Estrugiram os últimos foguetes de São Salvador na praça central de Campos; marcavam o fim dos festejos. A tricentenária comemoração ao padroeiro da cidade ocorre, pelo segundo ano consecutivo, sem eventos de maior público. As atividades, por estarmos, ainda, em uma pandemia, limitaram-se a uma carreata e missa. A Praça do Santíssimo — sofredora de tantas intervenções estéticas e afetações históricas — não pôde receber barraquinhas de pastel e munícipes vindos de todo canto, que a lotavam, em uma das festas mais democráticas da cidade.
A primeira capela dedicada ao Santíssimo Salvador — ou São Salvador, todos fazendo referência a Jesus Cristo — data-se de 6 de agosto de 1652 e foi erguida em Campos na Rua Direita, onde hoje está a Igreja de São Francisco de Assis, na Av. Treze de Maio, nome atual do logradouro. A segunda, onde hoje é a Catedral Diocesana, foi construída ao lado da antiga capela do Senhor dos Passos e do velho cemitério. A construção, por sua centralidade e imponência, em um dos locais mais altos e de frente para o Rio Paraíba, é um marco da influência e poder da Igreja Católica na região, não diferente dos outros processos de colonização no Brasil.
Aproximadamente vinte anos antes da primeira capela, alguns militares portugueses, chamados de "Os Sete Capitães”, receberam em sesmarias, as terras dessa região. Quando outro “Salvador” — nome muito comum em Portugal, também em homenagem a Jesus — foi determinante na história campista; General Salvador Correa de Sá e Benevides, que tinha muito prestígio político, convence os Capitães a assinarem uma escritura dividindo a terra com ele e as ordens religiosas.
Pela evolução dos fatos históricos é inegável o papel da Igreja Católica em Campos; para o bem e para justificativas morais para exploração de seres humanos, reconhecidas como um erro pela Igreja. Mas, seria a primeira capela na Treze de Maio o “marco zero”? A cidade se constituiu ali? (veja aqui discussões atuais sobre o nascimento de Campos)
O dia 6 de agosto é essencial para a história da região. Porém, uma cidade é mais que uma religião, em certo sentido. Outras tantas formas de fé são exercidas. Cidade é conjunto, coletividade, organizações sociais, cultura, poder e instituições públicas. Uma Câmara Municipal constituiu-se aqui em 1º de janeiro de 1653, com a posse dos vereadores e a primeira sessão. Mas foi dissolvida, e outra se impôs em 29 de maio de 1677 de forma definitiva. Estado e Igreja coexistem. Ambos, essenciais. A história mostra que são consequentes. Preservá-las, garante nosso modo de vida, para que possamos festejar padroeiros e aniversários por outros séculos futuros.