Orlando Thomé: 'Fora uma hecatombe, Campos não terá segundo turno'
“Eu acho que não há hipótese, a não ser que haja uma hecatombe nessa última semana, o que se vislumbra, não há hipótese de haver segundo turno em Campos”. A declaração foi dada pelo estrategista político carioca e articulista do Correio Braziliense, Orlando Thomé Cordeiro, que foi o entrevistado dessa sexta-feira (27) do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Na visão de Orlando, o prefeito Wladimir Garotinho (PP), candidato à reeleição, tem idade, trajetória e história também para pensar “em outros voos mais adiante”. Ele também cita a delegada Madeleine (União), candidata de oposição, ao dizer que ela pode acumular um capital político para disputas futuras. Orlando também falará da conjuntura política nacional e do pleito pelas Prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, Orlando analisa que Ramagem (PL) vai mostrar nas urnas um tamanho menor que o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Jà em São Paulo, o articulista pondera que se Ricardo Nunes for forte, Tarcísio cresce politicamente. No entanto, o estrategista vê com preocupação os 20% de intenção de voto para Pablo Marçal (PRTB), o que considera um voto de protesto dos eleitores.
Favoristimo de Wladimir — “O favoritismo do incumbente em Campos, que é o Wladimir, é inexorável. Eu acho que não há hipótese, a não ser que haja uma hecatombe nessa última semana, o que se vislumbra, não há hipótese de haver segundo turno em Campos. Essa é a minha interpretação. Acho que a candidatura da delegada Madeleine, do ponto de vista de uma candidata que é candidata pela primeira vez, nunca disputou eleições, ela pode amealhar um capital político para disputas futuras. Mesmo sendo ela uma candidata que só conseguiu a legenda por conta da articulação liderada pelo presidente da Alerj, mas eu acho que ela sai forte como nome e como capital político próprio para 2026, se ela quiser disputar uma eleição de deputada federal, por exemplo”.
Potencial — “E o prefeito Wladimir, ele pode ambicionar, ele já foi deputado federal, voltou para ser prefeito, vai ser reeleito prefeito, tem idade, trajetória e história para pensar em outros voos mais adiante. Não acho que seja absurdo, porque nós estamos vivendo no Brasil uma transição geracional nas lideranças políticas. Wladimir é parte dessa transição, assim como João Campos em Recife, Tabata Amaral em São Paulo, JHC em Maceió. Essa nova geração política, com os mais diversos aspectos, esse próprio menino que é deputado federal de Minas, o Nikolas Ferreira. Você tem algumas figuras que são mais jovens, que devem dominar o cenário político brasileiro nos próximos 20 anos. Dividindo esse espaço com lideranças que já não são tão jovens, tanto de idade como de projeção política, mas que tem ainda gordura para queimar em termos de tempo, como Eduardo Paes, por exemplo, como o próprio Ricardo Nunes em São Paulo. Então, eu acho que nós estamos vivendo essa transição”.
Transições — “Eu diria que essa transição, ela depende no futuro, nos próximos 10 anos, de que algumas lideranças que interditam essa renovação, como o próprio Bolsonaro e o presidente Lula, na medida que elas forem saindo do cenário, do palco principal, abre espaço para essas novas lideranças. Abre espaço para figuras como Tarcísio, governador de São Paulo. Abre espaço para figuras como Ronaldo Caiado, que não é jovem, mas que se reinventou. O Ronaldo Caiado, para quem não sabe, ele estava na primeira disputa presidencial direta em 1989. Na época ele era um representante da União Democrática Ruralista. E ele saiu de cena um tempo, construiu uma carreira no parlamento muito exitosa, tanto em termos de voto como em termos de projeção, e hoje é governador de Goiás, altos índices de aprovação. Então, eu acho que nós estamos vivendo essa transição. E eu acho que isso é bacana, porque a gente não fica olhando apenas o retrato, mas a gente procura ver o filme, como é que ele se desenrola esse enredo. Então, eu acho que é isso, eu acho que Campos nós estamos caminhando. Mais importante, na minha opinião, do que o resultado, parece que vai se confirmar no dia 6 de outubro, é projetar, usando a linguagem do técnico do seu time, que diz que não fez promessa, fez projeção, a gente pode projetar o futuro de figuras como o próprio Wladimir, na política do Estado e do Rio de Janeiro. Acho que ele é um ator que vai ter relevância num futuro próximo, no âmbito estadual, saindo do limite regional. Assim como Welberth em Macaé, assim como também por conta do peso desses dois municípios, Campos e Macaé”.
