Arthur Soffiati - Cáceres
* Arthur Soffiati - Atualizado em 06/10/2024 09:12
Arthur Soffiati
 
No meu roteiro de visita a lugares da Península Ibérica, eu não havia incluído Cáceres. Por insistência do meu primo que mora em Lisboa, integrei Sevilha, que acabei não visitando por falta de tempo. Eu queria chegar a San Martin de Trevejo, Eljas e Valverde de Fresno, no conjunto conhecidos por Três Lugares. São vilarejos que interessam a poucas pessoas. Eu queria conhecê-los porque, lá, fala-se uma língua diferente do espanhol e do português. Ao mesmo tempo, ela resulta do encontro das duas, adquirindo características próprias. Mais: em cada um lugar, a mesma língua tem variantes. Trata-se de mais uma língua raiana falada na fronteira da Espanha com Portugal.

Reservei hospedagem com uma senhora extremamente gentil. Ela faz contato particular comigo, contornando as agências de turismo. Essas detestáveis agências. Para chegar a Três Lugares, era necessário ir a Cáceres e lá tomar um ônibus para uma das três vilas. Eu estava em Beja. Era preciso retornar a Évora para tomar um ônibus que me levaria a Cáceres. No dia seguinte, a rodoviária estava fechada. Eram duas portas: uma para os ônibus e outra para as pessoas. Os passageiros foram chegando. Perto das 8 horas, apareceu o faz-tudo da rodoviária assobiando com as chaves. Calmamente, ele abriu as duas portas. Cinco minutos antes da partida, apareceu o motorista numa moto. Frescor de cidade do interior.

Em Évora, a espera do ônibus para Cáceres, que chegou com atraso. Dois por dia e sempre lotados. Ao encostar na rodoviária, entendi por que. A linha conecta Lisboa a Madrid. Motorista brasileiro muito gentil. Todos os meus aplicativos de celular misteriosamente sumidos ao entrar na Espanha. Parada em Badajoz. Paeja no almoço. Chegada a Cáceres por volta das 16 horas. O ônibus para San Martin parte às 13 horas.

Pernoite na cidade em hotel barato, mas central. Tarde e noite disponíveis para conhecer um pouco de Cáceres. Vamos caminhar pela avenida principal. Encontro, no canteiro central, um largo e longo parque. Um quilômetro no meio dentro da cidade, com árvores, lagos, aves e habitantes. Bares e quiosques. Pessoas de todas as idades reunidas. Bengalas, andadores, cadeiras-de-roda. Acessibilidade garantida. Sociabilidade também. É possível um parque urbano digno deste nome, não o arremedo que se cria em Campos. As pessoas ficam até madrugada conversando em ambiente tão convidativo.

Mas continuemos a caminhada além do Parque Gloria Fuertes. Chego à Plaza Mayor em estado de graça. Por aqui, passaram romanos e mouros. O cristianismo católico romano reconquistando a Península Ibérica. As igrejas estão em toda a parte. Ruas estreitas com casas medievais. A muralha passou por romanos, mouros e cristãos. Lembrei-me de Évora. A catedral de Santa Maria data do século XIII, tendo sido reconstruída nos séculos XV e XVI. Ela guarda sua imponência gótica. Aquela atmosfera de catolicismo triunfante como única e verdadeira religião. Foi com reverência que percorri suas dependências. A igreja de San Francisco Javier é também fascinante no seu estilo barroco do século XVIII.

Tarde da noite, retornei ao hotel. No dia seguinte, já na rodoviária, pensei melhor e desisti de viajar a San Martin de Trevejo. Se fosse a Três Lugares, eu teria de fazer todo o caminho de volta, sem seguir direto para Coimbra. Incertezas e desventuras na Espanha. Retornei a Lisboa com dificuldade e sobe condições estressantes. Não sei se ainda terei disposição física para visitar localidades que me despertam interesse na Europa.

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