Jhonattan Reis e Daniela Abreu
16/02/2017 10:26 - Atualizado em 17/02/2017 17:35
Um aluno de doutorado foi mantido refém e deixado amarrado a uma árvore, na madrugada desta quinta-feira durante um arrombamento no Centro de Ciências Tecnológicas Agropecuárias (CCTA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), em Guarus, Campos. Também foram roubados diversos equipamentos, somando um prejuízo de cerca de R$ 50 mil. Os bandidos não pouparam nem mesmo as ovelhas utilizadas para pesquisas e levaram os animais. O CCTA funciona na área da Escola Técnica Agrícola Estadual Antônio Sarlo, no Parque Aldeia. Um trator da unidade foi usado pelos ladrões para levar os materiais e depois abandonado próximo a Furnas.
Os problemas com a segurança se tornaram alvo de reclamações de profissionais da Uenf desde novembro de 2016. Uma parceria com a Guarda Civil Municipal e com a Polícia Militar chegou a ser feita no ano passado, mas não foi renovada para 2017. Com uma dívida milionária, o campus também sofre com o abandono e falta de manutenção. A volta às aulas foi adiado para o próximo dia 3 de março, mas ainda não há uma definição se estará tudo pronto para o retorno dos estudantes.
De acordo com um professor e pesquisador, que preferiu não se identificar, foram levados do setor de Forragicultura e Nutrição de Ruminantes, computadores, balanças e aparelhos de ar condicionado, entre outros utensílios. Os criminosos colocaram os equipamentos no trator, que estava em uma garagem, e seguiram de uma unidade para a outra em busca de mais materiais. Ainda segundo o professor, os autores da ação seriam três homens encapuzados e um adolescente.
Quando o bando invadiu outra unidade do CCTA, por volta de 1h, teria encontrado um aluno de doutorado, de aproximadamente 25 anos, dormindo no local. Ele teria sido amarrado a uma árvore e ameaçado de morte pelos bandidos. Após saquearem o setor em que o estudante estava, de onde foram roubados três ovelhas, roçadeiras, um botijão de gás e aparelhos de ar condicionado, os criminosos saíram do local, deixando o aluno amarrado. Ele foi encontrado por funcionários do CCTA por volta das 5h30. Nenhum suspeito foi encontrado até o fechamento desta edição.
— Trabalho aqui há pelo menos 20 anos e nunca vi um caso como este na unidade. Já houve portas depredadas e animais de pesquisa mortos, mas nunca um arrombamento desse tipo, ainda mais com aluno refém. É uma área muito perigosa — disse o professor e pesquisador.
Chefe de gabinete da reitoria, Raul Palacios destacou que as pesquisas sofrem com atrasos por conta da falta de segurança. “Uma fruta ou um animal que é roubado atrasa todo o desenvolvimento de uma pesquisa, que tem que voltar ao zero. Desta vez, o caso foi mais grave, pois um estudante teve sua vida em risco”, afirmou.
A presidente da Associação dos Docentes da Uenf e professora do curso de medicina veterinária, Maria Angelica Pereira, ressaltou a falta de segurança no local. “A sede está sem segurança e isso impede o trabalho. É um local de experimentos e trabalhos de pós-graduação e muitos alunos e funcionários acabam ficando até mais tarde, colocando a vida em risco”.
Em nota, a Uenf ressaltou que a área utilizada pela universidade no Colégio Agrícola está sem contar com serviço de segurança desde novembro de 2016 e que o local foi alvo de vandalismo e diversos roubos. “A empresa que fazia o serviço de segurança suspendeu os trabalhos em novembro de 2016 devido à falta de pagamento pelo Governo do Estado”, apontou.
Na última terça-feira, a Folha da Manhã mostrou que a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro), onde funciona a estação meteorológica da Uenf, retomou as atividades. No entanto, sem segurança, que seria responsabilidade da universidade, a vigilância têm sido feita por câmeras de segurança custeadas pelo diretor da instituição, José Carlos Mendonça. No início de novembro do ano passado, a Folha também mostrou que o local já havia sido alvo de assaltantes por três vezes.
Além de episódios de vandalismo com equipamentos e veículos, no início de fevereiro o jornalista Esdras Pereira mostrou em seu blog, hospedado na Folha 1, um vídeo que homens com facões em punho andavam livremente no campus da Uenf.
Todas as unidades estão sem segurança
O reitor da Uenf, Luís Passoni, afirmou que todas as unidades ligadas à universidade estão sem segurança desde novembro de 2016, quando a empresa que prestava o serviço ficou sem pagamento devido à falta de repasse do Estado. Além do campus principal, da estação meteorológica e do CCTA, a instituição é responsável por unidades de pesquisa no Solar do Colégio, em Tocos, Macaé e Itaocara.
Segundo Passoni, até o final do ano passado, um acordo com a Prefeitura de Campos garantiu a segurança com a Guarda Civil Municipal para terminar o ano. Em nota, a Secti informou que já solicitou novamente apoio da Guarda e que aguarda resposta do governo municipal. No entanto, o comandante da corporação, Wyllian Boukaul, disse que não recebeu até o momento solicitação direta da secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, no entanto, prometeu analisar a questão assim que for noticiado oficialmente, levando em conta a disponibilidade do efetivo existente.
A Polícia Militar também auxiliava a segurança na universidade por meio do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). No entanto, o serviço voluntário foi suspenso desde que o Estado parou de pagar aos policiais.
Estado admite dívida de R$ 66,2 milhões
Em nota, a secretaria de Estado de Fazenda admitiu possuir uma dívida com a Uenf orçada em R$ 66,2 milhões apenas em 2016. De acordo com a secretaria, apenas R$ 120,2 milhões dos R$ 186,4 milhões previstos no orçamento da universidade até novembro de 2016. Do total dos repasses, R$ 17,5 milhões foram relativos à custeio e R$ 102,7 milhões para o pagamento de pessoal.
Segundo Passoni, o valor foi relativo aos salários e benefícios garantidos à alunos cotistas e bolsistas. Ele disse ainda que eu há uma dívida em torno de R$ 30 milhões sobre materiais, serviços de apoio e manutenção estrutural.
— O nosso orçamento é basicamente salário e esse custeio inclui auxílio-cotas, auxílio-permanência do bolsista cotista e auxílios em folha, tipo auxílio-alimentação, auxílio-transporte. Da verba para terceirizados, conta de água, de luz, para conserto de prédio, compra de papel, tinta e caneta, não veio nada — explicou o reitor.
Com isso, o campus projetado por Oscar Niemeyer, vem sofrendo com o abandono. A vegetação alta e a falta de seguranças na portaria são apenas alguns dos problemas do local.
Sede da Uenf em Guarus é arrombada e tem material equivalente a 50 mil reais roubado
Sede da Uenf em Guarus é arrombada e tem material equivalente a 50 mil reais roubado
Sede da Uenf em Guarus é arrombada e tem material equivalente a 50 mil reais roubado
Sede da Uenf em Guarus é roubada durante a madrugada