28 de março? Aniversário de Campos não reflete sua história
28/03/2021 08:47 - Atualizado em 28/03/2021 08:59
Praça São Salvador
Praça São Salvador / Arquivo Nacional
O que comemora-se hoje, 28 de março, em Campos? Embora a resposta “elevação à categoria de cidade” esteja na ponta da língua — e já tenha se tornado uma tradição, o aniversário de Campos dos Goytacazes gera controvérsias. Pelo menos quatro datas da opulenta história campista dividem opiniões, para que se determine seu nascimento. Elevar-se à categoria de cidade pode representar apenas um detalhe burocrático que conta pouco sobre a planície de importância central na história do Brasil.
O que hoje se entende por Campos tem início com seus povos originários. Tribos indígenas com presença tão marcante que leva uma delas ao seu nome. Goytacazes, Puris e Coroados habitavam a região e com o início da colonização (invasão?) portuguesa, acabou se transformando em uma capitania em meados do século XVI: a Capitania de São Tomé. E o que poderia ser considerado um povoado foi se desenvolvendo — mas não sem resistência, marcando o início da disputa pela terra, uma realidade presente até os dias atuais. Em 1627, após duas tentativas frustradas de colonização efetiva, o Império Português doa as terras da então 'Vila da Rainha' aos "sete capitães", um grupo de fazendeiros investidos em comendas, que receberam a missão de enfim controlar a região e deram início a criação de gado, construindo o primeiro curral em Campo Limpo, no ano de 1633.
Dezenove anos depois, em 1652, o primeiro engenho de açúcar é erguido. E consolida a pujança dessa atividade econômica na região. O que determinou dois eventos futuros que levam historiadores campistas a discutir sobre a data do real nascimento de Campos. Os dois marcos são:
1° de Janeiro de 1653 - É instalada a primeira Câmara de Campos, que efetivou sua existência legal, segundo os parâmetros portugueses. Nasce a Vila de São Salvador. Para ter sido elevada a categoria de Vila, possuir uma Câmara era requisito básico, uma vez que representava os interesses ultramares do império. Por questões políticas e econômicas, essa casa legislativa é dissolvida em 1657.
29 de Maio de 1677 - A Vila de São Salvador dos Campos é novamente estabelecida pelo governador General Salvador Corrêa de Sá e Benevides. É o início do domínio Asseca na região, que perdurou-se por mais de um século. Esta data desencadeia eventos que consolidam Campos como um centro comercial e produtor importante.
A história de Campos é contada, com todas suas complexidades, a partir dos anos 1600. Mesmo quando ainda era uma pequena Vila já possuía relevância, e era uma das prioridades do Império nas terras brasileiras. Evidenciado nas quatro vezes que foi anfitriã do imperador D. Pedro II. Campos dos Goytacazes computa em sua história pelo menos o dobro dos 186 anos que são comemorados neste 28 de março.
Uma história que deve ser contada através de suas vivências, seus fatos, suas relações políticas e sociais que a marcaram, tendo início com os povos originários. No cenário nacional, Campos sempre foi uma das protagonistas. Com extensa produção intelectual e uma imprensa atuante há quase dois séculos, produziu personagens icónicos como Benta Pereira (1675-1760) e Nilo Peçanha, alçado ao cargo de Presidente da República em 1909. A produção de gado, aguardente e açúcar, a disputa pela terra, a miscigenação histórica e suas relações com a escravidão — negra e indígena, constroem o alicerce de uma história que precisa ser contada. Da maneira correta.
As comemorações do dia 28 de março não são oficiais, não foram ainda consolidadas na Câmara atual, como sendo o aniversário de Campos. Comemorar na data certa pode ser o primeiro passo, para fortalecermos (criarmos, enfim?) a identidade do campista e buscarmos melhorar nosso presente e futuro. Como? Entendendo definitivamente o nosso passado.
Comemorações (virtuais) do 28 de março
Como manda a pandemia, pelo segundo ano, esse aniversário de 186 anos de Campos — de elevação à categoria de cidade —, no domingo (28), acontece no miudinho, com programação enxuta, como determina os protocolos.
A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) vai promover mesas de debate, com transmissão pelo canal da FCJOL no YouTube. Serão duas apresentações, realizadas às 10h e 18h, em formato de web conferência. As duas mesas terão as participações do prefeito, Wladimir Garotinho, e da presidente da FCJOL, Auxiliadora Freitas.
A primeira dinâmica será mais uma etapa do projeto “Arquivo Conectado”, do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho. Com mediação da professora e historiadora Rafaela Machado, a partir das 10h, além de convidados, na abordagem da temática “De povoado à Vila”. Em seguida, apresentando o tema “Freguesia, Vila e Cidade”, Neila Ferraz, mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e pesquisadora com ampla experiência em História Regional, fará uso da palavra.
O último evento será o lançamento do projeto da exposição itinerante “Povoado, Vila e Cidade”, fruto de uma parceria entre a FCJOL, o Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos (CDL), através do Museu Histórico de Campos. A mediação será feita pela professora e historiadora Graziela Escocard, tendo como convidados o presidente do IHGCG, Genilson Soares, e o vice-presidente da CDL Campos, Edvar Chagas Jr. (Dora Paes)

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    Edmundo Siqueira

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