Lins sem relação com Chequinho
Aluysio Abreu Barbosa 03/06/2017 17:01 - Atualizado em 06/06/2017 18:43
Álvaro Lins
Álvaro Lins
“Jamais tive esse tipo de diálogo com o ex-governador Garotinho”. Foi o que garantiu o advogado Álvaro Lins. Ex-deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil nos governos estaduais Garotinho e Rosinha, ele negou a possibilidade, noticiada pela Folha e O Globo, de que seu escritório tivesse sido contratado pelo ex-governador para levantar informações sobre autoridades públicas responsáveis pela operação Chequinho. Lins confirmou, no entanto, um encontro com Garotinho no final de 2016, mas restrito à mudança de defesa do acusado de liderar um “escandaloso esquema” de troca de Cheque Cidadão por voto na eleição de 2016 em Campos. Para Lins, “Garotinho é um nome forte da política fluminense e sofre uma perseguição implacável de setores da mídia por uma única razão: ele não tem cabresto”. Nesta entrevista, onde também falou da sua condenação e de Garotinho pela Justiça Federal do Rio, além da política fluminense de Segurança Pública, o ex-chefe de Polícia disse ao fim da sua última resposta, aparentemente personalizada: “Se você me conhecer de verdade verá que, comparado a tudo que fizemos, o capitão Nascimento é um simples escoteiro”. Como a entrevista foi feita por e-mail, não deu para perguntar por quê.
Folha da Manhã – O senhor foi contratado ou sondado por Anthony Garotinho (PR) para levantar informações sobre o juiz Ralph Manhães, o promotor Leandro Manhães e o delegado federal Paulo Cassiano, nomes à frente da operação Chequinho, que condenou vários nomes do grupo político do ex-governador pela troca de Cheque Cidadão por voto, nas eleições municipais de Campos em 2016?
Álvaro Lins – Não. Jamais tive esse tipo de diálogo com o ex-governador Garotinho.
Folha – Como explicar que a possibilidade da sua contratação por Garotinho tenha chegado à Folha através de uma fonte e sido confirmada cinco dias depois ao jornal O Globo, por duas outras fontes? Essas fontes estão mentindo? Por que o fariam? Qual seria o interesse de envolvê-lo, um advogado e político radicado no Rio, nos fatos de Campos?
Lins – No final do ano passado o ex-governador Garotinho mudou de advogado e contratou o dr. Fernando Augusto Fernandes, tendo me pedido para elaborar um resumo das nulidades e demais teses que envolvem nossos processos em comum, sendo esta a razão do contato que mantive com ele e com seu novo defensor. Quanto ao jornal O Globo, este apenas repercutiu a matéria da Folha da Manhã e a busca que foi realizada (em matéria de 17 de março, do jornalista Marcos Grillo, o jornal carioca afirmou: “A contratação de Lins foi veiculada pelo jornal ‘Folha da Manhã’ e, segundo O Globo apurou, foi confirmada a investigadores por duas fontes diferentes”). A repercussão é consequência natural quando se lançam ilações contra pessoas públicas e fontes humanas sempre podem ser movidas por interesses inconfessáveis.
Folha – Além da informação das fontes, cujo sigilo é prerrogativa constitucional, um inquérito foi aberto na 100ª Zona Eleitoral sobre suas possíveis relações com Garotinho nos desdobramentos da Chequinho. Em que pé estão essas investigações?
Lins – Nunca fui ouvido em inquérito algum e nem vejo motivo para isso. Não tenho ideia de quem sejam as pessoas acusadas ou dos fatos em apuração, apenas tomando conhecimento pelo que li nos jornais.
Folha – Depois da operação do GAP que, em 17 de março, apreendeu imagens de câmeras do prédio onde Garotinho reside, ele alegou num programa da Rede TV, em 31 de abril, que não está proibido de se encontrar com o senhor. Houve encontros entre os dois durante ou após a eleição municipal de 2016? A Chequinho foi assunto em algum deles?
