Reflexão: um olhar sobre desigualdade socioeconômica
Alcimar das Chagas Ribeiro 18/01/2024 16:50 - Atualizado em 18/01/2024 16:50
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*Alcimar das Chagas Ribeiro
A reflexão sobre o alargamento da desigualdade socioeconômica, especialmente em países e regiões periféricas, é necessária e precisa ser ampliada. Afinal, o que existe a mais para dizer a respeito desta temática, além do confronto mercado/ estado/governo?
Uma visão complementar poderia surgir das reflexões sobre alguns fundamentos defendidos pelos economista clássicos, neoclássico e keynesianos. Especialmente Adam Smith, economista clássico considerado o pai da economia, via o mercado como uma instituição capaz de viabilizar o crescimento econômico sem exclusão, tendo em vista a natureza do processo ancorada na moral, na ética dos agentes econômicos.
Considerando o recorte em meados do século XVIII, podemos imaginar que a dedicação ao trabalho e a prática religiosa, exerciam papel modelador do padrão moral do homem (caráter) e, consequentemente, orientava o seu comportamento ético. Neste ambiente, a intervenção estatal para corrigir imperfeições no mercado não era necessário, já que o mesmo tinha uma coordenação ética baseada na fé religiosa e na estrutura de moralidade instalada.
Smith centrava sua visão na filosofia da psicologia individual, que defendia princípios como a total liberdade dos agentes econômicos e a presença mínima do estado. A sua consideração era de que o interesse coletivo fica assegurado quando os particulares procuram o beneficio próprio. O fundamento tinha base na escola escocesa do senso moral inato que entendia o comportamento humano como resultante da interação de instintos egoístas e altruísta.
Neste contexto, a maximização da riqueza é função da liberdade individual para empreender e empregar trabalho produtivo, assim como, de novos mercados, divisão do trabalho e da acumulação de capital.
Na trajetória temporal, o processo de modernização tecnológica se instala e, ao mesmo tempo, que estabelece novas condições em benefícios da humanidade, também cria condições de atraso para grupos que não conseguem se inserir. Marx na critica ao capital identifica a formação de um exército de reserva (desempregados), responsável pela fragilização da demanda efetiva e da queda temporal do lucro e do investimento de capital.
A evolução da crise do capitalismo abre espaço para a abordagem neoclássica que busca explicação nas análises microeconômicas, ou seja, na investigação do comportamento econômico dos consumidores e empresas. Neste caso, o sistema moral estaria fora da economia, que passaria a se preocupar com a alocação eficiente dos capital pelas empresas e com a alocação eficiente da renda pelas famílias.
O desenrolar das crises (políticas e econômicas) do inicio do século XX se constitui no elemento motivador para a abordagem de intervenção estatal como crítica ao mercado de natureza imperfeita. Keynes, então, centrou sua análise na abordagem macroeconômica do pleno emprego e nos fatores de crescimento do investimento e seus impactos sobre a renda e o emprego. O fundamento principal é a formação da demanda efetiva, já que a sua deficiência pode gerar crescimento insuficiente para manter o pleno emprego.
Um aspecto importante a considerar é de que a forte presença do estado na economia, em um ambiente de consistente modernização e de elevada dinâmica competitiva, pode ter exercido papel fundamental na mudança comportamental do individuo. A base de formação do caráter do cidadão que orientava o seu comportamento ético, aos poucos, foi cedendo lugar para o interesse individual de acumulação de riqueza, sem a preocupação com o coletivo.
Consequentemente o individualismo, o perverso processo de corrupção, a formação de grupos de interesse, a proximidade da política com o crime organizado e a formação proposital de uma grande massa pobre dependente do sistema, instituíram um novo modelo de sociedade inibidora de estratégias de combate à desigualdade socioeconômica.
Entretanto, parece existir uma luz! A pista é de que alternativas relevantes podem estar baseadas nos princípios da teoria econômica institucional, onde o tratamento para os grupos fragilizados passa pelo trabalho cooperativo, a escala por território, a interação universidade - governo - empresa e a instituição de governança endógena. Evidente que estes elementos carecem de discussões aprofundadas individualmente.
*Economista, professor da Uenf e membro da Academia Campista de Letras

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