Joel Maciel Soares: Sursum Corda
Joel Maciel Soares - Atualizado em 14/09/2020 18:05
Nos mais longínquos rincões do mundo espraia-se a onda devastadora da crise covidiana. Os países da periferia econômica, com raras exceções, são os mais atingidos. Os do centro também assistem e sofrem, aturdidos, o desenrolar desse gigantesco furacão que assola os dias atuais do mundo contemporâneo, não poupando nem ricos nem pobres.
A rigor, a crise não é um fato novo, apenas apresenta no momento uma nova face e um novo naipe de suas vicissitudes. A História nos apresenta grandes flagelos ao longo de nossa vida coletiva. Alguns analistas afirmam tratar-se de um ciclo nefasto inerente ao próprio desenvolvimento da vida planetária. De fato, no curso de nossa História global, as crises virais têm sido periódicas e inevitáveis, à falta de remédios preventivos.
O século XX assinalou um período de franca universalização, em todos os departamentos da vida humana. A globalização, que os franceses chamam de “mundialização”, é apenas um aspecto do panorama de transformações advindas e radicalizadas em nossa época. Prossegue em nossos dias de pós-modernidade um surto dramático de desconstrução e reconstrução, que para muitos começou mais acintosamente nos anos 60 do século passado, quando as concepções de família, os hábitos e atitudes comportamentais, os preconceitos e os tabus, tendo o rock como música de fundo, sofreram profundas transformações. O século que passou assinalou a presença da bomba atômica, a liberação da sexualidade, a fertilização artificial, a TV em cores, a internet, os transplantes, as viagens interplanetárias, e muitas outras inovações. Tudo isso se concretizou sob a égide de um capitalismo voltado ao culto da prosperidade material.
A História tem mostrado que é no bojo dessas crises que se aguça o índice de desemprego, gerando miséria e fome no seio da sociedade, criando o clima adequado para o surgimento do protecionismo comercial entre os países, que nos leva à xenofobia, ao nacionalismo exacerbado.
Em contrapartida, as dificuldades inerentes ao desenvolvimento da crise nos pedem uma quota maior de solidariedade, em face do angustiante problema das mortes coletivas. Evidentemente, a angústia pela perda de tantas vidas em plena florescência de seus ideais nos conduz a uma profunda reflexão sobre os verdadeiros valores da existência humana. A ciência nos beneficia com socorros imediatos e com a promessa de uma vacina salvadora, mas somente a religião nos ampara no desespero de nossas almas sequiosas.
A liberdade preconizada pelo capitalismo, no seio de uma democracia ainda não praticada por todos, tem sido mal compreendida e utilizada por seus agentes em abusos desumanos e acumulação de riquezas e torpezas. O abismo social entre os que tudo têm e os chamados excluídos é imenso, e não parece ter solução dentro dos padrões comportamentais capitalistas. Pelo menos a curto e médio prazos. Evidentemente, isto é coisa mais do homem que do sistema. O incentivo ao individualismo tem levado o homem a uma exacerbação descontrolada, embora seu aspecto positivo tenha sido realçado pelo grande desenvolvimento econômico promovido no mundo inteiro. As nações mais ricas, ou quase todas, têm sua origem na liberdade e na democracia, fundamentos do capitalismo.
Se, ao final, a crise nos tornar um pouco, pelo menos um pouco, mais solidários, então haverá um lado positivo de valor inestimável. Talvez aí esteja a grande lição que devemos aprender. Se a dor não existisse, então a vida teria que inventar um novo fator de evolução. Ela, e não somente ela, atiça o gênio inventivo da humanidade. É o preço que se paga.
O capitalismo não morrerá. Ele tem na sua essência o sentimento de liberdade econômica, quase sem limites, o que muito agrada ao homem de nossa época, que exorciza veementemente qualquer tipo de censura a seus atos individuais.
A hegemonia ocidental, no campo da economia, já não é tão sólida, e nota-se também que o eixo tecnológico tende a firmar-se cada vez mais no Oriente. Segundo estatísticas recentes, o Ocidente tem importado do Oriente muito mais do que exporta para ele. Até os anos 50, os Estados Unidos produziam mais da metade do que produzia todo o resto da humanidade. A supremacia do Ocidente era absoluta e incontestável. As crises sempre trazem uma nova realidade em todos os campos da atividade humana.
Certamente, após esses momentos dolorosos, despertaremos para uma nova realidade. Devemos esperar que o mundo encontre o caminho de um novo entendimento e o rumo para um novo período de prosperidade e, sobretudo, de convivência pacífica. Sursum corda.

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