Maestro Ethmar Filho - 'Música nas escolas'
Maestro Ethmar Filho - Atualizado em 26/06/2024 16:14
*Maestro Ethmar Filho
Como discutir a importância da educação, nos dias de hoje, sem criticar o quase desprezo dedicado às disciplinas artísticas em favor de outras matérias mais ligadas ao produtivismo imediato e à filosofia mercadológica neoliberal. Vygotsky, filósofo Bielorrusso, teoriza que a motivação é colocada na discussão a partir da autonomia cognitiva, quando lida com auto avaliações. Sendo assim, trabalhamos a motivação através do ponto de partida interno, da autonomia Organizacional, Cognitiva e prática. Já Piaget, a respeito dessa relação entre a música e a educação, teoriza que: “A música, além de suas próprias atribuições, sociabiliza e sensibiliza o indivíduo, desenvolve o seu poder de concentração e raciocínio, tão importantes em todas as fases de nossas vidas. Auxilia, ainda, na coordenação neuro motora e na parte fonoaudiológica.” Com relação à linguagem musical na conduta infantil, também classifica como: exploração, expressão e construção, referentes ao jogo sensório-motor, ao jogo simbólico e ao jogo com regras, respectivamente.
Teóricos ao redor do mundo afirmam que a música turbina a capacitação de estudantes, com um olhar especial para o aumento do interesse, transformando a escola e o ensino em algo mais atrativo. O professor é parte importante de tudo isso. Nunca é demais destacar que, praticamente, a música leva ao mercado de trabalho especializado, quando oferece aos seus estudantes a possibilidade da criação de grupos orquestrais de diversos formatos. Produção de CDs e de festivais, criação de trilhas sonoras para cinema e musicais, lidando diretamente com a indústria do entretenimento, fazem do conhecimento musical um viés trabalhista interessantíssimo. A aprendizagem pode ser estudada de forma complexa, porque lida com emoções, aspectos cognitivos, culturais e relacionais, orgânicos e psicossociais, resultando no desenvolvimento de novos aprendizados, assim como a capacidade de lidar com novas situações novas situações.
Para Vygotsky o pensamento é gerado pela motivação, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-voluntária. Assim, a compreensão absoluta do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-evolutiva. Vygotsky lembra que a aprendizagem sempre inclui relações entre pessoas. A relação do indivíduo está sempre mediada pelo outro. Não há como aprender e compreender o mundo se não estivermos com o outro, com aquele que nos fornece os significados, que permitem pensar o mundo a nossa volta. A motivação é um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, que predispõe o organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade. Fundamentos teóricos e práticos vêm corroborar com a hipótese do desenvolvimento escolar suplementado pelo ensino da música. A motivação é o quesito que leva o aluno a pensar e consequentemente agir; o pontapé inicial da ação que o orienta na direção dos objetivos e determina quando esses mesmos objetivos começam e quando acabam. O ensino associado à disciplina de música ajuda o aluno a pensar e aprender de maneira mais libertária, ampliada de si mesmo, mantendo uma relação de aprendizado mais humanizada e consciente, fazendo com que o estudante seja mais que um aluno; um indivíduo efetivamente identificado com a sociedade. Ao objetivar seu mundo, o alfabetizando nele reencontra-se com os outros e nos outros, companheiros de seu pequeno “círculo de cultura”.
O ensino musical ensina a lidar com um tema e depois com o improviso melódico, em cima de uma mesma harmonia dada (sucessão de acordes de uma música). Essa prática treina o estudante no sentido de seguir regras básicas (tema), ensinando também a criar caminhos suplementares e complementares (improviso) para resolver problemas que surgem no decorrer do aprendizado, respeitando determinações éticas. A prática de orquestra ensina a trabalhar em equipe. A linguagem, nesse processo, funciona como a principal ferramenta para os parâmetros de crescimento, tal qual o entendimento dos fenômenos vitais que serão vivenciados durante o período de apresentação à sua própria vida, através das pessoas que caminham ao seu lado, sejam presenças constantes ou figurantes passageiros. A linguagem, como acessório social de contato, promove a troca de experiências e informações necessárias ao desenvolvimento evolutivo do ser, direcionado à conquista do próprio potencial.
Lev Vygotsky, que defende a Teoria Histórico-social, destaca que a cultura se integra ao ser através do desenvolvimento da atividade do cérebro, potencializada pela interação entre parceiros sociais, mediada pela linguagem. Os ensinamentos musicais não podem ser impostos ou obrigatórios: nem o ensino da música nem qualquer outra matéria. A arte tem que provocar a curiosidade do aluno. Sendo colocada de forma compulsória, a música acaba por afastar os adolescentes das escolas. Desta forma temos esperança que o ensino da música, como parte da base curricular, tenha uma valorização maior na escola, na medida em que leva o aluno a se envolver com os valores que são mais próprios de uma sociedade que quer propiciar um crescimento mais justo entre as pessoas. A égide oferecida pelo ensino regular de música nas escolas, atingem estudantes cuja faixa etária extrapola esses limites, tanto inferiores quanto superiores.

*Mestre e Doutorando em Cognição e Linguagem pela UENF, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos.

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