Arthur Soffiati: Mudanças climáticas no Norte-Noroeste Fluminense
* Arthur Soffiati - Atualizado em 21/09/2024 09:17
A maioria das pessoas pensa que as paisagens naturais do norte-noroeste fluminense sempre apresentaram o aspecto que apresentam hoje. A maioria dos leigos e estudiosos não tem conhecimento da densa floresta que existia entre Ibitioca e a Serra do Mar, pela margem direita do Paraíba do Sul, e entre Guarus e o noroeste fluminense, estendendo-se até a Zona da Mata Mineira pela margem esquerda do mesmo rio. A geração anterior à minha ainda conheceu as muitas e grandes lagoas que existiam na Baixada dos Goytacazes. Elas acumulavam um volume colossal de água. Foram drenadas em grande parte. Restaram as grandes lagoas de Cima, Feia e do Campelo, que também sofrem ameaças.

A cana, o café e o gado suprimiram as florestas e as lagoas registradas pelo militar cartógrafo Manoel Martins do Couto Reis, em 1785. O que hoje se conhece como Norte-Noroeste Fluminense deu sua contribuição para o aumento do efeito-estufa e não sabe disso. Nem quer saber, tendo raiva de quem sabe. Assim, é conveniente acreditar que Campos e região apenas sofrem os efeitos das mudanças climáticas como vítima e não como cúmplices. Está certo que o mundo produziu a crise ambiental atual num tempo em que se acreditava na capacidade infinita da natureza em fornecer recursos e absorver rejeitos. Vivemos pelo menos cinco séculos criando um inimigo que agora se volta contra nós, envolvendo culpados e inocentes. A Terceira Guerra Mundial está em curso. Os contendores são a natureza e a humanidade. Esta última vivendo numa economia hostil. De antemão, sabemos quem vai ganhar.

Cientistas (com mais honestidade), governantes e empresários (não tão sinceros) estão mudando o discurso e as práticas, dizendo que é preciso reduzir (se possível, zerar) as emissões de gases causadores do efeito-estufa, reflorestar, despoluir, proteger a biodiversidade. E os prefeitos e vereadores dos 22 municípios do norte-noroeste fluminense? Em ano eleitoral, a crise climática não entra em seus discursos. Eles continuam no feijão-com-arroz de sempre como se o mundo não tivesse mudado. Um prefeito, candidato à reeleição em Campos, gaba-se de ter apresentado um projeto de lei, já aprovado na Câmara dos Deputados, mas parado no Senado, incluindo a região no semiárido para beneficiar os produtores rurais. Estes criaram o semiárido do Norte-Noroeste Fluminense e vão receber recursos para agravar mais ainda a aridez regional. Diante dos incêndios que destroem a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, os governadores e prefeitos dos estados e municípios atingidos poderiam requerer que esse projeto de lei os beneficiasse. Que todo o Brasil seja considerado semiárido. Não se pensa em elaborar projetos de reflorestamento de áreas críticas e não se reivindicam recursos para executá-los.

Cientistas, políticos e empresários desaconselham a construção de novas hidrelétricas por razões diversas. Os empresários não querem investir em empreendimentos que dependem de água quando ela começa a escassear em todo o Brasil e no mundo. Estudiosos mostram que o tempo dos empreendimentos com grandes plantas empresariais passou. Eles causam incomensuráveis impactos ambientais. Incomensurável é a palavra certa. Por mais que os estudos de impacto ambiental avaliem as mudanças e proponham programas para mitigá-los, sempre irrompem os imprevistos.

Alheio a isto, o prefeito de Campos propõe criar, caso reeleito, uma zona de negócios entre o Farol de São Tomé e o Açu. Aqui, pode-se prever com certa segurança que, minimamente, está zona vai saturar mais ainda a área costeira de Campos e do Norte Fluminense. Será que o prefeito sabe da existência do Parque Estadual da Lagoa do Açu, criado como contrapartida para a instalação do Porto e inteiramente dentro do munícipio de Campos? Será que ele foi informado da sua importância em termos de bio e de ecodiversidade? Será que ele se importa com a proteção do meio ambiente? Trata-se de um homem jovem ainda, de uma geração posterior à minha, e que devia se preocupar com as questões ambientais.

Mas, não contente em ser antigo, ele anuncia que, se reeleito, poderá viabilizar um empreendimento de um bilhão de dólares em Barra do Furado para reparo de embarcações, apoio e descomissionamento de plataformas de petróleo da Bacia de Campos. Quando ele fala em Barra do Furado, está querendo dizer canal da Flecha, que foi a primeira grande obra a causar impacto em torno de Barra do Furado. Depois, foram os espigões, o terminal pesqueiro, um empreendimento misterioso na década de 1990 e outro também cercado de obscurantismo na segunda década deste século, uma misteriosa termelétrica e o retorno do projeto industrial portuário que não deu certo. O canal da Flecha é um rio aberto por ação do governo federal. Não é como o rio Paraíba do Sul. Um empreendimento de grande magnitude vai afetá-lo. Mesmo não conhecendo o teor do projeto, posso fazer este alerta.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS