A intenção é derrubar a PEC ou chamar Ciro de coronel?
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Aprovada em primeiro turno na madrugada desta quinta-feira (4) — por 312 votos favoráveis e 144 contrários —, a chamada PEC do Calote (Proposta de Emenda à Constituição dos Precatórios - PEC 23/21) precisa voltar à Câmara para aprovação final; o segundo turno deve ocorrer na próxima semana.
Os votos de duas bancadas de oposição surpreenderam. PSB e PDT, dois partidos de esquerda, votaram com o governo, dando, somados, 31 votos decisivos a favor da PEC. Alegando desconhecimento do acordo e rechaçando a forma que votou seu partido, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) decidiu “deixar em suspenso” sua pré-candidatura (veja aqui). Pelo Twitter, Ciro disse que votar a favor da PEC é “compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas”, e que “justiça social e defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, (...) calotes”.
Mesmo Ciro cobrando uma reavaliação da bancada de seu partido, e condicionando um recuo na suspensão de sua pré-candidatura ao voto contrário dos deputados do PDT, a militância do PT o atacou duramente. Chamado de “coronel” por adversários bolsonaristas e petistas, Ciro foi acusado de mentir sobre o desconhecimento dos votos pedetistas, e que tudo não passaria de um engodo.
O fato é que a posição de Ciro já começa a fazer com que votos sejam revistos. É preciso ponderar que a votação em primeiro turno representou um placar com apenas quatro votos a mais do mínimo necessário para aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (ou 308 votos, o correspondente a três quintos dos 513 deputados - EBC). Caso Ciro consiga reverter a votação dentro do PDT ele tem boas chances de conseguir tombar a PEC, chance potencializada caso o PSB — que já se posicionou institucionalmente contrário à PEC — consiga fazer um movimento “vira-voto” de sucesso.
A democracia possui freios e contrapesos que devem ser utilizados pelas forças partidárias com inteligência e estratégia. Coronel ou não, Ciro pode alterar o jogo e impedir que o absurdo aconteça. Sim, o PT fez o dever de casa e rejeitou a PEC por todos seus deputados (com uma ausência - Poder360). Mas não conseguiu impedir sua aprovação em primeiro turno. Em segundo pode fazê-lo, mas vai precisar rever posicionamentos.
Mas, suponhamos que esteja certa a militância do PT e que o episódio seja uma desculpa de Ciro para o abandono de barco, ou uma forma de sair-se bem com seu eleitorado. Não seria a prova inequívoca de que o suposto “coronelismo” cirista é inócuo? Para além das suposições, não seria a alcunha de coronel injusta para quem investiu tanto em educação, por exemplo? Um coronel que emancipa pessoas não seria um paradoxo? Talvez rever preconceitos trazidos por sotaque, forma de ser e aparência física ajudem no debate mais saudável. Não ser um "coronel" não transforma Ciro em um santo; tem muitos erros e seu maior inimigo é ele mesmo. Mas evita que covardias como a de 2014 (veja aqui) com Marina se repitam.
*Em tempo: hoje fui pessoalmente atacado, pelo Twitter, por questionar o fato da militância petista chamar Ciro Gomes de coronel. O ator global José de Abreu respondeu minha postagem e recebi diversos comentários com ataques: veja aqui, na matéria do Nino Bellieny, e aqui no Twitter.