Em 1919-20, Fritz Lang se afasta do expressionismo alemão e se aproxima do cinema de aventura norte-americano ao lançar o primeiro episódio do filme “As aranhas”, intitulado “O lago dourado”. Lang inicia sua carreira de diretor no ano do lançamento deste filme, juntamente com mais dois anteriores: “Halbblut” e “Der Herr der Liebe”. Lang deixa de dirigir “Halbblut” (com estreia em 3 de abril), “Der Herr der Liebe” (com estreia em setembro). Ainda lançaria “Harakiri” no mesmo ano. Ele já contava com alguma experiência como roteirista, mas não como diretor. Originalmente, Lang pretendia fazer um seriado em quatro capítulos, algo que se tornará moda no cinema dos Estados Unidos. Ele deixou a direção de “O gabinete do Dr. Caligari” para roteirizar e dirigir quatro episódios de “As aranhas”, que, no final, se limitaram a dois.

O jovem e rico Kay Hoog (Carl de Vogt) enfrenta a poderosa organização criminosa As aranhas, chefiada por Lio Sha (Ressel Orla), uma perigosa mulher que planeja se apropriar de nada mais nada menos que toda a riqueza do mundo. Principalmente uma joia oriental que conferirá à organização plenos poderes sobre a Ásia. A experiência dá continuidade com sucesso à série “Os vampiros”, de 1915. Aventura, ação, exotismo foram as fórmulas que garantiram o interesse pelo filme em todo o mundo ocidentalizado.

Todo o crime cometido pela organização é assinado com uma aranha artificial deixada no local. Um homem tenta fugir da prisão que lhe impuseram descendentes de incas, mas é morto. Antes, porém, ele consegue lançar uma mensagem numa garrafa, que é encontrada por Hoog. Ele parte para o Peru perseguido pela chefe da quadrilha e seus asseclas. Entre os remanescentes dos incas, reina uma bela princesa representada por Lil Dagover, que estaria em “O gabinete do Dr. Caligari” e em vários filmes de sua época. Com suas ancas largas e seios redondos, ela conquista o coração de Hoog. Depois de uma luta entre nativos e membros da quadrilha, Hoog consegue fugir com a princesa para os Estados Unidos. Lá, ela se torna sua esposa, já se vestindo à moda ocidental e andando sobre salto alto, como se fosse simples abandonar uma cultura e adotar outra.

Mas ela é morta pelas Aranhas, pois sua chefe se apaixonou pelo herói e este disse que seu coração pertencia à princesa inca. Termina a primeira parte. Começa a segunda, com o título de “O navio de diamantes”. Agora, o palco das aventuras é a China. O olhar ocidental sobre o distante país está presente no filme de Lang. Os estereótipos do chinês dissimulado e traiçoeiro, do usuário de ópio em suas lojinhas de variedades, em ambientes escuros.

Hoog descobre toda a trama da quadrilha, que havia sequestrado a filha de um milionário para obter a joia desejada. Hoog vai buscá-la nas ilhas Malvinas, onde se encontra com os bandidos, é aprisionado por eles e consegue fugir. Quanto aos bandidos, incluída sua chefe, vapores venenosos de uma caverna matam todos. O Indiana Jones ou o James Bond dos primórdios do cinema sai a salvo e vitorioso da aventura, na sua luta do bem contra o mal. O gênero “aventura” é mais antigo do que pensamos.