José Eduardo Pessanha - Genocídio: ser ou não ser, será a questão?
Após a desastrada observação do atual mandatário do Executivo do Brasil (tão inábil com as palavras como seu antecessor), a primeira análise que vicejou foi quanto a conceituação do que seria genocídio. De forma genérica, trata-se da designação de crimes contra a Raça Humana que têm como objetivo a eliminação da existência física de agrupamentos nacionais, étnicos, raciais, e/ou religiosos. Resumindo: trata-se de uma limpeza étnica. Já por este prisma vislumbra-se que seria algo que se conceituaria como a afronta recebida pelos judeus ante o nazismo, mas não se limitaria a esta (ou por sua proporcionalidade). Se considerarmos, com atenção veremos que a história dos embates das Nações tem sido permeada de casos reais de genocídios.
A disputa que ocorre na região da Faixa de Gaza e da Cisjordânia tem um conteúdo histórico muito pleno de informações, inclusive com muitos entendimentos diametralmente opostos. Até o final da 1ª Guerra Mundial, o território da Palestina era parte do Império Otomano, quando a região tornou a receber uma onda de emigração de judeus, já com vistas a defenderam a criação de um Estado próprio. A região da Palestina fica no Oriente Médio, ao sul do Líbano e a nordeste da Península do Sinai, entre o Mar Mediterrâneo e o vale do Rio Jordão. É a região denominada na Bíblia de Canaã, já tendo sido ocupada por diversos Povos, como Hebreus e Filisteus, dos quais descendem Israelenses e Palestinos.
Os Hebreus já habitavam na Palestina de forma tribal, desde 1200 a.C., quando se retiraram para o Egito, onde viveram por alguns séculos, conforme a narrativa bíblica do livro de Êxodo. Esta terra sempre foi conflagrada, com disputas sucessivas, com tomadas (invasões) pela Babilônia e depois por Roma. Com essas guerras, os Hebreus, antepassados dos Israelitas, dispersaram-se pela Mesopotâmia e por outras regiões onde não havia o domínio de Roma. Por fim, a região foi dominada pelos Árabes, com a expansão do Islamismo, o que levou, tempos depois, já pós Cristo (d.C), aos embates dos Cruzados (europeus) com os Muçulmanos pelo poder na Terra Santa e o direito de peregrinação. Finalmente, em 14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel, o que, praticamente, desagradou a todos os seus vizinhos (Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano), iniciando a 1ª Guerra Árabe-Israelense, sendo que ao final, vitorioso, Israel teve como espólio de guerra o poder sobre 75% do território palestino. Neste momento, faltou terra para tantos Povos juntos...esta é a sanha do território palestino, da guerra pela criação de um Estado soberano e das escaramuças contínuas entre Israel e seus vizinhos.
Agora não se enganem quem acredita que toda esta disputa envolve preceitos étnicos religiosos, apenas. É do conhecimento de todos que nos territórios palestinos existem reservas comprovadas de petróleo e gás natural, em alto volume, localizadas em parte da Cisjordânia e ao longo da propalada Faixa de Gaza. Como todas as guerras, o componente econômico é o “carro chefe” da disputa, catalisado pelo fato de que no território palestino ocupado, o direito de propriedade é falho, com restrições de circulação e embargos israelenses.
Não há como negar que o Hamas migrou de grupo extremista libertário para grupo terrorista, pois os recentes ataques em território de Israel visavam, indiscriminadamente, matar e torturar civis inocentes, o que chocou o mundo e deixou clara a sua natureza perniciosa. O Hamas é um dos maiores movimentos de guerrilha palestina em oposição a Israel, que quando usam de meios terroristas, perdem toda a sua legitimidade. O Hamas surgiu da união de médicos e outros membros graduados da sociedade palestina, que cm um determinado tempo, enveredaram pelo tortuoso caminho dos crimes. Assim, não há como se criticar um Estado (Israel) que se defende de um grupo terrorista extremamente cruel e busca a extinção deste. Note que nesta caçada ao Hamas, praticamente todo o mundo se posicionou a favor de Israel! Ocorre que, como no direito penal, a legítima defesa deve ser proporcional ao agravo. É isto que ocorre hoje na guerra entre Israel x Hamas, ou seja, melhor dizendo: Israel x Palestinos? São milhares de mulheres, crianças e idosos que foram assassinados por Israel sob a desculpa que estavam “em busca de terroristas”. Isso não é um efeito colateral – trata-se de um efeito principal.
Não há como se justificar que para matar algumas centenas de terroristas do grupo Hamas, se aniquile quase 40 mil pessoas. Assim, com o devido respeito às opiniões em contrário, é claro que se trata de um genocídio... e mais... se trata de Israel, aproveitando-se da neblina do terrorismo, tentar erradicar todos os Palestinos, buscando aumentar sua participação na Faixa da Gaza e ter o controle total da exploração de petróleo na região (com seus aliados: EUA e Grã-Bretanha). Nada mais do que a antiga busca desregrada pelo poder! Esta conclusão acima não vem para absolver o Presidente Lula da ausência de tato diplomático ou do excesso de soberba. Quando você representa algo bem maior que sua estatura, deve ter a exata noção do alcance de suas palavras, mas também é fato que o que ocorre hoje na Faixa da Gaza não é uma guerra ou os mortos são, apenas, parte do efeito colateral: há uma limpeza étnica e isso deve ser encerrado imediatamente!
A criação de um Estado Palestino pode não ser a solução, mas colocaria os povos em pé de igualdade para discutirem suas tênues fronteiras. Hoje, o massacre que existe tem levado a extinção de famílias inteiras, soterrados sob suas próprias casas ou acuados como animais. A Faixa de Gaza tem (tinha), aproximadamente, 2,5 milhões de pessoas, das quais mais de 70% tiveram de se deslocar dentro do território; não seria um dos êxodos históricos? Hoje, as doenças se alastram com progressão aritmética, pois, simplesmente, para os que ainda estão vivos, não há sistema de saúde. Ao invés dos Países deliberarem sobre bravatas e estarem apegados aos conceitos dos verbetes, deveriam salvar pessoas, pois, afinal, somos todos do mesmo planeta, independente de nomenclatura de países, fronteiras ou bandeiras. Parem a Guerra!