Arthur Soffiati - Ainda estamos longe
* Arthur Soffiati 02/11/2024 09:36 - Atualizado em 02/11/2024 09:36
Mais uma eleição acabou nos meus 78 anos. Quantas mais ainda enfrentarei? Vem agora mais uma pela frente nos Estados Unidos. Houve uma em Moçambique não noticiada pela imprensa. Moçambique também foi colonizado por Portugal, assim como o Brasil. Mas os Estados Unidos interessam mais. Afinal, entende-se que os acontecimentos lá afetam o mundo todo.

Contudo, aqui, podemos falar em novidades? Parece que podemos. O PT ganhou para prefeito apenas numa capital: Fortaleza. Mesmo assim apertado. Ganhou em outras cidades do interior. Cresceu em relação a 2020, mas não muito. Diminuiu em relação à primeira década deste século. O PT parece cansado. Suas propostas não acompanharam as mudanças. A chamada esquerda está incorporando propostas da chamada direita, como empreendedorismo, limitações ao aborto, bênçãos às posições evangélicas conservadoras etc.

Por outro lado, aquele conservadorismo raiz (e também confuso) vencedor em 2018 está se esfacelando entre partidos e mesmo entre aqueles seus representantes que ganharam prefeituras e mandatos de vereador. Em São Paulo, Ricardo Nunes ganhou com apoio do governador Tarcísio de Freitas, que foi candidato de Bolsonaro, e de um leque de partidos do centrão. Até o MDB o apoiou. Começou como partido progressista moderado bem próximo a Lula. No caso de São Paulo, a extrema-direita enfrentou o aventureiro Pablo Marçal.

Não sou especialista em política, nunca serei e não quero ser. Apenas opino como todo brasileiro. Como aquele senhor que puxou assunto comigo na rua, dizendo que todo brasileiro deveria faltar no dia da votação para que os políticos sentissem o descontentamento da população. Perguntei se ele faria isso. Respondeu que não. Que votaria contra o bandido que está governando o Brasil, homem condenado, preso e inocentado pelos bandidos do Supremo Tribunal Federal. O bandido-mor no STF é Alexandre de Moraes.

Ouço as pessoas criticando a política. Ela é exercida por um bando de ladrões. Em resumo, elas endossam o ex-ministro Augusto Heleno, do gabinete de Bolsonaro, ao referir-se ao Centrão: “Se gritar pega ladrão,/não fica um meu irmão.” Depois, Augusto Heleno reconheceu não ser possível governar sem esse centro formado por uma pluralidade de partidos, a maioria desconhecida do povo. Eles não são de esquerda. São conservadores. Mas, de acordo com as conveniências, fazem aliança com a esquerda mais assumida. Como dizia Brizola, o Centrão é como a Arca de Noé sem Noé.

Mas ele, o Centrão, novamente venceu em todo o Brasil. Foi curioso ver candidatos da direita disputando com candidatos da extrema-direita. Foi interessante ver candidatos da extrema-direita vencendo e moderando o discurso. Do outro lado, foi também interessante ver candidatos da esquerda valendo-se de um discurso moderado.

Entendo que a grande questão do nosso tempo em todo o mundo é a ambiental. Homens, mulheres e outros gêneros; brancos, negros e asiáticos; crianças, adultos e idosos; ricos(agora também eles) e pobres; judaístas, hinduístas, jainistas, budistas, cristãos e muçulmanos são animais humanos e precisam de conforto térmico natural, água limpa, ar puro, silêncio, condições ambientais adequadas. Mas esta questão foi pouco ou nada contemplada. O prefeito eleito de Belém usou, na sua campanha, a importância da cidade como sede da COP-30 do clima. O Pará não é hoje um estado que se possa exibir ao mundo como exemplo. Parece que a COP está sendo usada como grande evento turístico, esperando-se que renda dinheiro. No discurso da vitória, o prefeito reeleito de Belo Horizonte mencionou as enchentes que assolam a cidade, mas de passagem. O prefeito reeleito de Porto Alegre deu mais atenção ao assunto, pois ele foi mais grave em todo o estado. Até falou em bacia hidrográfica. Pelo menos, as enchentes, no estado, ensinaram a diferença entre rio e bacia.

E no Norte/Noroeste Fluminense? Por um mapa divulgado pela imprensa, vejo que os grandes vencedores foram o PL, o PP, o União Brasil, o Solidariedade, o Republicanos, o Cidadania, o PSD e o PDT (este em apenas um município). Fora o PL e o PDT, os demais partidos podem ser reunidos num apenas pela questão programática. Campos, o maior município do Rio de Janeiro, embora com baixa densidade demográfica, ficou com o PP. No final, todos se encontram no centro com práticas semelhantes. O PT está se contentando em se reconhecer em alguns deles. O PL parece não estar disposto a defender as bandeiras fundamentalistas da família Bolsonaro.

Nenhum dos prefeitos eleitos parece disposto a levantar a bandeira ambiental, atacando as questões dos rios, do reflorestamento de pontos críticos, da adaptação das cidades às mudanças climáticas etc. Todos devem estar dispostos a reivindicar a instalação de grandes projetos e de aprofundar mais a crise ambiental regional, com repercussões mundiais.
*Professor, historiador, escritor e ambientalista

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