
Mas, no fim, prevaleceram os interesses comerciais de oferecer ao público um divertimento que se resume em valer-se de artistas e de roteiro. O cinema, assim, reduz-se ao teatro e à literatura. Se existe algum uso artístico da fotografia em movimento (da fotografia estática, pode existir com mais frequência), ele é quase despercebido. Se é frequente, o filme acaba não agradando.
Assim, o cinema se traduziu num entretenimento em que a literatura (roteiro) e atuação (teatro) não precisam e não devem ser complexos. Entende-se perfeitamente a exigência da maioria que frequenta cinemas ou vai para a televisão em busca de filmes palatáveis. E não é só apenas o grande público, mas também o crítico de cinema, que também acaba comentando o roteiro e a atuação.
Depois de ganhar o Osella de Ouro de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles, pareceu ser um filme convencional que aborda um tema polêmico nos dias de hoje: a trajetória do engenheiro Rubem Paiva depois de voltar ao Brasil, já tendo sido cassado como deputado federal pelo regime militar instalado em 1964. Polêmico porque o mundo e o Brasil estão polarizados entre democratas e autoritários. Os primeiros entendem que o regime militar chegou ao poder por um golpe e se manteve nele por uma ditadura. Os segundos fazem a apologia dele, dizendo que a intenção era estrangular o perigo do comunismo. O argumento talvez se sustentasse na época. Hoje não mais. E o filme mostra uma família comum de classe média. Como a maioria das famílias que frequenta o cinema.
Baseado no livro de Marcelo Rubem Paiva com o mesmo título do filme, “Ainda estou aqui” não se resume ao excelente desempenho do elenco, tendo à frente Fernanda Torres, nem ao roteiro enxuto (não li o livro), merecendo destaque o trabalho da câmara. Na primeira parte do filme, ela se movimenta de maneira frenética, com closes dinâmicos, com aproximações e afastamentos, com luz e penumbra. Não apenas o roteiro fala de um momento de medo e ansiedade. O movimento da câmara reforça a fala e o silêncio.
E, na segunda parte do filme, com o crime quase resolvido, a câmara passa a se movimentar de forma equilibrada, mostrando que os tempos mudaram.
E o que me chamou a atenção, por fim, foi o interesse das pessoas pelo filme. Sei que a propaganda pela televisão ajudou muito. Mesmo assim, eu não esperava uma procura tão grande. Tive dificuldade de conseguir ingresso. Embora não recorrendo a cenas explícitas de tortura, como acontece em outros filmes, a sutileza com que a violência é apresentada atraiu a atenção de muita gente que não viveu nos anos de chumbo. A maioria nem sabe por alto o que aconteceu. Rubem Paiva teve um filho escritor que narrou sua trágica história. Imaginem os muitos que sofreram e apenas são lembrados pela família...
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
BLOGS - MAIS LIDAS
Técnico foi apresentado na semana passada, no dia 25 e não chegou nem a estrear
Joceli da Silva Martins foi uma das figuras do Folclore e do Carnaval campista, atuando como presidente do Boi Nova Aurora
Deputado afirma que disputará pelo grupo a federal ou estadual; diz que não há condições do presidente falar que não é para comprar ovo; e afirma que Bacellar preside a Alerj e governa o Estado ao mesmo tempo
Colisão foi registrada na noite dessa quinta-feira (10); outro acidente foi registrado, desta vez na Baixada Campista, e deixou um idoso de 72 anos gravemente ferido
INMET emitiu um alerta amarelo de perigo em potencial para fortes chuvas em todo o estado do Rio de Janeiro