Lins – Como disse anteriormente, meu contato com ele foi no final de 2016, após as eleições, e apenas em razão da mudança na defesa.
Folha – Como ex-delegado e advogado, qual sua opinião da condução da Chequinho nas investigações e no Judiciário?
Lins – Pelo que tenho lido e visto na mídia a ordem para retirar o ex-governador de um hospital contrariando orientação médica não pode ser vista como normal. Não me lembro de ter visto isso acontecer, mesmo quando lidei com a prisão dos mais sanguinários bandidos do Rio, bastando lembrar que naquele mesmo hospital ficou internado ano passado o traficante Fat Family, que fugiu antes de ser transferido.
Folha – Na eleição de 2014, foi vazado um áudio com o senhor pedindo votos a policiais pelo WhatsApp para Garotinho a governador, que não chegou ao segundo turno daquele pleito. Por que esse seu trabalho político teve que ser vazado para ser conhecido? Isso não pode passar a ideia de algo a esconder?
Lins – Sou filiado ao PR e nada tenho a esconder. Garotinho é um nome forte da política fluminense e sofre uma perseguição implacável de setores da mídia por uma única razão: ele não tem cabresto e não se presta ao papel de marionete de ninguém. Esse tipo de político não interessa a muita gente importante.
Folha – O senhor foi chefe de Polícia Civil nos governos estaduais de Garotinho (1999/2002) e Rosinha (2003/07). Qual chegou a ser e é hoje a sua relação com o casal?
Lins – Quando fiz concurso para delegado eu passei em primeiro lugar e já era capitão da PM, onde também terminei na primeira colocação o curso de aperfeiçoamento. Essa qualificação me levou a trabalhar na Divisão Antissequestro e na Polinter, até que fui convidado pelo então secretário Josias Quintal para ser chefe da Polícia Civil no final do ano 2000. Até então eu não conhecia o casal Garotinho e meu contato com eles foi sempre profissional, até que decidi ser candidato e falar também de política.
Folha – A partir da operação Segurança Pública S/A, deflagrada pela Polícia Federal em 2008, o senhor e Garotinho foram denunciados pelo Ministério Público Federal por usar a estrutura da Polícia Civil, durante o governo Rosinha, para formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção e facilitação de contrabando. Em 2010, os dois foram condenados pela Justiça Federal do Rio: o senhor a 28 anos de prisão; Garotinho, a dois anos e meio. Atualmente, o caso está no Tribunal Regional Federal do Rio (TRF 2). Como está o processo?
Lins – O processo aguarda julgamento da apelação e essa sentença será revertida. Desafio qualquer um a me mostrar quem me pagou, quanto, onde e como. É uma condenação por ouvir dizer e sem qualquer fundamento.
Folha – Diferente de Garotinho, que não sofreu grande consequência prática da denúncia e posterior condenação, o senhor chegou a ser preso entre 2008 e 2009, teve cassado seu mandato de deputado estadual e foi demitido do cargo de delegado de Polícia Civil. Sente-se injustiçado? Por quê?
Lins – Injustiçado é pouco. Mas tenho certeza que tudo isso será devidamente reparado.
Folha – O senhor também acabou perdendo a carteira da OAB, que conseguiu recuperar em 2013. Em que se consiste sua atuação hoje como advogado? Vive apenas dela ou mantém também outras atividades? Pretende ainda retomar a carreira política?
Lins – Isso é um equívoco. Nunca tive carteira da OAB porque eu era militar quando terminei a faculdade e havia impedimento. Fiz o exame de ordem como qualquer um e passei. Hoje vivo como advogado atuante em centenas de processos e professor universitário. Me candidatei a deputado estadual em 2006 e fui o 5º mais votado no Estado, mas não penso em voltar à política porque me sinto realizado com a advocacia.
