Daniela Abreu
05/02/2017 11:20 - Atualizado em 06/02/2017 13:02
O ano de 2017 começou, em Campos, mantendo a escalada de violência que bateu recorde de homicídios em 2016. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) o número de crimes contra a vida ultrapassou em 65% a marca de 2015 e a quantidade de tentativas, ultrapassou em 44,9% a média do mesmo ano. Desde que o órgão começou a contagem, em 2002, esse foi o ano mais violento com 272 homicídios registrados. Em janeiro de 2017, segundo o 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), foram 20 homicídios registrados, seguindo a média do ano passado de 22 homicídios por mês. Em meio ao alto índice de mortes violentas, a greve da Polícia Civil reflete a instabilidade das forças de segurança, frente à crise econômica do Estado, e aumenta a sensação de insegurança. O comandante do 8º BPM, tenente-coronel Fabiano Souza, atribui o alto índice de homicídios à guerra do tráfico na disputa de território e diz que continua a contar com a ajuda de todos, através do disque-denúncia. Já o delegado titular da 134ª Delegacia de Polícia (DP), Geraldo Rangel, tranquiliza a população e afirma que, mesmo em paralisação, a Polícia Civil não para quando o assunto é crime contra a vida.
Segundo dados do ISP, em 2016 foram 272 homicídios registrados em Campos, sendo 120 deles na área da 134ª DP (margem direita do rio), um acréscimo de 57,9% em relação ao ano anterior, e 152 na área da 146ª DP de Guarus (margem esquerda), 65,2% a mais que em 2015. Historicamente, a análise mostra que a concentração de homicídios está na área de Guarus. Nos meses de janeiro de 2014, 2015 e 2016 foram registrados 11, 13 e 14 casos no subdistrito, respectivamente, enquanto na área da 134ª DP, foram 7, 9 e 10 homicídios registrados. De acordo com informações do 8º BPM, em janeiro deste ano foram 20 registros de morte violenta, sendo 11 na área da 134ª DP e 9 na margem esquerda.
Questionado sobre o aumento nos índices de homicídio, o comandante do 8º BPM lembrou que assumiu o Batalhão em novembro e que, por isso, não tem como responder pelo aumento dos índices, mas salientou: “De novembro para cá, os índices, em comparação com os meses anteriores em 2016, sofreram uma queda no homicídio e no roubo a transeunte. O que eu procuro é continuar com o policiamento voltado para a mancha criminal”. Fabiano disse ainda que, além do apoio da população, conta com o sentimento de pertencimento dos policiais, que na maioria são do município, para vencer as dificuldades diante da crise financeira do Estado que também atingem a instituição.
À frente da 134ª DP há mais de três anos, o delegado Geraldo Rangel lembra que não há como coibir o crime de homicídio e que cabe a Polícia Civil investigar para encaminhar inquéritos à Justiça. “O índice de elucidação de homicídio da 134ª DP é muito alto. É só olhar as investigações que são feitas. Nós conseguimos elucidar o latrocínio do funcionário da prefeitura, o homicídio do Parque Aurora, a situação da esposa que está sendo acusada de matar o marido, o duplo homicídio do hospital de Goitacazes. Enfim, são vários casos em que a 134ª consegue fazer com que o inquérito seja enviado à justiça”, disse. Como forma de trazer um pouco mais de segurança frente à greve da Polícia Civil, o delegado ressaltou que “a polícia não para, principalmente em situações como essa de crimes que envolvem violência. Não há greve, não há paralisação”.
Luciane Soares da Silva, coordenadora do Núcleo de Estudos da Exclusão da Violência (Neev) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), destaca a falta de investimento nas polícias civil e militar ao longo dos anos frente ao crescimento da população como fatores que podem futuramente refletir na perda de controle do próprio Estado na região. “Nos últimos governos, desde o Cabral, houve um investimento muito grande em policiamento na capital e na baixada, em detrimento das cidades do interior. É perceptível a sensação de que a criminalidade aumenta, até porque tem um aumento demográfico, com mais gente vindo morar no interior em função do Açu e das universidades. Se não tem nenhum tipo de investimento pesado na segurança pública, a equação não fecha”, disse a doutora em sociologia.
Bruno Dauaire pede delegacia especializada
O crescimento nos índices de homicídio não foi observado somente em Campos, mas em todo o Estado. De acordo com o ISP, em 2016 foram registradas 5.033 vítimas em todo o Estado do Rio, um aumento de 833 mortes com relação a 2015. Um índice de 29,9 vítimas por 100 mil habitantes. O crescimento de crimes contra a vida na área de cobertura do 8º BPM deu origem ao pedido do deputado Bruno Dauaire, para a instalação de uma Delegacia de Homicídios em Campos. A emenda ao orçamento do Governo do Estado foi aprovada no final do ano passado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Dados levantados pelo gabinete do deputado revelam um índice de 54,21 homicídios para cada 100 mil habitantes na região da 8ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp), que engloba os municípios de Campos, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra.
— Conseguimos aprovar a emenda, que foi um passo importante, e está entre as prioridades que tenho este ano cobrar do governo que faça a sua parte — afirmou Bruno.