Cinema - Um filme icônico
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 13/10/2022 14:03
Descobri recentemente o encanto de um filme péssimo. Não seria bem encanto, mas a percepção da metáfora contida no roteiro. Uma metáfora bastante atual em vários países do mundo. Seu título é “Maníacos” (“The thousand maníacs”), e o diretor é o genial Herschell Gordon Lewis, considerado pai cinema “gore”. Pode ser considerado também um representante do filme “explotation”. Certos críticos consideram o “gore” (ou “aplatter”) e o “explotation” como gêneros ou subgêneros. Nem uma coisa nem outra. Trata-se de filmes com baixo orçamento em que o diretor tem de recorrer a efeitos especiais baratos e exagerados. Mesmo com alto orçamento, o diretor pode querer caricaturizar o filme cometendo excessos que o transformam numa caricatura ou, melhor dizendo, pode-se concluir que “Maníacos” é um filme B de terror por recorrer a fantasmas. Ou quase trata de um drama violento, mas não é nada disso. Fica difícil enquadrá-lo num gênero. Mas seu caráter político é forte e, como já disse, manteve a atualidade. Aliás, focalizar o conservadorismo fanático dos Estados Unidos tem sido atual desde a fundação do país em 1776.
“Maníacos” foi produzido em 1964, um ano antes do centenário da Guerra de Secessão, que foi travada entre norte e sul do país, com vitória do norte. O sul era (é) escravocrata e rural. O norte já era industrializado e progressista nos limites do capitalismo. Foi uma guerra civil das mais sangrentas. O sul saiu arrasado, mas não deixou sua visão reacionária de mundo, ainda vigente.
O filme enfoca os festejos do centenário da Guerra de Secessão numa cidadezinha do sul dos Estados Unidos que conserva ressentimento em relação ao norte. Dois habitantes desviam na estrada dois carros com seis passageiros simulando um problema rodoviário. Eles são muito bem recebidos pelo prefeito e habitantes. Todos riem muito e tratam bem os visitantes do norte. As bandeiras sulistas tremulam. A brincadeira predileta das crianças é enforcar gatos. Os banjos acompanham típicas músicas “countries”. Os habitantes são caipiras.
O tratamento dispensando aos hóspedes levanta suspeitas. Todos riem muito e insinuam estar preparando uma festa de arromba. Se não é de arromba, é de arrombar. Simulando flertar com um visitante, uma moradora opulenta convida o marido de um dos três casais para conhecer a cidade enquanto um homem convida sua mulher. Sozinhos, ele mostra sua faca a ela e corta logo seu polegar simulando um acidente. Leva-a para o hotel onde ela será esquartejada com um machado e usada para churrasco. Seu marido é embebedado e amarrado a quatro cavalos que dilaceram seu corpo. O sangue jorra de forma nada convincente, mas essa é a intenção do diretor, que também cuida da câmara.
Outra mulher é esmagada com uma grande pedra, e seu marido é colocado num barril cheio de pregos, que rola por uma rampa. Um casal consegue fugir mas é perseguido pelos habitantes. Despistando todos, ele chega a uma delegacia e conta a tragédia. São submetidos ao teste do bafômetro. Indo ao local, não encontram mais a cidade. O delegado conta que a cidade existiu mas foi destruída totalmente em 1865 pelos yankees do norte. Resta só uma pedra com o nome dos mortos.
Trata-se de uma cidade fantasma em que seus habitantes ressuscitam para festejar o centenário da guerra, vingando-se do norte. Terror? Não. Metáfora. Os fantasmas continuam rondando os Estados Unidos. Trump e seus seguidores representam a prova mais cabal dessa permanência. No Brasil, Bolsonaro levantou da tumba muitos fantasmas que enforcariam seus adversários se pudessem.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    BLOGS - MAIS LIDAS

    Mais lidas
    Advogado que proferiu ofensas racistas contra juíza é encontrado morto dentro de casa, em Campos

    De acordo com as primeiras informações, José Francisco Barbosa Abud foi encontrado enforcado

    Morre, aos 71 anos, o antropólogo e advogado Alberto Ferreira Freitas

    Velório e sepultamento aconteceram neste domingo (27) na Capela São Benedito, em Goitacazes; familiares e amigos relembram a trajetória de vida de Alberto

    Corpo do advogado José Francisco Abud é sepultado no cemitério do Caju, em Campos

    A necropsia aconteceu na manhã desta terça-feira; de acordo com o laudo prévio do IML, a morte foi por enforcamento

    Prefeitura de Quissamã é condenada a pagar R$ 100 mil por falta de preservação do Complexo de Machadinha

    Decisão é referente à ação do MPRJ para debelar o suposto estado de abandono do patrimônio histórico

    Sindicato dos hospitais alega atrasos de R$ 100 milhões e Prefeitura reafirma que repasse está em dia

    De acordo com o SindhNorte, o atraso dos repasses se acumularia desde 2016; Secretaria de Saúde diz que não há comprovações de dívida da atual gestão