Probabilidade baixa de mudanças — “Política tem ciência, mas não é ciência exata. Até porque nós estamos falando de pesquisas que são retratos, não são filmes. Você constrói uma série histórica e em tempos de redes sociais, as pesquisas presenciais não tem, e não se trata de macetada, se trata de metodologia, elas não têm velocidade de captação das mudanças rápidas de opinião que as redes sociais trazem. Tanto que o Witzel, em 2018, ganhou sem que as pesquisas mostrassem isso. Eu diria que hoje, dos institutos que fazem pesquisa, que são sérios, Big Data, IPEC, Datafolha e Paraná, o que consegue mais captar o humor das redes sociais é Atlas Intel. E o Atlas Intel também não é infalível, mas ele consegue, pela metodologia dele, ele consegue captar essa variação de humor. Mas eu acho que nós não deveremos ter mudanças nesses cenários, nesses municípios todos que você falou, porque não há indicação no curto prazo de alguma hecatombe, seja por denúncia, seja por descoberta de algum escândalo, coisa que o vale. Tentaram, na eleição de Campos, produziram alguns escândalos. Eu acompanhei pelo grupo, acompanhei pela Folha, mas que não foram bem-sucedidos, não deram liga, não geraram engajamento. Não estou me referindo a engajamento no conceito das redes sociais, estou me referindo a engajamento lato censo, apoio”.
Aprovação x favoritismo — “Nós estamos falando de candidatos e candidatas a reeleição no cargo. Governos bem aprovados, desde que começou a reeleição, com candidatos que não são o próprio incumbente, não dá garantia dessa eleição. Por exemplo, em 1996, não havia segundo turno ainda para prefeito. O César Maia, aqui no Rio de Janeiro, lançou o Luiz Paulo Conde. Luiz Paulo Conde, em todas as pesquisas antes do horário eleitoral, naquela época não tinha redes sociais, ele batia 3%. Quando começou o horário eleitoral gratuito, o César Maia falou o seguinte, olha, esse é meu candidato, esse sou eu. O Conde saiu de 3% para 35% e ganhou a eleição do segundo turno do Sérgio Cabral Filho. Então, com o advento da reeleição, essa equação fecha para quem está no cargo candidato à reeleição. Ela não é uma garantia de que haja uma transferência de voto para um indicado. Isso vale muito. Aí entra no jogo o perfil dos indicados ou das indicadas”.
Urnas do Rio — “O tamanho que o Ramagem vai mostrar nas urnas é muito menor do que o tamanho do Bolsonaro. E onde nós vamos ver também o resultado do apoio do Bolsonaro na votação para vereador do Carlos Bolsonaro, que em 2016 fez 105 mil votos e em 2020 fez menos de 100 mil votos, fez 80 mil votos. E que é possível que caia de novo essa votação dele. Então, nós estamos vivendo uma situação aqui no Rio de Janeiro em que um governo que tem entregas para mostrar, muito bem avaliado. Isso, em termos de voto, é uma equação que fecha. Governo bem avaliado com candidato à reeleição, a tendência é que ganhe. Pode ser no primeiro ou pode ser no segundo turno, mas é uma tendência que ganha. E há também um certo cansaço. A população pode querer resolver logo no primeiro turno mesmo, até para evitar ter que voltar de novo às urnas no final do mês. Eu acho que essa comparação entre a situação da capital do Rio de Janeiro com a situação de Campos, seja pelo perfil das candidaturas, seja pelo perfil de governos, eu acho que está absolutamente adequada, correta. Eu acho que é muito parecido mesmo. Dá para tirar o nome das cidades e cruzar os dados que vai dar coisa muito parecida”.
