Arthur Soffiati: Açores
Visitei apenas Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Meu desejo era conhecer as nove, sobretudo a ilha Graciosa, onde meu trisavô, Manoel Picanço, nasceu, imigrando para o Brasil no século XIX. Pode-se mesmo reconhecer uma colônia de açorianos no Brasil (notadamente em Santa Catarina), assim como uma colônia minhota. Sonhei em visitar também a ilha do Corvo, a menor de todas e de uma beleza ímpar. Ela toda é um museu ecológico-cultural, com apenas uma vila e uma pequena pista de pouso para pequenos aviões.
Mas deleitei-me em Ponta Delgada. Tanto na Ilha da Madeira quanto nas ilhas que formam os Açores, os espaços planos são raros para a construção de cidades. A ilha de São Miguel é menos íngreme. Em todas as nove, a marca do Catolicismo Romano é muito forte. Encontrei apenas um templo Adventista do Sétimo Dia. São Miguel é povoada de igrejas. Visitei o quinhentistaConvento de Nossa Senhora da Esperança, onde se encontra oSantuário doSenhor Santo Cristo dos Milagres. Ele me evocou o Santíssimo Salvador, padroeiro de Campos. Por várias vezes, orei na Igreja Paroquial de São Pedro e estive lá no dia em que o Santo é festejado. Assisti missa na Igreja Matriz de São Sebastião, onde, como peregrino, pedi bênção ao padre. São Sebastião é padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. E, no centro da cidade, a escultura em metal de São Miguel Arcanjo parecia dar-me uma proteção especial. Lembrei que o primeiro oratório do norte fluminense teve invocação de São Miguel. No local, em Quissamã, existe uma igrejinha construída na década de 1970.
Depois da forte marca católica na ilha, notei a presença de construções militares. São fortalezas, castelos e trincheiras. Esses prédios alcançam o total de 161 infraestruturas nas nove ilhas. A marca judaica também é forte. Distantes do continente europeu, elas constituíam um bom refúgio para judeus sefaraditas e para judeus convertidos ao cristianismo, os chamados cristãos novos. A presença judaica é grande nas ilhas, inclusive com sinagogas. Hoje, as ilhas são bastante procuradas por homossexuais. Tive dificuldade de encontrar um hotel em que pudesse ficar sozinho. Não por preconceito, mas porque meu objetivo era cultural e religioso.
Excursionar pelo interior da ilha de São Miguel é mais fácil do que na ilha da Madeira porque ela é menor e menos acidentada. Existem duas lagoas na localidade de Sete Cidades: uma azul e uma verde. Reza a lenda que elas nasceram de um amor proibido entre uma nobre e um camponês. Forçados a se separarem, ela chorou lágrimas azuis e ele chorou lágrimas de cor verde, nascendo, assim, as duas lagoas, que se comunicam. As duas viagens que me levaram ao interior foram fascinantes. Encantei-me com o litoral alcantilado, com o vapor vulcânico, com a vegetação herbácea, com as flores, com o ar puro, com as igrejas pequenas de N.S. da Alegria, N.S. da Paz e de S. Nicolau. Externo novamente a minha divisão interior: sou um católico cultural que não consegue se converter completamente. Fiquei solto durante muito tempo. Dediquei-me muito ao estudo de outras religiões e da ciência.
Também encontrei nos Açores a pureza da cultura popular. Nas nove ilhas, uma manifestação cantada e dançada é muito comum. Trata-se do “pezinho”, que integra a cultura popular brasileira. Quem não conhece os versos: “bota aqui o seu pezinho/bem aqui juntinho ao meu”? O “pezinho” está muito associado ao culto do Espírito Santo. Também a ilha de São Jorge conta com rica tradição musical popular. Desnecessário dizer que adquiri vários CDs, mídia já superada pela qual tenho grande apreço. Adquiri também o livro “Flora terrestre dos Açores”.
Tive dificuldade de entrar e sair da ilha de São Miguel. Motivo: a presença de uma base militar dos Estados Unidos na ilha Terceira. Nem mesmo uma inofensiva garrafa de água mineral pode passar pela alfândega. As revistas deixam o viajante quase nu, com sua bagagem muito desorganizada. A vontade é de chorar ao ter de colocar as coisas no seu lugar. Mas voltei com o projeto de ainda conhecer as oito ilhas do arquipélago, sobre as quais já li, ficando encantado pela beleza delas.
