Daniela Abreu e Aldir Sales
08/05/2018 14:59 - Atualizado em 10/05/2018 16:32
Aconteceu nesta terça-feira (8), no Fórum Maria Tereza Gusmão, a primeira audiência de instrução e julgamento do caso Ana Paula. Dos quatro acusados — Luana Barreto Sales, apontada como mandante da morte de Ana Paula Ramos; Marcelo Henrique Damasceno, que teria, a mando da ré, intermediado a contratação de Wermison Carlos Sigmaringa e Igor Magalhães de Souza, executores do crime — apenas Luana depôs. Além dela, 11 testemunhas de acusação seriam ouvidas, mas algumas se recusaram a falar perante os acusados. Também testemunharam nesta terça a mãe da Ana Paula e o irmão da vítima, que é marido da Luana. A audiência foi encerrada por volta das 22h.
A chegada dos réus ao fórum foi atrasada por problemas no veículo da secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) que os levou da Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro.
A audiência começou às 16h35, com o depoimento do titular da 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), Luís Maurício Armond. O delegado conta o que aconteceu no dia do crime, que estranhou a quantidade de disparos para um crime patrimonial. Armond disse, ainda, que estranhou que a Luana titubeou na hora de fazer o reconhecimento de um dos criminosos.
De acordo com ele, a Luana não foi coerente em nenhum momento das investigações. Ele disse que a Luana chegou a afirmar para ele e para diversas testemunhas que ela teria contratado os homens para dar um susto na Ana Paula, e não para matar. Segundo o delegado, entretanto, o Igor foi categórico em dizer que o “susto” se tratava de assassinato.
Armond afirmou que há um procedimento instaurado para investigar se pessoas ligadas à Luana teriam oferecido R$ 15 mil para que os outros réus mudassem a versão. Segundo o delegado, no entanto, os acusados também queriam que ela alterasse o depoimento dela quanto ao reconhecimento.
Na quebra de sigilo telefônico, foi identificada uma série de ligações da Luana para o Igor, entre as 16h da véspera e 2h do dia do crime. Segundo o delegado, esses contatos teriam sido para negociar a troca do local do crime.
Durante o depoimento do delegado, os três acusados de serem os executores mantiveram a cabeça baixa. Luana se mostrou atenta e fez sinais negativos e positivos em trechos da fala de Armond. A mãe de um dos acusados teria admitido a Armond que ele participou do crime.
O titular da 146ª DP começou a ser indagado pela defesa dos réus. Armond disse ao advogado do Marcelo que a Luana teria buscado os executores dizendo que queria que dessem um susto na amante do marido da tia, que maltratava o filho do casal, mas que depois converteu para o homicídio. As negociações, segundo o delegado, tiveram início pelo Messenger da mulher do Marcelo e que ela própria disse que teria apagado as mensagens diante da repercussão do caso.
O juiz perguntou a Armond se em algum momento essa criança de quatro anos que seria maltratada foi identificada no decorrer das investigações e ele disse que não, que “a criança ainda não nasceu”.
O depoimento do delegado responsável pelas investigações do caso terminou às 17h37.
Após Luís Maurício, teve início o depoimento do policial militar que prendeu o Igor. Ele contou que estava atendendo uma ocorrência, quando recebeu a informação de uma tentativa de latrocínio e que o autor estaria em um determinado endereço. Ele se dirigiu ao local e viu alguém pulando por uma casa nos fundos. O PM capturou o Igor e o conduziu à delegacia. Segundo o policial, no momento da prisão, o acusado negou que fosse autor do crime, e disse que não tinha arma de fogo. O PM não foi ouvido pela defesa.
Em seguida, o marido da Luana e irmão de Ana Paula, Paulo Roberto Ramos Filho, foi chamado para prestar depoimento e disse que trabalha em Macaé de segunda a sexta. No sábado, dia do crime, chegou a casa e almoçou normalmente, e que a Luana disse iria ao Centro com a Ana Paula comprar um vestido.
Ele contou que depois começou a ligar para as duas, porque estava ficando tarde, e que em certo momento a Luana atendeu falando sobre o suposto assalto e que a Ana Paula tinha sido baleada. Paulo disse, ainda, que antes disso o marido da irmã teria conseguido falar com ela e que Ana Paula contou que estava na praça de Custodópolis esperando uma amiga da Luana. Ele disse que mandou o marido da irmã ligar de volta, porque o local seria perigoso, mas não conseguiram mais falar com Ana Paula.
Paulo contou que achou estranho as duas estarem naquele local, e que a Luana disse que foi ao lugar para levar uma diferença de caixa para uma amiga, mas que ela não teria avisado antes. Somente havia falado que iria ao Centro ver o vestido. O irmão da vítima ressaltou que ficou cerca de 10 anos com a Luana e que nunca havia percebido nada de estranho em seu comportamento.
Diante da falta de clareza da motivação do crime, a acusação afirmou que a Ana Paula disse ao irmão que a Luana estava saindo muito tarde do banco, e que a vítima passava por lá e via o carro da cunhada, e perguntou se ele acha que a Ana Paula pode ter investigado esse comportamento. A testemunha respondeu que a irmã pode, sim, ter tentado investigar.
Paulo disse também que a Luana se recusou a ir à delegacia quando foi solicitada por conta das indicações dos outros.
Outra testemunha iniciou seu depoimento por volta das 19h. A mulher disse que não conhece nenhum dos acusados, mas que foi à delegacia no dia seguinte ao crime. Ela contou que estava na praça de Custodópolis no dia anterior ao crime e que reparou quando uma mulher “muito bonita” saiu de um carro e encontrou um homem forte. Na praça, segundo ela, também havia outros dois rapazes juntos mais afastados em um banco. De acordo com a testemunha, a mulher e o rapaz mais forte teriam ido para a lateral da praça e conversado por um tempo. Depois, os quatro voltaram juntos e a mulher entrou no carro, entregou um envelope ao rapaz e todos saíram.