Conjuntura nacional na política municipal — “Em São Paulo, o Ricardo Nunes viveu uma situação dúbia, porque ele sabia que precisava trazer para o seu lado os eleitores do ex-presidente Bolsonaro, do governador Tarcísio, mas ele também sempre resistiu desde o início, e é bom que se diga isso, a nacionalizar a disputa. O que acabou interferindo na disputa de São Paulo foi o surgimento de uma candidatura como a do Pablo Marçal, que acabou, além de empolgar os ressentidos, as pessoas que são contra o sistema, que vem se manifestando desde 2013 no Brasil, de forma objetiva ou de forma latente, conseguiam galvanizar uma parte do eleitorado fiel ao bolsonarismo e ao Bolsonaro. Isso libertou, de alguma forma, o Ricardo Nunes. Ele pôde se apresentar como um candidato mais de centro-direita, vamos dizer assim, do que um candidato radical. E teve como grande fiador, e se ele se confirmar dessas pesquisas, ele for para o segundo turno e ele se reeleger, quem sai muito forte politicamente é o governador Tarcísio, mais do que o ex-presidente Bolsonaro em São Paulo. Ou seja, o Ricardo Nunes vai dever boa parte da eleição, da possível eleição dele, ao governador Tarcísio”.
Polarização — “Você tem até lugares em que PL e PT estão juntos, disputando coligados formalmente. Então, é diferente. E se você considerar aqui, dos 5.569 municípios brasileiros, mais da metade tem menos de 20 mil eleitores. Então, ali que a polarização não rola mesmo, ali é a questão local. Agora, quem tem peso e interesse nessa eleição municipal para finalizar essa primeira participação? Quem tem o maior interesse são os atuais parlamentares federais, deputados federais, senadores com vistas à eleição de 2026, porque a base da campanha deles de eleição, de manutenção do mandato, está nas prefeituras e nas câmaras municipais. Então, não é a eleição presidencial que comanda a disputa local. O que comanda a disputa local é o interesse desses parlamentares em cada uma das regiões do Brasil”.
20% de Pablo Marçal — “Como eu acredito que a democracia é um valor universal, e eu acredito na vontade do eleitor, da eleitora, por mais que eu possa discordar dessa vontade, eu acho que é correto as emissoras trazerem essa figura para os debates, figuras como essa para o debate. Porque tem uma expressão da sociedade, uma expressão de uma parcela da sociedade. E ela só está ali com esse tamanho, com essa expressão, porque tem esse tipo de comportamento. Então, nós estamos falando de uma coisa muito mais complexa e ali é um modo de ver preocupante. Eu não me preocupo com a figura do Pablo Marçal, eu me preocupo é com os 20, 18, 22% de eleitores e eleitoras de São Paulo que consideram a possibilidade de votar nele para prefeito da cidade, que evidentemente é um voto que não é um voto em torno de um gestor, de uma proposta programática, é um voto de protesto. É um voto antissistema que não importa muito o fato. O que importa nesse caso é a versão. A versão é da mesma maneira que Bolsonaro nunca foi um outsider, mas ele conseguiu vestir essa roupa, esse modelito, na campanha de 18. O cara tinha 11 mandatos de deputado federal e aparecia como um antissistema. Era do baixo clero, sempre foi. Hoje sai a minha coluna mensal no Correio Brasileiro e eu trato exatamente disso. Ou seja, o que é que nós estamos vivenciando de 13 para cá, como uma ausência de resposta dos setores comprometidos com a democracia liberal para as questões chaves para uma grande maioria da população. Não há respostas. A resposta para a questão da segurança. Qual tem sido nos últimos 40 anos? Tem sido a mesma. Eu, na coluna de hoje, eu apresento uma comparação com as propagandas eleitorais desta eleição municipal com as que aconteceram nos últimos 40 anos e não muda nada. Não muda nada do que os políticos candidatos e candidatos falam. Sobre educação, sobre saúde, sobre segurança, parece que nós vivemos num mundo da fantasia, parece que parou o tempo. Só que a população se cansa. Uma parcela dela vai pelo ceticismo e aí não vota, ou troca o voto por algum favor que seja, uma parcela acaba de alguma maneira se beneficiando desse processo e tem uma parcela que já não aguenta mais, que ou não vota, ou anula o voto, ou escolhe candidato que represente esse sentimento de ser contra tudo e contra todos”.
