Caio Vianna: 'Wladimir pode ter votação histórica no primeiro turno'
Edmundo Siqueira, Cláudio Nogueira e Mário Sérgio Junior 13/04/2024 07:51 - Atualizado em 13/04/2024 07:53
Caio Vianna no Folha no Ar
Caio Vianna no Folha no Ar / Genilson Pessanha
“Ele não só pode ganhar no primeiro turno, como eu acredito que ele pode fazer uma votação histórica, talvez sendo o prefeito mais votado da história de Campos”. Assim declarou o ex-deputado federal Caio Vianna (MDB) ao participar do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, nessa sexta-feira (12). Caio recentemente declarou o prefeito Wladimir Garotinho, contrariando as orientações do seu antigo partido, o PSD, que é liderado no Estado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes. Durante a entrevista, Caio falou sobre a pré-candidatura de Wladimir e como ele tem contribuído nesse projeto político, dizendo que está á disposição do prefeito de Campos. Ao fazer uma análise da atual gestão, Caio ponderou que teve avanços, mas apontou o transporte e o crescimento da população em situação de rua como desafios a ser enfrentados. A reaproximação dos pais deles dois também foi abordada. Caio deixou a Câmara Federal, onde atuava como suplente, recentemente após Eduardo Paes exonerar Marcelo Calero da secretaria de Cultura, como um forma de retaliação contra a decisão de Caio apoiar Wladimir. Para Caio, tal atitude também foi contra Campos.
Reaproximação dos Vianna e os Garotinho — Eu já tinha conversado algumas vezes com o governador Garotinho e sempre tivemos uma conversa muito respeitosa, muito amigável. O Garotinho sempre conversou comigo de forma muito respeitosa e eu também com ele. Infelizmente, quando a gente conversou por diversas vezes, não havia o ambiente adequado para construir esse momento, mas isso foi importante para que a gente chegasse até aqui. Porque se não houvesse aqueles primeiros passos lá atrás, a gente não chegaria a esse ponto. E, obviamente, depois no período eleitoral de 2020, eu e Wladimir fizemos a eleição mais disputada da história de Campos desde a redemocratização no segundo turno. Portanto, é natural que o embate fique mais acalorado, fique um embate um pouco com a temperatura mais alta do que o normal. E isso passa. E eu acho que uma coisa que é importante é que tudo isso só foi possível pela forma como as coisas foram construídas. Quando Wladimir ganha a eleição, uma eleição extremamente disputada, cidade dividida. Qual era o natural do que a gente vê na política? Continuar um confronto pós-eleição. Esse é o natural que a gente vê na política, não o que eu acho natural. Wladimir ainda não tinha sido empossado. Me liga no final do ano de 2020, início para meado de dezembro. “Caio, tudo bem? Precisamos falar, tô precisando de uma ajuda tua e tal, com relação a umas questões que eu tô vivendo aqui, delicadas e tal”. Falei: “tudo bem, prefeito. Pode passar aqui no meu escritório”. Eu tava no escritório. “Pode passar aqui no escritório que a gente conversa”. Quando ele chegou, muito me assustou a imagem, a fisionomia. Até brinquei com ele no dia. Falei: “cara, parece que eu ganhei a eleição e você perdeu. O que tá acontecendo?”. E ele: “cara, está acontecendo que todo mundo sabe, você sabe qual é a situação real da cidade. A situação real da cidade é difícil, é delicada, a cidade está com pagamentos atrasados, a cidade está com vários contratos suspensos, a cidade está num momento delicado economicamente e administrativamente”. E eu tinha um tipo de compromisso, de acordo, com o Rodrigo que foi feito durante o segundo turno, porque, vamos deixar claro, Rodrigo Bacellar apoiou Wladimir Garotinho no segundo turno. Você tem vários tipos de apoio, você não precisa levantar a mão do cara para dizer que você está apoiando ele. Mas todos os vereadores da base que foram eleitos com o Rodrigo foram para lá. Então, o Wladimir chega lá no meu escritório, desesperado com essa situação toda da cidade, que eu conhecia, e ele disse que o Rodrigo tinha mudado tudo o que tinha falado com ele. E aí o que aconteceu é que eles estavam indo para uma guerra na Câmara. E ele estava desesperado porque essa guerra na Câmara só poderia ter um desfecho que seria negativo, que seria fazendo a Mesa Diretora, usar a Mesa Diretora para travar o governo Wladimir. E aí eu virei para ele e falei assim: “Wladimir, deixa eu te falar uma coisa, a gente não se fala politicamente há algum tempo, mas a partir de hoje você vai conhecer um pouco mais da minha personalidade e de como eu atuo politicamente”. Porque eu não concordo com essa atuação política, eu não acho que a atuação política deve ser para prejudicar ninguém. Então, naquele momento, eu fiz esse primeiro grande gesto ali e ele (Wladimir) virou na hora até para mim e falou assim: “Ô campeão, e você quer participar do governo? Quer vir pra cá me ajudar?”. Foi muito bacana até da parte dele, mas eu falei, não Wladimir, nesse momento não. E assim foi feito. Participei da eleição de deputado federal, fiz minha eleição propositiva, apresentando o que eu queria desenvolver como deputado federal e sem também qualquer desavença com a administração municipal. Então, isso tudo criou um ambiente propício para o diálogo. E um belo dia, Wladimir falou que estava indo a Brasília e perguntou se a gente podia tomar um café, eu falei claro, até porque tanto eu já tinha me disponibilizado o gabinete a ajudar a Prefeitura de Campos, como ele também já tinha se disponibilizado, e acabou acontecendo esse encontro. E nesse encontro a gente conversou muito, eu falei para ele da importância de a gente estar dialogando e avançando nessa direção para que eu conseguisse mandar recurso para cidade. O Wladimir frequentava a minha casa e eu frequentava a casa dele. Então, a gente cresceu junto. Essas coisas ficam. Então, a relação minha com o Wladimir foi uma coisa extremamente natural.