Na delegacia, a testemunha viu a Luana e a reconheceu, mas não soube confirmar quem seriam os quatro jovens.
Teve início às 19h35 o depoimento de outra testemunha, colega de trabalho de Luana. Ela relatou que não tinha muito contato com a ré, mas que, no sábado, dia do crime, a acusada mandou um áudio pelo WhatsApp pedindo que ela levasse uma quantia em dinheiro para cobrir o caixa da Luana na segunda-feira, mas que não era para contar a ninguém, porque ela tinha pegado para um consórcio e que o marido não sabia.
Segundo a testemunha, a Luana teria dito que, caso o marido ligasse, não era para atender. “Ela mandou um áudio apenas, muito nervosa, e falando para não responder”, disse a testemunha. De acordo com ela, na segunda-feira, Luana comentou sobre o suposto assalto brevemente e pediu para depositar R$ 500. A testemunha contou que Luana nunca foi de falar sobre a vida dela.
A testemunha a prestar depoimento em seguida foi uma amiga de Luana na época da escola, mas que depois perdeu contato. Segundo ela, na quarta-feira antes do crime, Luana ligou falando que o marido da tia dela tinha uma amante, que estava ameaçando a tia e filha da tia, e Luana perguntou se ela não tinha alguém para dar um susto. Ela disse que não, e orientou ir a uma delegacia. A testemunha disse que depois Luana falou friamente sobre o suposto assalto por mensagem. Ela, então, prestou solidariedade e não falou mais com a ré. A testemunha contou que depois ligou o caso à ligação da Luana.
Por volta das 19h55, teve início o depoimento da mãe de Ana Paula. Ela disse que a Ana Paula estranhou a Luana ligar durante aquela semana insistentemente para irem ver o vestido. A mãe achou estranho o horário escolhido por Luana, num sábado à tarde. Como relata a mãe de Ana Paula, questionada sobre o horário, Luana disse que, se não tivesse loja aberta, iriam tomar sorvete. Ana Paula chegou a convidar a mãe para sair, mas ela não quis. Ela ainda afirmou que Luana estava feliz, rindo, como nunca esteve.
A mãe de Ana Paula conta que foi até a casa da Luana na segunda depois do crime para tentar entender o que tinha acontecido. Ela disse que passou a desconfiar da mulher do filho depois de ter ido à casa dela. Luana a deixou esperando muito tempo e, depois disso, ela entrou no quarto desesperada, agarrou a ré e a perguntou por que a filha dela levou os tiros e a Luana não. Luana, então, disse que precisava ir trabalhar.
Outro depoimento, que teve início por volta das 20h35, foi o da madrinha de casamento de Luana e Ana Paula. Ela era responsável por organizar o chá de lingerie de Ana Paula. Ela contou que Luana não se manifestava muito no grupo de organização. O evento seria no dia dos pais, mas Luana pediu para adiar para o dia que acabou acontecendo o crime. Ela disse que chegou a ir à delegacia, quando Luana estava lá, para tentar ver se a ré falava alguma coisa, mas ela se negava. Alterava entre choro e seriedade, mas negava tudo.
Os réus entraram para depor por volta das 20h55, mas apenas Luana falou. Ela negou todas as acusações e as versões das testemunhas, mas ficou em silêncio quando o promotor apresentou registro telefônico do celular dela e dos outros três réus. Anteriormente, ela disse que não conhecia os outros envolvidos. Ela também não comentou a versão da primeira informante sobre o contato para dar um susto numa suposta amante do tio dela, nem a versão da testemunha que disse ter a visto um dia antes na praça de Custodópolis com os outros três réus.
Ela falou que os R$ 500 que estavam com ela no dia do crime eram para aluguel do vestido que usaria no casamento de Ana Paula. Luana ainda disse ter relatado a uma das testemunhas que o dinheiro tinha sido de um consórcio para não irritar o marido, que dizia que ela estava gastando demais. A ré ainda negou a versão da mãe de Ana Paula sobre ter escolhido a data para ver o vestido. Ela contou que Ana Paula quem teria insistido para ela ir ver o traje e que a ideia de ir a sorveteria também teria sido da vítima. A acusada disse que, depois de irem à sorveteria, elas foram ver a sua casa, que estava sendo construída, no momento em que aconteceu o assalto.
Sobre a mudança na data do chá de Lingerie, ao contrário do que foi dito por uma das testemunhas, a ré disse não ter sido ideia dela. Luana contou que a mudança partiu de um consenso entre as organizadora da festa, em um grupo de WhatsApp.
Ela relatou que os assaltantes teriam levado tudo o que estava em sua bolsa e, como Ana Paula estava com o celular na mão e teria reagido instantaneamente, os suspeitos teriam atirado contra ela, que correu, quando foi efetuado um segundo disparo. Luana ainda disse que um terceiro tiro teria sido em sua direção. Após os tiros atingirem Ana Paula, ela teria olhado para o lado e visto Marcelo — namorado de uma amiga dela e apontado como o intermediário do crime. A mulher negou o conhecer pessoalmente, dizendo que o reconhecia apenas por foto.
A acusada ainda negou a versão de uma das testemunhas sobre ela não ter prestado socorro e disse que logo ligou para os bombeiros. Luana falou, ainda, que queria aguardar a chegada dos agentes, mas que pessoas que estavam no local colocaram Ana Paula na caçamba de uma Saveiro e a levaram para o hospital. Ela ainda contou que, diferente do que foi relatado, estava abalada com a situação.