Arthur Soffiati - História ambiental
* Arthur Soffiati - Atualizado em 24/08/2024 09:18
A história ambiental é uma especialização da disciplina “história” que se consolidou na década de 1970. Sendo um ramo da história, ela mantém desta a perspectiva diacrônica. Há ciências sociais que privilegiam a dimensão sincrônica, como a antropologia e a sociologia. Existem também ciências naturais que enfatizam a sincronia, como a física, a química e a biologia. Mas há ciências naturais cujos objetos só podem ser compreendidos pela perspectiva da diacronia, como a cosmologia, a geologia história e a paleontologia.
A história ambiental apresenta especificidades. Ela não apenas examina as ideias e as representações mentais acerca de natureza. Robert Lenoble, com seu “História da ideia de natureza”, e Keith Thomas, no livro “O homem e o mundo natural”, ainda não praticam história ambiental na sua radicalidade, mas história das ideias e das representações. Autores como Fernand Braudel, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, João Dornas Filho e outros não praticam história ambiental por darem, em suas respectivas obras, um valor acentuado à natureza. Porém, sua contribuição não deve ser desmerecida pelo historiador ambiental.
A história ambiental é fruto de uma época. Ela nasce no seio da crise ambiental atual e é fruto dela. Embora, em história, não se devam empregar situações condicionais, pode-se afirmar, com relativa segurança, que a história ambiental não encontraria ambiente para se constituir, enquanto campo, antes da crise ambiental atual. Ela guarda as seguintes especificidades:
1- Entender a natureza, ou seja, a parte do mundo não criada por mãos humanas, como sujeito de história. Até então, na historiografia, a natureza mereceu grande destaque, como em Braudel, por exemplo. Mas ela é tratada de forma passiva, como bem apontou Peter Burke. Pode-se argumentar que a história ambiental não traz novidade, pois a paleontologia, de certa forma, concebe a natureza como sujeito de uma longa história. Para manter a especificidade da história ambiental, a natureza, nela, é sujeito quando interage de alguma forma com sociedades humanas. Ações humanas, como o desmatamento ou a queima de minerais fósseis, não atuam mais sobre uma natureza passiva. Elas provocam empobrecimento da biodiversidade, erosão, assoreamento, poluição, mudanças climáticas etc. A natureza busca novos equilíbrios e, nesta busca, reorganiza-se de maneira distinta da anterior, acarretando consequências sobre as sociedades humanas.
2- O objeto da história ambiental são as relações das sociedades humanas com a natureza em perspectiva diacrônica. Um historiador ambiental não pode se contentar com a abordagem feita por outros campos da história. Ele precisa consultar a natureza como documento, além de todos aqueles usados por outros campos da história, como depoimentos orais, fontes iconográficas, cartografia, documentos manuscritos, datiloscritos, digitados e editados. Autores de outras áreas são bem-vindos. Contudo, suas informações devem ser ressistematizadas pelo historiador ambiental.
3- Para desempenhar melhor seu trabalho, o historiador deve aprender rudimentos de outras ciências sociais, além da história e de ciências naturais. Não se quer dizer que o historiador ambiental terá condições de produzir trabalhos acadêmicos em física, química, biologia, antropologia e sociologia, mas apenas de dominar saberes que lhe permitam melhor desenvolver seu trabalho.
Nesse sentido, não se abre e não se fecha tanto o campo da história ambiental. Ela promove uma abordagem transdisciplinar, mais do que multi ou interdisciplinar. Assim, podemos insistir em não considerar historiador ambiental um historiador que enfatiza a natureza em seus trabalhos. Historiador ambiental autêntico são Le Roy Ladurie, Alfred Crosby, William Cronon, Warren Dean. Mas o historiador ambiental pode lançar um novo olhar para natureza nas sociedades anteriores à economia de mercado e transformá-la em sujeito.
Sugere-se que o historiador ambiental se valha dos conceitos de ecossistema, de bioma e de outros oriundos da ecologia. Meio ambiente é um conceito redundante, pois meio e ambiente, de certa forma, são quase sinônimos. Cada vez mais, emprega-se apenas o conceito de ambiente, correspondendo a meio natural e cultural, efetuando-se, dentro deste as diferenciações necessárias. Por sua vez, bioma deve ser empregado com mais rigor devido ao seu sentido pelo menos duplo: grandes unidades em que se alcançou estágio clímax ou conjunto de ecossistemas aparentados.
A grande conquista da história ambiental foi transformar a natureza não-humana em sujeito de história. Pode-se, assim, estudar as crises ambientais antrópicas não-ocidentais tanto quanto a grande crise ambiental do ocidente, que começou no século XV pelo menos. Até mesmo antes, com a emergência do modo de produção capitalista.

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