Legado dos pais — Quem não tem algum caso em família ou entre amigos que em algum momento houve uma separação, uma discórdia, uma briga e depois houve uma reunificação? O Garotinho não teve como falar isso porque o episódio aconteceu depois. Ele sai daqui e vai para o café do século que a gente tomou junto lá com o meu pai, com a minha mãe, com a Edilene, enfim. Mas eu poucas vezes vi meu pai se emocionar na política. Desde que ele saiu da prefeitura, é um processo muito duro. As pessoas acham que a vida pública é simples, mas ela é muito desgastante, você se abdica de muitas coisas. E meu pai sofreu muitas coisas. E eu não via mais meu pai, a não ser nas minhas campanhas, principalmente a última de prefeito, que ele se emocionava nos discursos e tal, mas eu não via, em articulação política, ele ter mais tesão mesmo, a palavra certa é essa, vontade. E quando eu falei com ele como isso estava se dando e o que ele achava, ele de pronto falou: “Vambora. Eu não tenho dificuldade nenhuma. Eu comecei a minha história política com o Garotinho”. E aquilo, a primeiro momento, eu senti ele muito disposto. Mas depois eu fui avaliando, e vendo ele e Garotinho conversando e contando histórias incríveis do passado, de realizações que eles fizeram juntos, da importância que aquilo foi para a cidade, para o Estado como um todo, eu vi meu pai se emocionando e, de certa forma, colocando para fora talvez algo que ele já gostaria de ter feito há muito tempo e não tinha encontrado a forma. E eu vi o mesmo do Garotinho. Eu acho que eu e Wladimir, a gente tem que estar extremamente feliz porque nós tivemos a maturidade e a capacidade de proporcionar isso aos nossos pais, às nossas famílias.

