Guilherme Belido
11/03/2017 23:55 - Atualizado em 11/03/2017 23:54
Uma avaliação dos últimos 2-3 anos, particularmente da Operação Lava Jato para cá, revela que entre condenados, réus, investigados e citados, uma corja de ladrões – a escória do que há de pior na política – uniu-se a outro bando, formado por ocupantes de altos cargo de estatais e autarquias, bem como de empresários corruptos, para assaltar o Brasil no maior escândalo de desvio de dinheiro público da história.
Mas... diria o leitor: – Qual a novidade? Afinal, disso se tem notícia toda semana. É verdade – responderia. Contudo, indago se exatamente por ter virado notícia comum do dia-a-dia, tamanho esquema de propina não estaria indo para a vala rasa da banalização, onde a sociedade, aos poucos, vai se acostumando aos escândalos?
E logo penso que não. Felizmente não. No fim, o País dará à sociedade resposta à altura do caos porque tem passado e do sacrifício que a recessão vem impondo ao povo.
"Há uma relação promíscua entre o poder público e o setor privado" (Gilmar Mendes)
Não passará em branco o dano que a quadrilha travestida de ex e atuais deputados, senadores, ministros, executivos e outros figurões de diferentes setores (numa lista interminável que pode ser engordada por um ex-presidente da da República) causou à população brasileira, notadamente a sua gente mais sofrida.
O Brasil tem pressa
Mas, é bom que se diga, a resposta precisa ser rápida... precisa ser este ano. Se não a todas as perguntas, a uma grande parte delas. Isso porque o País não tem como encontrar o caminho da prosperidade, do crescimento e da qualidade de vida sem sair das vielas da corrupção, banindo da vida pública as figuras que jogaram o Brasil no atoleiro e o povo na miséria.
Se com ou sem prisões, importa pouco. O que conta é trazer de volta o que for possível do dinheiro roubado e o tanto que o esquema de propina adquiriu de bens, varrendo da política brasileira os criminosos de colarinho branco.
Se há sinais de que a recessão pode ser freada e que o Brasil, com seu enorme potencial, vença o desemprego e a estagnação econômica, há sinais, também, que após o longo período de montagem do quebra-cabeças do Petrolão e de um impeachment presidencial, 2017 afigura-se como o ano apropriado para que a Força Tarefa da Lava Jato conclua as investigações, denuncie quem tiver que ser denunciado e a Justiça julgue e ponha um fim na carreira de delitos dos que forem culpados.
As falas de Gilmar e Celso de Mello
Durante a semana, as declarações de dois ministros deram o tom de como a Corte Suprema vê o momento brasileiro frente à corrupção descortinada. Para Gilmar Mendes, o País vive “quadro de descalabro tão grande que não é necessário conteúdo de delação para saber que há uma relação promíscua entre o poder público e o setor privado”.
Já Celso de Mello falou em “profana aliança” de políticos e empreiteiros: “A Operação Lava Jato revela a ação de um imoral sodalício com o objetivo ilícito de cometer uma pluralidade de delitos...”.
O ministro-decano do STF destacou, ainda, que as descobertas da Lava Jato “compõem um vasto e ousado painel revelador do assalto e da tentativa de captura do Estado e de suas instituições por uma organização criminosa, identificável, em ambos os contextos, por elementos que são comuns tanto ao Petrolão quanto ao Mensalão”.
O grande assalto ao Rio de Janeiro
Sendo o desfecho da Lava Jato pré-condição para que o Brasil estabeleça as condições de retomada do crescimento, no Rio de Janeiro – um dos estados mais afetados e o mais saqueado pelo esquema generalizado de corrupção – a normalidade político-jurídica é sobremaneira aguardada.
Na referência feita a políticos que utilizaram os cargos para favorecimento ilegal, não por acaso faltou o de governador. A omissão justifica-se face ao ex-governador Sérgio Cabral “merecer” citação em separado, posto que pelo arsenal de acusações, é o verdadeiro czar da corrupção.
Réu em 6 processos da Lava Jato, o ex-governador do Rio responde por cerca de 300 crimes de lavagem de dinheiro – além de corrupção passiva, evasão de divisas e outros.
O custo para o Rio
Dizer do quanto o Rio de Janeiro – ex-capital da República e cartão postal do Brasil – vem sendo penalizado face o devastador assalto de que foi vítima, é chover no molhado. Contudo, o que acontece na rede hospitalar resume a falência nos serviços públicos essenciais do estado: falta tudo.
Entre dezenas de hospitais abandonados e sucateados, o Carlos Chagas, em Marechal Hermes, ilustra o quadro. Não tem luva, analgésico, antibiótico, gaze, soro fisiológico, fralda e todo tipo de medicamento. Não tem nem ventilação.
Quase todos os aparelhos de ar-refrigerado estão quebrados, inclusive da unidade pós-operatória e da enfermaria, que estão parando de funcionar. Os parentes dos pacientes fazem faxina e até o desinfetante levam de casa.
Cabral fala de genocídio — No dia 03 de janeiro de 2007, 72 horas depois de tomar posse como governador, Sérgio Cabral visitou o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, Zona Oeste, e fez o seguinte comentário: “Estou chocado! O que o estado faz aqui é assassinato... um genocídio. Os hospitais do Rio são uma roleta-russa”.