Eleitorado de SP — “Eu acho que o eleitor de São Paulo, o eleitorado de São Paulo, não está nacionalizando a disputa. Mas São Paulo está chamando atenção nacional por conta dessa disputa. Por ser a maior cidade da América do Sul, por ser a maior cidade brasileira. Eu tenho um grande amigo que foi prefeito de Vitória a dois mandatos, Luiz Paulo Vellozo Lucas, que brincava dizendo que São Paulo é um país amigo do Brasil. É uma outra realidade. Então, é óbvio que as atenções se voltam, mas eu volto a insistir naquilo que eu falei no primeiro momento. Se você olhar o comportamento do grande mentor da candidatura, Ricardo Nunes, que é o Tarcísio Governador, ele não nacionalizou. Ao contrário, ele fala, ele ataca o Boulos, não por ser do PT, mas pela história do Boulos. O Boulos não é do PT, inclusive, é do PSOL, mas pela história dele nos movimentos sociais e defende a gestão do Nunes e ataca o Marçal como uma figura, vamos dizer assim, caricata de um lado e fanfarrão de outro e deletéria de outro. Então, eu acho que esse é o cenário”.
Potencial — “E o prefeito Wladimir, ele pode ambicionar, ele já foi deputado federal, voltou para ser prefeito, vai ser reeleito prefeito, tem idade, trajetória e história para pensar em outros voos mais adiante. Não acho que seja absurdo, porque nós estamos vivendo no Brasil uma transição geracional nas lideranças políticas. Wladimir é parte dessa transição, assim como João Campos em Recife, Tabata Amaral em São Paulo, JHC em Maceió. Essa nova geração política, com os mais diversos aspectos, esse próprio menino que é deputado federal de Minas, o Nikolas Ferreira. Você tem algumas figuras que são mais jovens, que devem dominar o cenário político brasileiro nos próximos 20 anos. Dividindo esse espaço com lideranças que já não são tão jovens, tanto de idade como de projeção política, mas que tem ainda gordura para queimar em termos de tempo, como Eduardo Paes, por exemplo, como o próprio Ricardo Nunes em São Paulo. Então, eu acho que nós estamos vivendo essa transição”.
Transições — “Eu diria que essa transição, ela depende no futuro, nos próximos 10 anos, de que algumas lideranças que interditam essa renovação, como o próprio Bolsonaro e o presidente Lula, na medida que elas forem saindo do cenário, do palco principal, abre espaço para essas novas lideranças. Abre espaço para figuras como Tarcísio, governador de São Paulo. Abre espaço para figuras como Ronaldo Caiado, que não é jovem, mas que se reinventou. O Ronaldo Caiado, para quem não sabe, ele estava na primeira disputa presidencial direta em 1989. Na época ele era um representante da União Democrática Ruralista. E ele saiu de cena um tempo, construiu uma carreira no parlamento muito exitosa, tanto em termos de voto como em termos de projeção, e hoje é governador de Goiás, altos índices de aprovação. Então, eu acho que nós estamos vivendo essa transição. E eu acho que isso é bacana, porque a gente não fica olhando apenas o retrato, mas a gente procura ver o filme, como é que ele se desenrola esse enredo. Então, eu acho que é isso, eu acho que Campos nós estamos caminhando. Mais importante, na minha opinião, do que o resultado, parece que vai se confirmar no dia 6 de outubro, é projetar, usando a linguagem do técnico do seu time, que diz que não fez promessa, fez projeção, a gente pode projetar o futuro de figuras como o próprio Wladimir, na política do Estado e do Rio de Janeiro. Acho que ele é um ator que vai ter relevância num futuro próximo, no âmbito estadual, saindo do limite regional. Assim como Welberth em Macaé, assim como também por conta do peso desses dois municípios, Campos e Macaé”.