Relação com Paes e Bacellar — Quando ficou claro publicamente o que eu já vinha sofrendo há alguns meses uma investida do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, colocando uma questão de que eu teria que ser candidato, e ele numa composição com o Eduardo Paes, que eu compreendo, entendo, o Eduardo tem que pensar na cidade do Rio mesmo, ele é prefeito do Rio, agora eu preciso pensar em Campos. Quando ficou claro publicamente, houve a declaração de que ou eu seria candidato, ou eu apoiaria alguém do Rodrigo, ou eu perderia o partido e o mandato. E eu tive uma posição extremamente firme e, como eu sempre fiz, eu não volto atrás de palavra que eu dou, por mais difícil que seja. Eu poderia, naquele momento, falar: “não, eu vou pensar em mim, não vou perder isso”. Eu não. Olha, eu já dei a palavra ao Wladimir. O Wladimir está fazendo uma boa gestão. Não vejo motivo necessário para a gente discutir um projeto de política para a cidade alternativo nesse momento, porque eu acho que, para você discutir, você tem que estar insatisfeito. Eu estou na minha cidade toda semana. E, ao andar pela cidade, eu estou vendo avanços que a administração Wladimir proporcionou. Portanto, eu segui com a minha palavra, que o prefeito e presidente estadual do partido Eduardo Paes já sabia que eu tinha dado. Que, inclusive, participou disso também. Quando eu disse ao Rodrigo Bacellar que eu ia apoiar a candidatura dele na eleição passada, eu disse isso antes dele ter enfrentado alguns problemas. Quando ele enfrentou os problemas, eu estava lá do lado dele, apoiando ele, desfilando com ele pelas ruas. Não só eu, meu pai de 75 anos também estava. Então, nós fizemos o nosso papel. Nós cumprimos a nossa palavra e nós colocamos a nossa cidade em primeiro lugar. Fico triste? Claro que fico, quem não ficaria? Triste de você perder o mandato, não por qualquer erro da tua parte, mas por desejos de outros políticos? Claro que você fica. Mas, mais triste do que eu perder o meu mandato, que eu não tenho apego a cargo, eu fico triste pela minha cidade, porque eu era o único representante e estava trazendo resultado para a cidade. Então, assim, na verdade, o que fizeram, não fizeram contra mim, fizeram contra Campos.

Governo Wladimir e desafios — Wladimir atacou problemas importantes, que colocou como prioridade nesse primeiro governo. Mas a gente sabe que não dá para resolver tudo num único governo. Campos é uma cidade complexa, a maior cidade de extensão territorial do estado do Rio de Janeiro. Veio de um momento muito ruim, de uma administração desastrosa do Rafael Diniz. Você precisa, obviamente, de tempo para ir recuperando essas coisas. E ele conseguiu fazer isso muito bem em várias áreas. Mas tem áreas que ainda precisam ser solucionadas. É evidente que todo mundo sabe que o transporte público ainda é um problema. Só que é um problema, mas também um grande desafio. E que não é simples ser solucionado de uma forma rápida, e a gente está vendo esse problema, na verdade, no mundo inteiro. Você quer ver outra coisa que é importante ser resolvida, que tem crescido? Tem crescido muito número de moradores de rua, dependentes químicos, E isso é um outro problema complexo, mas que é preciso ser abordado, criar uma estratégia, uma proposta de fato, onde você dê a essa pessoa a qualidade de vida de se requalificar e se ressocializar de novo com a sociedade.

Pré-candidatura de Wladimir — Com relação à projeção de eleição, eu diria que o mais importante é que o Wladimir não está de salto alto. O Wladimir é um cara muito pé no chão, muito trabalhador. Ele está vendo a necessidade de cada vez mais aglutinar. Se ele estivesse achando que ele estava com tudo resolvido, por que ele ia fazer esforço que ele tem feito de composições? Ele teve 121 mil votos, eu tive 110. Nós estamos unidos. O Bruno Calil, que foi uma outra revelação da eleição, teve 32 mil votos. Também está dentro do mesmo projeto político. Admito que tem a maioria na Câmara. Ou seja, ele tem feito todo o esforço administrativo para que a população reconheça a boa gestão. Ele também tem feito os esforços políticos necessários para que ele garanta uma eleição viável para o projeto político dele. É óbvio que nós temos ainda seis meses para a eleição. Nós temos três meses para as convenções partidárias. A gente sabe que muita articulação vai ser feita nesse período. Ele está atento a essas movimentações, mas ele também está focado no que ele precisa estar como prioridade, que é governar a cidade, porque ele pode ser pré-candidato à reeleição, mas ele continua sendo prefeito. É mais fácil para os outros, que não são nada, ficarem com o tempo livre só atacando ele. Eu acho que o Wladimir está muito consciente do momento. Sabe que é um momento onde ele conseguiu aglutinar forças, mas que as decisões que ele vai tomar daqui para frente, até o período eleitoral, vão ditar se ele vai ter uma eleição mais fácil, mais difícil, se ele pode correr para uma votação histórica, que eu acho que ele tem condição. Wladimir tem condição de ter uma votação histórica nessa eleição. Essa é a minha análise, não é a do Wladimir. Eu acredito que se ele, até o processo eleitoral iniciar, conseguir organizar algumas questões políticas, ele não só pode ganhar no primeiro turno, como eu acredito que ele pode fazer uma votação histórica no primeiro turno, talvez sendo o prefeito mais votado da história de Campos.

