Maestro Ethmar Filho - Originalidade nas questões políticas
Maestro Ethmar Filho - Atualizado em 03/10/2024 14:35
Maestro Ethmar Filho*
José de Ribamar Ferreira, pseudônimo do poeta, dramaturgo e ensaísta Ferreira Gullar, foi presidente do Centro Popular de Cultura (CPC), instituição ligada à União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1963. Em 1964, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, passando a fazer uma poesia mais política e combativa, como enfrentamento à ditadura militar. Nos anos 60 dirigiu a Fundação Cultural de Brasília, criou o Museu de Arte Popular e também trabalhou no jornal O Estado de São Paulo. Participou do Movimento Concretista com Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, com os quais rompeu em 1959, quando encabeçou o movimento Neoconcreto, por divergências ideológicas com o grupo. Trabalhou, através da sua arte, inspirado no “Manifesto do CPC”, para o engajamento do artista de classe média nas causas nacionalistas, promovendo nele o entendimento a respeito da função social da arte. É de suma importância discutir a participação e a importância política de Gullar no cenário artístico dos anos 50 e 60, através da poesia e do teatro, junto a autores renomados tais como Dias Gomes e Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Desta forma analisamos o comportamento social e político desse artista, aliado aos movimentos dos quais ele fez parte, focalizando suas opiniões a respeito do país e do governo que o exilou em 1964. Assim como o poeta Ferreira Gullar, muitos artistas desse período estiveram engajados na resistência ao autoritarismo instituído pelo governo militar entre 1964 e 1985.

Ferreira Gullar destaca-se no cenário artístico dos anos 1960, não só por seu talento, mas por sua originalidade nas questões políticas e sociais que eram descritas pelas manifestações artísticas, num tempo de muita criatividade e protesto contra o governo militar que se instaurava ali. Gullar ficou conhecido e caracterizado por sua incoerência produtiva e dialética, como por “mudanças de rumo”, baseadas exclusivamente no que acreditava. Em seu, considerado por ele, primeiro livro de relevância, "A Luta Corporal", Gullar descobria que a linguagem não nos expressa, não nos expõe completamente. Procurava a poesia essencial; uma poesia que pudesse dizer mais a nosso respeito.

Gullar, depois de se desligar dos poetas e do movimento concretista, cria, em 1961, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, junto com Carlos Lyra, com a adesão de Nara Leão, a convite de Vianinha, famoso dramaturgo com o qual viria a escrever a peça “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”; tudo isso no âmbito do Grupo Opinião, que teria Nara Leão no papel principal de seu primeiro musical denominado Opinião.

Em 1969, Ferreira Gullar entrou na mira da ditadura militar e foi preso junto com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1971, depois de um tempo na chamada clandestinidade, achou melhor se autoexilar, primeiro na União Soviética, depois no Chile, durante o governo socialista de Salvador Allende.

Ferreira Gullar, que se filiou ao Partido Comunista no dia do Golpe de 64, foi indicado ao Prêmio Nobel em 2002 e teve que ficar fora do país de 1971 a 1977, ao saber que poderia ser torturado e morto pelo regime militar. Esse artista, certamente, não passa despercebido como resistência artística e cultural. Gullar teceu duríssimas críticas ao movimento armado que se opôs ao regime militar vociferando: “Os que inventaram a luta armada eram meia dúzia de cretinos que não sabiam atirar com atiradeira”, depois de juntar-se à resistência do golpe.

* Mestre e Doutorando em Cognição e Linguagem pela UENF, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos 

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