfiado. Até recentemente, mesmo na liderança do Campeonato Brasileiro, eu contava os pontos para não correr risco de cair. Agora, como já não tem chance de ser rebaixado, digo que começo a ter outros objetivos. Mas, apesar desse lado receoso do botafoguense, eu acredito (no título brasileiro). O time está bastante consistente. Essa pausa na Data Fifa é muito boa para o Botafogo, porque a gente vai se reorganizar. Fiquei um pouco encabulado com uma recente entrevista do técnico Bruno Lage (que, insatisfeito com a pressão e as comparações com os antecessores Luís Castro e Cláudio Caçapa, colocou o cargo à disposição). Achei a declaração um pouco deslocada. O time está bem, com 10 pontos de vantagem para o vice-líder. Acho que ele balançou um pouco com a eliminação na Sul-Americana e a derrota para o Flamengo, mas não há crise nesse momento. Tomara que não desande. Estou confiante!

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