Em minha excursão científica e peregrinação religiosa pela Península Ibérica, eu não podia deixar de fora o arquipélago dos Açores. Ele se situa no oceano Atlântico e faz parte do território português e se situa no oceano Atlântico, sobre a Dorsal Média. Na Dorsal Média, as nove ilhas têm origem vulcânica. As mais ocidentais são Corvo e Flores. Ao centro, situam-se Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira. O grupo oriental reúne das ilhas de São Miguel e Santa Maria. As nove constituem a Região Autônoma dos Açores, com três capitais: Ponta Delgada (administrativa e mais conhecida), Horta (legislativa) e Angra do Heroísmo (eclesiástica). As nove ilhas eram desabitadas quando os portugueses a alcançaram no contexto da expansão marítima, no século XV, por mais que se fale na chegada de europeus no século XIV ou antes mesmo, com os fenícios.
Visitei apenas Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Meu desejo era conhecer as nove, sobretudo a ilha Graciosa, onde meu trisavô, Manoel Picanço, nasceu, imigrando para o Brasil no século XIX. Pode-se mesmo reconhecer uma colônia de açorianos no Brasil (notadamente em Santa Catarina), assim como uma colônia minhota. Sonhei em visitar também a ilha do Corvo, a menor de todas e de uma beleza ímpar. Ela toda é um museu ecológico-cultural, com apenas uma vila e uma pequena pista de pouso para pequenos aviões.
Mas deleitei-me em Ponta Delgada. Tanto na Ilha da Madeira quanto nas ilhas que formam os Açores, os espaços planos são raros para a construção de cidades. A ilha de São Miguel é menos íngreme. Em todas as nove, a marca do Catolicismo Romano é muito forte. Encontrei apenas um templo Adventista do Sétimo Dia. São Miguel é povoada de igrejas. Visitei o quinhentistaConvento de Nossa Senhora da Esperança, onde se encontra oSantuário doSenhor Santo Cristo dos Milagres. Ele me evocou o Santíssimo Salvador, padroeiro de Campos. Por várias vezes, orei na Igreja Paroquial de São Pedro e estive lá no dia em que o Santo é festejado. Assisti missa na Igreja Matriz de São Sebastião, onde, como peregrino, pedi bênção ao padre. São Sebastião é padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. E, no centro da cidade, a escultura em metal de São Miguel Arcanjo parecia dar-me uma proteção especial. Lembrei que o primeiro oratório do norte fluminense teve invocação de São Miguel. No local, em Quissamã, existe uma igrejinha construída na década de 1970.
Depois da forte marca católica na ilha, notei a presença de construções militares. São fortalezas, castelos e trincheiras. Esses prédios alcançam o total de 161 infraestruturas nas nove ilhas. A marca judaica também é forte. Distantes do continente europeu, elas constituíam um bom refúgio para judeus sefaraditas e para judeus convertidos ao cristianismo, os chamados cristãos novos. A presença judaica é grande nas ilhas, inclusive com sinagogas. Hoje, as ilhas são bastante procuradas por homossexuais. Tive dificuldade de encontrar um hotel em que pudesse ficar sozinho. Não por preconceito, mas porque meu objetivo era cultural e religioso.
Excursionar pelo interior da ilha de São Miguel é mais fácil do que na ilha da Madeira porque ela é menor e menos acidentada. Existem duas lagoas na localidade de Sete Cidades: uma azul e uma verde. Reza a lenda que elas nasceram de um amor proibido entre uma nobre e um camponês. Forçados a se separarem, ela chorou lágrimas azuis e ele chorou lágrimas de cor verde, nascendo, assim, as duas lagoas, que se comunicam. As duas viagens que me levaram ao interior foram fascinantes. Encantei-me com o litoral alcantilado, com o vapor vulcânico, com a vegetação herbácea, com as flores, com o ar puro, com as igrejas pequenas de N.S. da Alegria, N.S. da Paz e de S. Nicolau. Externo novamente a minha divisão interior: sou um católico cultural que não consegue se converter completamente. Fiquei solto durante muito tempo. Dediquei-me muito ao estudo de outras religiões e da ciência.
Também encontrei nos Açores a pureza da cultura popular. Nas nove ilhas, uma manifestação cantada e dançada é muito comum. Trata-se do “pezinho”, que integra a cultura popular brasileira. Quem não conhece os versos: “bota aqui o seu pezinho/bem aqui juntinho ao meu”? O “pezinho” está muito associado ao culto do Espírito Santo. Também a ilha de São Jorge conta com rica tradição musical popular. Desnecessário dizer que adquiri vários CDs, mídia já superada pela qual tenho grande apreço. Adquiri também o livro “Flora terrestre dos Açores”.
Tive dificuldade de entrar e sair da ilha de São Miguel. Motivo: a presença de uma base militar dos Estados Unidos na ilha Terceira. Nem mesmo uma inofensiva garrafa de água mineral pode passar pela alfândega. As revistas deixam o viajante quase nu, com sua bagagem muito desorganizada. A vontade é de chorar ao ter de colocar as coisas no seu lugar. Mas voltei com o projeto de ainda conhecer as oito ilhas do arquipélago, sobre as quais já li, ficando encantado pela beleza delas.