Projeção de vereadores da base — Maioria absoluta, sem sombra de dúvida. É difícil dizer isso hoje, mas eu diria que algo em torno de 20, possivelmente 21 cadeiras. As chapas da oposição ficaram muito fracas. Você tem que entender por que você é candidato em primeiro lugar. Se o sujeito tem um desejo de ajudar a cidade, se tem projeto, ou se o sujeito só quer curtir a onda de ser candidato. E as pessoas que eu estou vendo nas chapas que foram construídas no grupo do prefeito Wladimir Garotinho, são pessoas que já estão trabalhando diariamente para ajudar a população. E, do outro lado, me parece que são pessoas que chegaram por última hora.

Possibilidade de ser vice — Quando você está conhecendo a mulher da sua vida, você não pede casamento direto. Você namora, né? Você começa a ficar, depois namora, depois vai evoluindo para um relacionamento mais sério, até que chega o passo de pedir a mão dela em casamento. E a minha relação com Wladimir tem sido construída dessa forma. Se você perguntar: Caio, tem secretaria definida que vocês vão trabalhar? Não! Porque não é uma troca, não foi um toma lá, dá cá, como as pessoas normalmente veem na política. Foi uma decisão de vida, foi uma decisão pelo que a gente acredita que a gente pode construir junto pela cidade. Então isso vai ser construído ao longo do tempo. Obviamente eu estou à disposição, e isso não está escondido para ninguém, eu estou à disposição do prefeito Wladimir Garotinho para ele, no bom sentido da palavra, me usar como ele achar melhor dentro desse projeto que a gente está construindo. Agora, o Frederico é um cara extraordinário. Tenho um carinho por ele também muito grande, tenho amizade. Um cara capacitado, preparado, que está ajudando o prefeito, que foi leal ao prefeito. E ele tem uma qualidade também de conseguir conversar com todos os grupos políticos. Então, assim, o Frederico tem várias qualidades, e eu acho que essa coisa não é uma decisão que seja necessária ser tomada agora.

Partido — A situação mudou um pouco porque, enfim, meu entendimento, junto com o nosso grupo político, é que com a forma como a direção estadual do partido tocou toda essa questão aqui nesse último mês, de uma forma muito truculenta, desrespeitosa. E que salve, eu sou apaixonado pelo PSD. Fiz grandes amigos em Brasília. O líder do partido na Câmara dos Deputados, Antônio Brito, é meu amigo pessoal. Então, assim, eu gosto muito do partido, gosto muito de Gilberto Kassab, de todos os amigos que eu fiz lá, mas o passo que a direção estadual tomou me levou a entender que nosso tempo ali com essa direção estadual, pelo menos por hora, estava esgotado. E eu me desfilei do PSD e me filiei ao MDB, dentro do prazo legal que a lei permite. Não tenho intenção nenhuma de ser presidente do MDB, o Silvinho cumpre esse papel com maestria, conseguiu montar uma chapa de vereadores muito competitiva, eu consegui ajudá-lo também, consegui levar alguns nomes, mas cheguei mais no final ali para ajudar, mas ele montou uma chapa extraordinária, que as minhas projeções são de pelo menos três vereadores.

Ao Livro Verde — A gente precisa resgatar o Livro Verde. É a primeira livraria do Brasil, um patrimônio histórico da nossa cidade. E você tem caminhos de fazer isso, trazendo, inclusive, para um ambiente que vai ser mais moderno, mais frequentado, onde você tem um café junto com a parte da livraria, onde você traga parte do acervo municipal para trazer esse acesso, para a população ter esse acesso, para ali, um ambiente onde as pessoas podem frequentar.

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