Probabilidade baixa de mudanças — “Política tem ciência, mas não é ciência exata. Até porque nós estamos falando de pesquisas que são retratos, não são filmes. Você constrói uma série histórica e em tempos de redes sociais, as pesquisas presenciais não tem, e não se trata de macetada, se trata de metodologia, elas não têm velocidade de captação das mudanças rápidas de opinião que as redes sociais trazem. Tanto que o Witzel, em 2018, ganhou sem que as pesquisas mostrassem isso. Eu diria que hoje, dos institutos que fazem pesquisa, que são sérios, Big Data, IPEC, Datafolha e Paraná, o que consegue mais captar o humor das redes sociais é Atlas Intel. E o Atlas Intel também não é infalível, mas ele consegue, pela metodologia dele, ele consegue captar essa variação de humor. Mas eu acho que nós não deveremos ter mudanças nesses cenários, nesses municípios todos que você falou, porque não há indicação no curto prazo de alguma hecatombe, seja por denúncia, seja por descoberta de algum escândalo, coisa que o vale. Tentaram, na eleição de Campos, produziram alguns escândalos. Eu acompanhei pelo grupo, acompanhei pela Folha, mas que não foram bem-sucedidos, não deram liga, não geraram engajamento. Não estou me referindo a engajamento no conceito das redes sociais, estou me referindo a engajamento lato censo, apoio”.
Aprovação x favoritismo — “Nós estamos falando de candidatos e candidatas a reeleição no cargo. Governos bem aprovados, desde que começou a reeleição, com candidatos que não são o próprio incumbente, não dá garantia dessa eleição. Por exemplo, em 1996, não havia segundo turno ainda para prefeito. O César Maia, aqui no Rio de Janeiro, lançou o Luiz Paulo Conde. Luiz Paulo Conde, em todas as pesquisas antes do horário eleitoral, naquela época não tinha redes sociais, ele batia 3%. Quando começou o horário eleitoral gratuito, o César Maia falou o seguinte, olha, esse é meu candidato, esse sou eu. O Conde saiu de 3% para 35% e ganhou a eleição do segundo turno do Sérgio Cabral Filho. Então, com o advento da reeleição, essa equação fecha para quem está no cargo candidato à reeleição. Ela não é uma garantia de que haja uma transferência de voto para um indicado. Isso vale muito. Aí entra no jogo o perfil dos indicados ou das indicadas”.
Urnas do Rio — “O tamanho que o Ramagem vai mostrar nas urnas é muito menor do que o tamanho do Bolsonaro. E onde nós vamos ver também o resultado do apoio do Bolsonaro na votação para vereador do Carlos Bolsonaro, que em 2016 fez 105 mil votos e em 2020 fez menos de 100 mil votos, fez 80 mil votos. E que é possível que caia de novo essa votação dele. Então, nós estamos vivendo uma situação aqui no Rio de Janeiro em que um governo que tem entregas para mostrar, muito bem avaliado. Isso, em termos de voto, é uma equação que fecha. Governo bem avaliado com candidato à reeleição, a tendência é que ganhe. Pode ser no primeiro ou pode ser no segundo turno, mas é uma tendência que ganha. E há também um certo cansaço. A população pode querer resolver logo no primeiro turno mesmo, até para evitar ter que voltar de novo às urnas no final do mês. Eu acho que essa comparação entre a situação da capital do Rio de Janeiro com a situação de Campos, seja pelo perfil das candidaturas, seja pelo perfil de governos, eu acho que está absolutamente adequada, correta. Eu acho que é muito parecido mesmo. Dá para tirar o nome das cidades e cruzar os dados que vai dar coisa muito parecida”.
Conjuntura nacional na política municipal — “Em São Paulo, o Ricardo Nunes viveu uma situação dúbia, porque ele sabia que precisava trazer para o seu lado os eleitores do ex-presidente Bolsonaro, do governador Tarcísio, mas ele também sempre resistiu desde o início, e é bom que se diga isso, a nacionalizar a disputa. O que acabou interferindo na disputa de São Paulo foi o surgimento de uma candidatura como a do Pablo Marçal, que acabou, além de empolgar os ressentidos, as pessoas que são contra o sistema, que vem se manifestando desde 2013 no Brasil, de forma objetiva ou de forma latente, conseguiam galvanizar uma parte do eleitorado fiel ao bolsonarismo e ao Bolsonaro. Isso libertou, de alguma forma, o Ricardo Nunes. Ele pôde se apresentar como um candidato mais de centro-direita, vamos dizer assim, do que um candidato radical. E teve como grande fiador, e se ele se confirmar dessas pesquisas, ele for para o segundo turno e ele se reeleger, quem sai muito forte politicamente é o governador Tarcísio, mais do que o ex-presidente Bolsonaro em São Paulo. Ou seja, o Ricardo Nunes vai dever boa parte da eleição, da possível eleição dele, ao governador Tarcísio”.
