Cinema - Um filme sensorial
*Edgar Vianna de Andrade 14/02/2024 08:55 - Atualizado em 14/02/2024 08:55
Foto do filme 'O massacre da serra elétrica' (1974)
Foto do filme 'O massacre da serra elétrica' (1974) / Foto: Divulgação
Ao assistir a “O massacre da serra elétrica”, do estreante Tobe Hooper (1974), minha sensação foi de repugnância. Várias cenas são chocantes, mas a que mais me tocou foi a do avô da família de sádicos sugando o sangue do dedo da única sobrevivente do massacre (Marilyn Burns). Sensível a sangue, tive vertigem e ameacei desmaiar. Instintivamente, levamos o dedo à boca quando sofremos um corte. Mas, no caso da família do assassino da serra elétrica (Leatherface), a cena é macabra.
Quentin Tarantino considera “O massacre...”, segundo filme de Hooper, uma das raras obras perfeitas do cinema em “Especulações cinematográficas” (Rio de Janeiro: Intrínseca, 2023). Mas não explica por quê. Voltei a assistir ao filme. Passaram-se 50 anos do seu lançamento e o filme continua assustando. Ele não é um trabalho datado. Claro que a fotografia desbotou. Claro que muitos aspectos parecem ultrapassados. Mas consideremos que Hooper trabalhou com baixo orçamento e concluiu as filmagens em quatro semanas.
Não cabe aqui resumir a história. Quem quiser que assista ao filme. Agora, com mais maturidade, observei detalhes. Não mais tive vertigem na cena do dedo. O que me chamou a atenção foi a capacidade do diretor de transcender o sentido da visão e de tocar os outros sentidos. Ainda no âmbito da visão, as paisagens do filme não são bonitas. Cinco pessoas viajam para o Texas a fim de saber se o túmulo do avô de um foi realmente violado, como informou uma emissora de rádio.
A fotografia de qualidade inferior trabalha muito com o claro-escuro. Lembrei-me de Mário Bava nas cenas em que a câmara mostra um círculo desfocado. Ao ser colocada no foco, trata-se do sol ou da lua. Há outros desfoques-foques assim ao longo do filme. A trilha sonora, recheada de canções countries, ajuda a nos situar no Texas. Todos aqueles caipiras toscos também. O ambiente é árido. Sente-se calor. As conversas giram em torno de abatedouros bárbaros de gado, como a introduzir o espectador no que ele vai ver. Também há sangue, em pequenas doses, antecipando a sanguinolência da segunda metade do filme de apenas 84 minutos. Os cortes na mão e no braço tocam nosso tato. Parece que eles foram feitos em nosso corpo.
Creio que o olfato é o sentido mais trabalhado por Hooper. O cheiro de carne deteriorada sentido pelos cinco passageiros da van é tão forte e tão bem descrito que o espectador também o sente. Ele se torna mais forte para cada uma das cinco pessoas que entram na casa. Carne deteriorada num canto, ossos de face, pernas, braços, mãos espalhados pela casa. Dentes pelo chão. Ganchos de açougue pendurados. Moscas. O quadro é de um açougue interditado pela fiscalização pública, mas muito pior. A sujeira domina o ambiente. Nosso olfato também assiste ao filme e se enoja.
Tudo acontece rapidamente. O maníaco da serra elétrica aparece subitamente e mata o visitante incauto com uma marreta de abater boi ou com o uso de uma serra elétrica. A cena de uma pessoa tremendo a perna antes de morrer é impressionante. Mas não há espíritos transparentes que andam pelas paredes e tetos. Não existem portas para o inferno. Não se trata de um filme de terror. Ele é macabro, mas mostra uma família de açougueiros. Não há a presença do sobrenatural, embora ele tenha influenciado os filmes de terror lançados posteriormente, como “Sexta-Feira 13” e “A hora do pesadelo”.
Tobe Hooper mostra as mortes e o cenário nauseabundo em que eles ocorrem com uma câmara nervosa e caótica até se fixar na última personagem, que consegue escapar. O espectador, então, pode se enojar com os detalhes daquele açougue doméstico. O filme é ímpar. As refilmagens jamais conseguiram superar a obra original.

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