Folha – Para quem foi oficial da PM, delegado e chefe de Polícia Civil, como enxergou a política de pacificação das comunidades cariocas, inegável carro chefe dos oito anos de governo Sérgio Cabral (PMDB)? Qual sua herança no governo Luiz Fernando Pezão (PMDB)? Há solução para a Segurança Pública fluminense?
Lins – É muito triste ver esses jovens soldados da PM morrendo dia após dia nas áreas “pacificadas” das UPPs. Isso me lembra o fracasso americano na ocupação do Vietnã, onde os recrutas foram para guerra no lugar das tropas mais bem preparadas. Essa política das UPPs é inviável econômica e operacionalmente. Não há como explicar que a UPP da favela da Rocinha tenha 650 PMs para uma comunidade com menos de 100 mil habitantes, enquanto o 20º BPM dispõe de quase o mesmo efetivo para cobrir os municípios inteiros de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu, com população superior a um milhão de pessoas. Além disso, as delegacias legais que inauguramos foram abandonadas e estão voltando a ser sucateadas. Solução para Segurança passa por mais educação e por uma Polícia respeitada e motivada. Mas como conseguir isso se nem o salário dos policiais é pago em dia?
Folha – Está acompanhando a situação da escalada da violência no Norte Fluminense? Mesmo com proliferação de assaltos e 86 homicídios em Campos, só nos cinco primeiros meses de 2017, recentemente 40 homens foram retirados do 8º BPM para servir ao Grande Rio. O que pensa sobre isso?
Lins – A política de Segurança foi voltada exclusivamente para a capital e se mostrou desastrosa. Estou respondendo esta entrevista e ouvindo rajadas de tiros nos morros de Copacabana, onde moro, o que não existia. As ocupações das UPPs eram anunciadas com larga antecedência, permitindo que os bandidos fugissem para outras áreas. Ou será que alguém achava que os traficantes iriam tirar carteira de trabalho e procurar emprego no dia seguinte? As UPPs somente se sustentavam às custas de muita propaganda e do clima de festa da Copa do Mundo e Olimpíadas. Para piorar, os efetivos eram insuficientes e os Batalhões do interior tiveram que ceder seus policiais para a capital. Me lembro que um dado chamava atenção quando fui chefe de polícia: o 8º BPM era recordista de apreensão de armas e sempre merecia cuidado especial. Depois não acompanhei mais essa estatística, porém é uma irresponsabilidade diminuir o efetivo de Campos justamente na hora em que bandidos da capital se mudaram para lá.
Folha – Outro município também atendido pelo 8º BPM e que tem sofrido com assaltos, tanto a residências, quanto a carros em estradas, é São Francisco de Itabapoana, vítima também da falta de fiscalização de sua fronteira com o Espírito Santo. Com os dois Estados vizinhos em graves dificuldades financeiras, qual o caminho?
Lins – O caminho está na integração dos órgãos de segurança e no compartilhamento de informações, inclusive com as Guardas Municipais. Uma quadrilha rouba carros, cargas e trafica drogas dos dois lados da divisa e as Polícias não dividem o conhecimento entre si. Lembre-se que o orçamento da Segurança em nosso Estado saltou de R$ 2 bilhões para quase R$ 9 bilhões nestes últimos anos e os resultados são cada vez piores, pois o dinheiro é mal investido. O governo federal, por sua vez, não fornece ajuda efetiva e se descuida das fronteiras, portos, aeroportos e estradas por onde passam toda a maconha, cocaína e armas que chegam ao Rio.
Folha – Na enciclopédia virtual Wikipédia, a última informação em seu perfil é que, no popular filme “Tropa de Elite 2” (2010), de José Padilha, o personagem do “secretário de Segurança do RJ, depois eleito deputado federal, é apontado por muitos como sendo inspirado no ex-chefe de polícia e ex-deputado estadual, Álvaro Lins”. Como vê tal referência?
Lins – Deve ter sido escrito por algum idiota, pois nunca fui secretário e muito menos deputado federal. Se você me conhecer de verdade verá que, comparado a tudo que fizemos, o capitão Nascimento é um simples escoteiro.

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