Foi aberta no último sábado (6) e segue até o dia 9 de outubro, no Sesc Campos, a exposição fotográfica “Terra Vermelha”, com imagens do artista visual Raul Leal abordando a degradação ambiental no interior do Brasil, inclusive nas regiões Norte e Noroeste fluminenses, como forma de incentivar a reflexão e o debate acerca do tema. Com curadoria de Lucas Albuquerque, a mostra pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 9h às 20h, além de sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h.

Fruto direto da ação humana e da ganância de práticas extrativistas, o ataque sofrido pelo meio ambiente coloca em xeque a existência de locais que já foram representados em inúmeras pinturas, gravuras e desenhos de artistas que por eles passaram. Como maneira de abordar o problema, Raul propõe na exposição uma série de trabalhos fotográficos impressos em papel e chapas de madeira, em que figuram registros da paisagem, de plantas e de mudas de árvores cultivadas pelo artista em áreas degradadas, tanto na zona fluminense como em outros espaços.

— Apresento duas séries de trabalhos que têm como referência imagens da natureza no interior do Brasil. No meu processo, lido com memórias, ausências e apagamentos — comenta Raul Leal.

Na opinião de Raul, a degradação ambiental do Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro, observável a olho nu, é causada pelo manejo indevido dos recursos naturais. Resultando na aceleração de erosões, secas prolongadas, má qualidade do solo e, subsequentemente, na alteração do bioma regional, o que se deflagra é um problema de ordem ecológica, que reconfigura a relação do ser humano com a natureza.

Os trabalhos do artista partem do desejo de evidenciar problemas ambientais como a desertificação, a extinção das espécies e a degradação dos recursos físicos, propondo também um modo de atuar contra o avanço dessas práticas predatórias. A mostra “Terra Vermelha” conta com trabalhos inéditos, frutos da ação direta do artista na região: mudas de árvores virão a ser plantadas com apoio da instituição cultural e serão transformadas, posteriormente, em objetos de arte sob a prática de Raul, sendo exibidas em seguida na exposição. A mostra adquire, assim, uma configuração de ateliê coletivo, onde o público é convidado a ver e participar do desenvolvimento do plantio e da confecção das obras realizadas ao longo dos meses.

— A ideia para essa exposição surge a partir da observação da paisagem do Norte e Noroeste fluminenses e promove um olhar sensível sobre a natureza dessas regiões. Há um histórico de ocupação onde podemos observar processos de degradação do meio ambiente que hoje resultam em sérios problemas. O projeto trata de uma paisagem que foi, durante séculos, uma presença simbólica no processo de formação da identidade nacional — afirma o artista.

Outras atividades estão previstas nas próximas semanas. “Na sexta-feira (19), vai haver um plantio de mudas de árvores nativas, na parte da tarde, com apoio do Sesc. Esse plantio vai gerar novos trabalhos, que vão completar os espaços deixados na montagem da série ‘Rebento’. No sábado (20), teremos uma visita guiada comigo, a partir das 15h, e uma conversa com o professor Inácio Pestana, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que vai falar sobre o rio Paraíba. E no dia 23 de setembro, vou instalar os novos trabalhos e teremos uma conversa sobre reflorestamento”, detalha Raul Leal.

O curador da exposição, Lucas Albuquerque, destaca o fato de o trabalho de Raul mostrar “cenas onde a vida natural ainda se faz presente, lutando pela sua permanência”.

— Estas (cenas) são superpostas por talhos de madeira, criando uma relação direta com a produção do gênero de paisagens na história da arte brasileira feita pelos artistas viajantes ao longo dos séculos XV e XVI no Brasil, que representavam com muito apreço e curiosidade a variedade do nosso bioma. No entanto, diferentemente destas, a imagem apresentada por Raul não apresenta caráter contemplativo ou de análise, mas evidencia o risco de sua devastação — enfatiza Lucas.

O artista — Raul Leal é artista visual formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. É também especialista em gestão cultural pela Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro, e tem residências no Parque Nacional de Itatiaia, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e no Parque Nacional do Caparaó. Realizou diversas exposições individuais e coletivas em galerias e espaços institucionais. Possui trabalhos em instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte de Blumenau, Biblioteca Nacional, Ufes, entre outras. Em sua produção artística, Raul utiliza pintura, desenho, fotografia, instalação e vídeo. (M.B.) (A.N.)