Inferno astral do casal Garotinho
Suzy Monteiro 16/12/2017 22:37 - Atualizado em 19/12/2017 15:54
Garotinho preso na operação Caixa DENTITY_apos_ENTITYágua
Garotinho preso na operação Caixa DENTITY_apos_ENTITYágua / Agência O DIa - DIvulgação
Caça-fantasma, Chequinho, Caixa d’água. O inferno astral da família do casal de ex-governador Anthony e Rosinha Garotinho é incendiado por três operações que têm em comum, além dos “C” iniciais, milhões circulando, segundo investigações da Polícia Federal (PF) e Ministérios Públicos Estadual e Eleitoral. Na Caça-fantasma, o empresário Fernando Trabach estaria negociando delação — a maior parte dela citaria Garotinho. Preso em Bangu desde novembro, o político anunciou greve de fome sexta-feira (15). Na tarde desse sábado (16), um de seus filhos, Anthony, divulgou vídeo onde fala que acompanhará o pai na empreitada.
Fernando Trabach é apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como líder de uma organização e responsável por usar uma pessoa fictícia, George Augusto Pereira da Silva, com o objetivo de cometer crimes licitatórios e contra a ordem tributária. O chamado “fantasma” foi usado para vencer licitações em vários municípios do Estado e figurou como sócio de dezenas de empresas e outorgante de procurações para atuação junto a bancos, cartórios e prefeituras. A GAP tinha contrato com a Prefeitura de Campos durante a gestão Rosinha, para locação de ambulância.
Fernando Trabach
Fernando Trabach / Reprodução
Trabach foi preso em agosto e começou as negociações com o Ministério Público do Estado logo após a prisão. Foi solto pouco depois, com o acordo fechado. Em novembro, porém, voltou a ser detido, consequência da operação Mercado de Ilusões. Segundo o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, uma das condições estabelecidas para a colaboração era que Trabach não fosse preso novamente.
No início de agosto, o MPE cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do casal Garotinho, na Lapa, em Campos, e na Prefeitura. Em novembro, quando já estava preso, Garotinho chegou a prestar depoimento sobre o assunto. O conteúdo não foi revelado.
A GAP Comércio e Serviços Especiais tinha como dono o fantasma George Augusto Pereira. Em 2009, no primeiro ano da gestão de Rosinha, a GAP foi contratada para alugar ambulâncias ao município e recebeu R$ 32 milhões entre 2009 e 2011. O MPE apontava fraude na licitação que resultou na contratação desde agosto de 2011. A prefeitura, porém, só rompeu o contrato com a GAP após a revista Época revelar que George era um “fantasma”.
Além de prestar serviço à prefeitura administrada por Rosinha, a GAP foi contratada em 2011 pelo gabinete do então deputado federal Garotinho para locar um carro em Brasília. A despesa foi paga com dinheiro da Câmara, que banca a atividade parlamentar. Na mesma época, a empresa chegou a emprestar um carro para Wladimir Matheus.
Em nota anterior, a ex-prefeita Rosinha afirmou que a Prefeitura foi vítima da ação do esquema montado pela GAP, a exemplo de outras prefeituras e órgãos públicos do estado. E que o contrato foi rompido após a descoberta das irregularidades.
Os ex-governadores Anthony Garotinho (PR) e Rosinha Garotinho (PR) foram presos preventivamente dia 22 de novembro no âmbito da operação Caixa d’Água, acusados de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais e até uso de armas de fogo para intimidação.
A denúncia apresentada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e Inquérito da Polícia Federal tem como base delações premiadas do ex-executivo da JBS, Ricardo Saud, e de empresários locais. Segundo a investigação, a multinacional dos alimentos firmou contrato fictício com a empresa de serviços de informática Ocean Link para repassar R$ 3 milhões para a campanha de Garotinho ao Governo do Estado em 2014. Além disso, o político da Lapa é apontado como o comandante de um esquema para cobranças de propinas na Prefeitura de Campos durante a gestão de Rosinha.
Rosinha teve a prisão convertida em medidas cautelares pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas Garotinho e os demais tiveram os pedidos negados pelo TRE e, liminarmente, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deve julgar o Habeas corpus antes do recesso, que começa quarta-feira.
Um dos filhos de Garotinho, Anthony Matheus, anunciou ontem, que irá acompanhar o pai na greve de fome. Anthony diz que o pai precisa ser ouvido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Garotinho enviou carta, nessa sexta-feira, à direção do presídio em Bangu, anunciando jejum por tempo indeterminado.
Garotinho diz que quer ser ouvido pela CNJ para levar denúncias contra o ex-governador Sérgio Cabral, que está preso em Benfica há mais de um ano. Garotinho também renunciou ao direito de banho de sol e de receber visita de familiares e dos advogados. Nesta semana, Ralph Manhães chegou a acatar o pedido de Rosinha para autorizar visita ao detento. A ex-prefeita também foi presa na Caixa d’Água, mas teve a reclusão revertida em medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica e recolhimento domiciliar à noite e aos finais de semana.
Condenação e prisão na operação Chequinho
Em setembro, o ex-governador foi condenado e preso pela Justiça Eleitoral. Ele foi detido quando apresentava o programa de rádio que ancora na Rádio Tupi. A Polícia Federal levou Garotinho para Campos, onde cumpriu prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
Garotinho foi condenado a 9 anos e 11 meses de reclusão, além de multa de 225 salários mínimos, ou seja, R$ 210.825 por comandar um esquema de fraude eleitoral quando era secretário de Governo de Campos. Em troca de votos em candidatos a prefeito e vereadores em 2016, a prefeitura oferecia inscrições no programa Cheque Cidadão, que dá R$ 200 por mês a cada beneficiário, de acordo com Ministério Público Estadual.
A pena, no entanto, foi transformada em prisão domiciliar com medidas cautelares até a decisão em segunda instância.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) negou liberdade a Garotinho, que só foi concedida pelo plenário do TSE. Durante o tempo da prisão — a segunda na Chequinho — Rosinha disse que seria “a voz” de Garotinho e afirmou que ele estava preso por fazer denúncias contra o desembargador do Tribunal de Justiça Luiz Zveiter.
Rosinha também foi condenada na Chequinho, mas na esfera cível-eleitoral, sendo considerada inelegível por oito anos.
Na Caixa d’água, ela chegou a ficar presa em Benfica por uma semana, até ser liberada pelo TRE com tornozeleira eletrônica e outras medidas restritivas.

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