Polarização — “Você tem até lugares em que PL e PT estão juntos, disputando coligados formalmente. Então, é diferente. E se você considerar aqui, dos 5.569 municípios brasileiros, mais da metade tem menos de 20 mil eleitores. Então, ali que a polarização não rola mesmo, ali é a questão local. Agora, quem tem peso e interesse nessa eleição municipal para finalizar essa primeira participação? Quem tem o maior interesse são os atuais parlamentares federais, deputados federais, senadores com vistas à eleição de 2026, porque a base da campanha deles de eleição, de manutenção do mandato, está nas prefeituras e nas câmaras municipais. Então, não é a eleição presidencial que comanda a disputa local. O que comanda a disputa local é o interesse desses parlamentares em cada uma das regiões do Brasil”.
20% de Pablo Marçal — “Como eu acredito que a democracia é um valor universal, e eu acredito na vontade do eleitor, da eleitora, por mais que eu possa discordar dessa vontade, eu acho que é correto as emissoras trazerem essa figura para os debates, figuras como essa para o debate. Porque tem uma expressão da sociedade, uma expressão de uma parcela da sociedade. E ela só está ali com esse tamanho, com essa expressão, porque tem esse tipo de comportamento. Então, nós estamos falando de uma coisa muito mais complexa e ali é um modo de ver preocupante. Eu não me preocupo com a figura do Pablo Marçal, eu me preocupo é com os 20, 18, 22% de eleitores e eleitoras de São Paulo que consideram a possibilidade de votar nele para prefeito da cidade, que evidentemente é um voto que não é um voto em torno de um gestor, de uma proposta programática, é um voto de protesto. É um voto antissistema que não importa muito o fato. O que importa nesse caso é a versão. A versão é da mesma maneira que Bolsonaro nunca foi um outsider, mas ele conseguiu vestir essa roupa, esse modelito, na campanha de 18. O cara tinha 11 mandatos de deputado federal e aparecia como um antissistema. Era do baixo clero, sempre foi. Hoje sai a minha coluna mensal no Correio Brasileiro e eu trato exatamente disso. Ou seja, o que é que nós estamos vivenciando de 13 para cá, como uma ausência de resposta dos setores comprometidos com a democracia liberal para as questões chaves para uma grande maioria da população. Não há respostas. A resposta para a questão da segurança. Qual tem sido nos últimos 40 anos? Tem sido a mesma. Eu, na coluna de hoje, eu apresento uma comparação com as propagandas eleitorais desta eleição municipal com as que aconteceram nos últimos 40 anos e não muda nada. Não muda nada do que os políticos candidatos e candidatos falam. Sobre educação, sobre saúde, sobre segurança, parece que nós vivemos num mundo da fantasia, parece que parou o tempo. Só que a população se cansa. Uma parcela dela vai pelo ceticismo e aí não vota, ou troca o voto por algum favor que seja, uma parcela acaba de alguma maneira se beneficiando desse processo e tem uma parcela que já não aguenta mais, que ou não vota, ou anula o voto, ou escolhe candidato que represente esse sentimento de ser contra tudo e contra todos”.
Eleitorado de SP — “Eu acho que o eleitor de São Paulo, o eleitorado de São Paulo, não está nacionalizando a disputa. Mas São Paulo está chamando atenção nacional por conta dessa disputa. Por ser a maior cidade da América do Sul, por ser a maior cidade brasileira. Eu tenho um grande amigo que foi prefeito de Vitória a dois mandatos, Luiz Paulo Vellozo Lucas, que brincava dizendo que São Paulo é um país amigo do Brasil. É uma outra realidade. Então, é óbvio que as atenções se voltam, mas eu volto a insistir naquilo que eu falei no primeiro momento. Se você olhar o comportamento do grande mentor da candidatura, Ricardo Nunes, que é o Tarcísio Governador, ele não nacionalizou. Ao contrário, ele fala, ele ataca o Boulos, não por ser do PT, mas pela história do Boulos. O Boulos não é do PT, inclusive, é do PSOL, mas pela história dele nos movimentos sociais e defende a gestão do Nunes e ataca o Marçal como uma figura, vamos dizer assim, caricata de um lado e fanfarrão de outro e deletéria de outro. Então, eu acho que esse é o cenário”.